Constituição do Comité Europeu de Ligação das Forças de Resistência contra a guerra militar – contra a guerra social

Reunião da União Europeia com a Ucrânia na presença do presidente Volodymyr Zelensky, em Kiev, a 2 de Outubro.

A 30 de setembro, militantes de dezasseis países (Alemanha, Portugal, França, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Grécia, Irlanda, Itália, Áustria, Bélgica, Noruega, Roménia, Sérvia, Suécia e Suíça) realizaram, por videoconferência, a primeira sessão do Comité de Ligação Europeu contra a guerra, na sequência de uma conferência em 8 de Julho organizada por militantes, deputados e sindicalistas alemães de várias organizações.

Após a introdução (ver abaixo) os militantes sublinharam a importância de se reunirem desta forma para dar conta da sua luta contra a guerra e discutiram perspectivas futuras.

INTRODUÇÃO (EXTRACTOS)

Por Gotthard Krupp, sindicalista alemão, membro do Comité editorial da SoPoDe («Soziale Politik und Demokratie», revista animada por militantes da Secção alemã da 4ª Internacional)

“Temos de evitar que centenas de milhares de outros jovens, operários e camponeses sejam mortos”.

Tenho o prazer de estar a receber lutadores pela paz, de 16 países europeus, que aceitaram o convite para formar um Comité de Ligação Europeu “contra a guerra militar – contra a guerra social”.

Gostaria de vos recordar as nossas reivindicações comuns, em torno das quais nos unimos na Conferência Europeia de 8 de julho:

– Pelo cessar-fogo imediato e negociações!

– Não ao envio de armas!

– Não aos orçamentos para o armamento e a guerra!

– Levantamento das sanções!

– Nem NATO nem Putin!

– “Não à guerra militar – Não à guerra social”!

– Não aos orçamentos de guerra de várias centenas de biliões! Esses biliões devem ser canalizados para hospitais, escolas, autarquias locais…

– Para a defesa dos salários reais (aumentados de acordo com a inflação)!

– Congelamento geral dos preços!

A exigência de um “cessar-fogo imediato e incondicional” é importante. 500.000 mortos e soldados russos e ucranianos gravemente feridos. É preciso pôr fim imediatamente a este massacre bárbaro.

Temos de evitar que centenas de milhares de outros jovens, trabalhadores e camponeses da Ucrânia e da Rússia sejam mortos. Esta guerra não é deles! Cada vez mais soldados ucranianos e russos estão a desertar e a fugir do seu país, e nós compreendemo-los.

O Secretário-Geral da NATO, Stoltenberg, repete: “Temos de nos preparar para uma longa guerra na Ucrânia” e declara aos países da NATO – em sintonia com os EUA – que a guerra deve ser travada até que a Rússia seja derrotada.

Os EUA fornecem mísseis Atacms e a Alemanha está prestes a ultrapassar a linha vermelha ao enviar mísseis de cruzeiro Taurus para a Ucrânia.

As armas de guerra, no valor de milhares de milhões, são financiadas por uma política de austeridade drástica contra os hospitais, as escolas e todos os outros serviços públicos e infra-estruturas sociais. E isto numa altura em que a pobreza e a miséria social estão a alastrar em todos os países da Europa.

Com a sua política de sanções contra a Rússia, os EUA estão a alimentar a guerra económica contra os países europeus: desindustrialização, destruição massiva de empregos, como estamos a ver na Alemanha, por exemplo, na indústria automóvel e na indústria química.

Isto também está a levar a conflitos e confrontos entre países da NATO. Como no caso da  decisão do Governo polaco de limitar o fornecimento de armas à Ucrânia, no âmbito da “guerra dos cereais”.

Nos EUA, a burguesia norte-americana está a passar por uma crise profunda e a mostrar divisões. Apesar das intervenções de Biden e de Zelensky na ONU, a Índia, a África do Sul e o Brasil, entre outros, não alteraram a sua posição e não estão a participar na campanha global contra a Rússia.

Agora estamos num momento de lutas defensivas das populações, das classes trabalhadoras e da juventude, contra os governos que desencadeiam a guerra militar e a guerra social.

Na Conferência europeia de 8 de Julho, foi possível estabelecer as primeiras ligações entre as forças de resistência contra a guerra.

Na luta contra a guerra e o fornecimento de armas, nós confrontamo-nos, nas nossas organizações e nos partidos que dizem ser do movimento operário – mas também e sobretudo nos sindicatos – a partes das direcções que se submetem às exigências dos governos.

Fui delegado ao Congresso federal do Ver.di, o segundo maior sindicato da Alemanha. O Congresso foi determinado pela vontade de 10.000 camaradas do sindicato de rejeitar a tentativa do Comité director de unir o sindicato Ver.di como uma força única de apoio à política de guerra do Governo.

Embora o Comité director tenha conseguido ter a maioria na votação final, um terço dos delegados votaram a favor de um cessar-fogo, da suspensão do fornecimento de armas, contra a política de sanções e o armamento para a guerra. A partir de agora, a luta contra a guerra não pode continuar a ser abafada no seio do sindicato. E isso dá-nos coragem!

Mobilizações contra a guerra, organizadas no mesmo dia em todos os países, poderiam permitir-nos exprimir – de uma forma mais visível – a força e a determinação da luta e consolidar a confiança no poderio da resistência à guerra. Mesmo que, nalguns países, as forças ainda sejam limitadas ou estejam apenas a começar a unir-se.

Três propostas para debate

1. Na Alemanha, uma grande manifestação irá ter lugar, no próximo dia 25 de Novembro – por ocasião da adopção do Orçamento de guerra pelo Parlamento. Sahra Wagenknecht será uma das oradoras. Ela foi a primeira deputada a levantar a voz no Bundestag, em Setembro passado, contra a política de guerra e de destruição social do governo de Scholz.

Entretanto, os governos da maioria dos países da NATO na Europa vão pôr os orçamentos à votação nos seus parlamentos, isto é, os orçamentos de guerra para 2024.

Será que podemos aproveitar esta situação para organizar, por exemplo, acções ou assembleias contra a adopção desses orçamentos de guerra?

2. O dia 24 de Fevereiro assinala o segundo aniversário do início da guerra. Não seria este aniversário uma oportunidade para mobilizar as forças de resistência à guerra, em todos os países em que estamos representados, através de um apelo conjunto do Comité de Ligação Europeu para manifestações/reuniões no dia (ou em relação a esse dia)?

Temos em conta que a definição exacta de acção a desenvolver é deixada à decisão dos camaradas do Comité de Ligação Europeu no respectivo país.

3. Uma tarefa específica seria a de preparar uma Conferência europeia (presencial) “contra a guerra militar – contra a guerra social”, em Berlim, em Março de 2024 – tal como foi decidido na Conferência Europeia de 8 de Julho.

Deveríamos considerar a possibilidade de convidar, sempre que possível, representantes de outros países a participarem em manifestações ou comícios que sejam realizadas num dado país.

Estas são as primeiras propostas. A discussão está totalmente aberta.

E finalmente: a Comissão de coordenação alemã será responsável pela divulgação das decisões tomadas hoje, para informar todos os militantes empenhados na luta contra a guerra militar – contra a guerra social.

Num próximo post divulgaremos algumas das intervenções e as conclusões da Conferência.

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