
Mati, próximo de Atenas, a 24 de Julho de 2018: dezenas de mortos e uma paisagem de desolação. Lá como cá… as mesmas causas produzem os mesmo efeitos!
Uma nova tragédia abateu-se sobre a Grécia na semana passada. A população e os veraneantes da pequena cidade balnear de Mati, próxima de Rafina, no nordeste de Atenas, pagaram caro os graves incêndios que aconteceram na noite de 23 de 24 Julho, atiçados por ventos violentos, sobre fundo de austeridade e de cortes orçamentais nos serviços públicos e, nomeadamente, nos serviços de combate aos fogos. A 28 de Julho, o número de pessoas que tinham perdido a vida ascendia já a 88.
Perto de 200 feridos, alguns gravemente queimados, estavam internados em hospitais laminados pela crise. Em Mati, 2000 casas das 4000 do aldeamento ficaram totalmente destruídas.
Os sobreviventes e a população exprimiram a sua cólera perante a ausência de informação e de ordem de evacuação do local.
Desde 2007 – ano em que 77 pessoas morreram em incêndios nas ilhas do Peloponeso e de Eubéia – as medidas de prevenção anti-incêndio prometidas pelas autoridades nunca foram tomadas.
À falta de infraestruturas para a protecção das populações e das florestas, junta-se a falta de meios e de bombeiros. O ministre de Interior, Panos Skourletis, reconheceu na semana passada que “é necessária a compra de novos aviões ou helicópteros. Desde o ano 2000, nem um único parafuso foi substituído”. Dos poucos “canadairs” que a Grécia possui, só alguns puderam ser mobilizados, pois os restantes não estavam em condições de voar. A obsolescência do material no solo está também avançada. Muitos terminais de fornecimento de água estavam inutilizáveis, por falta de manutenção.
A crise, a União Europeia e o FMI passaram por lá. No decurso dos cortes orçamentais impostos à Grécia desde 2010, para reembolsar uma dívida que apenas se autoalimentou, o Orçamento para os bombeiros passou de 452 milhões de euros, em 2009, para 354 milhões, em 2017. Uma diminuição de 22%, num país onde os riscos de incêndio estão presentes em todo o lado.
O número de bombeiros também baixou, passando de cerca de 18600, em 2008, para 15600, em 2015. Bombeiros que, já em 2012, se manifestavam contra as medidas de austeridade impostas pelo Governo.
Desde o início dos incêndios, o governo do Syriza tentou minimizar a sua responsabilidade, focalizando a atenção da opinião pública sobre um possível acto criminoso e na anarquia das construções nas zonas em risco. Mati era uma zona que até agora tinha escapado às chamas. A 27 de Julho – perante a cólera da população e as polémicas sobre a origem do drama – o Primeiro-ministro, Alexis Tsipras, declarou que assumia “a responsabilidade política da tragédia”. O que, segundo ele, “é óbvio para o Primeiro-ministro e o Governo do país”… “Actualmente, tomamos consciência – de uma maneira dolorosa – que governamos um país dominado por irregularidades”, acrescentou, esquecendo que, em Julho de 2015, tinha traído o mandato do seu povo, o qual se tinha pronunciado claramente pelo “não” a um novo Memorando, programa de novos cortes e liberalizações, estabelecido com a Comissão Europeia e o FMI.
Este terceiro programa – de que o Eurogrupo anunciou o fim a 22 de Junho, predizendo que com ele a Grécia sairia da crise – continua a causar enormes sofrimentos numa população em que 35 % dos seus membros vive abaixo do limiar de pobreza. Um país com uma taxa de desemprego real de mais de 30 %, salários de 500 euros e pensões de aposentação que não param de diminuir. São estas pensões que permitem a sobrevivência de metade das famílias gregas. Aliás, a propalada “saída da crise”, assinada no Eurogrupo, prevê novos cortes nas pensões (em 2019 e 2020), novas subidas de impostos, novas privatizações (em particular da electricidade) e uma “vigilância reforçada” por parte dos credores – sinónimo de colocação do país sob tutela.
As consequências das medidas do capital impostas à Grécia – além dos incêndios mortíferos, da pobreza e de um Sistema sanitário desmantelado – fizeram recuar o PIB (Produto Interno Bruto) por pessoa ao nível em que estava antes da entrada do país no euro, em 2001. Só as despesas militares escapam aos cortes. A título de exemplo, o Orçamento da Grécia para a NATO é doze vezes mais elevado que o dos bombeiros…
(1) Este artigo, da autoria de um seu correspondente na Grécia, foi transcrito de Informations ouvrières – Informações operárias, o semanário do Partido Operário Independente, de França – edição nº 514, de 1 de Agosto de 2018.