
Pelo Estreito de Ormuz passa mais de 30% do comércio mundial de petróleo.
A saída dos EUA do Acordo com o Irão sobre a energia nuclear é uma das medidas centrais da Administração americana de Trump, em matéria de política internacional.
Foi-lhe necessário mais de um ano para que ficassem reunidas as condições políticas para esta retirada; mas, no passado dia 8 de Maio, foi feito o seu anúncio oficial. E, a 6 de Agosto, foram reactivadas as sanções económicas contra o Irão.
É claro que a primeira a ser atingida por estas medidas é a população iraniana, confrontada com o afundamento do valor do rial (a moeda do Irão) e com a explosão da inflação no seguimento destas sanções.
O jornal financeiro francês Les Échos, de 1 de Agosto, relata: “Inflação ilustrada pela multiplicação por 2,5 do preço do quilo de carne, entre Maio e Julho… A inflação alimenta um descontentamento geral que já tinha provocado, no final de Dezembro, manifestações sem precedentes desde 2009, em dezenas de cidades. As manifestações recomeçaram no final de Junho, devido ao fecho do grande bazar de Teerão. Retomando as movimentações que tinham durado várias semanas em Maio, os camionistas também estão em greve desde há uma semana, numa grande parte do país.” Pelo seu lado, o jornal Le Monde noticia, a 5 de Agosto, que manifestações importantes têm lugar em todo o país.
Mas, se esta retirada desestabiliza a situação interna iraniana, as suas consequências são mundiais.
É assim que este mesmo jornal Le Monde já tinha sublinhado, a 1 de Agosto, as consequências económicas que esta decisão poderá ter nos próximos meses: “As sanções petrolíferas devem ser aplicadas a partir de 4 de Novembro e muitos temem
que a queda do comércio seja brutal. O Irão exporta 2,4 milhões de barris de petróleo por dia, e poderá deixar de exportar entre 800 mil e 1,2 milhões muito rapidamente. Isso terá forçosamente consequências sobre um mercado já tenso e deverá provocar uma subida dos preços. A esta diminuição do número de barris no mercado junta-se o desafio do Estreito de Ormuz. «Se as exportações iranianas forem bloqueadas, então nenhum outro país desta região poderá exportar petróleo», ameaçou o Guia supremo, Ali Khamenei, numa alusão clara a essa passagem estratégica. Apesar de ter uma largura de apenas 40 quilómetros, o Estreito tem uma importância decisiva: por ele passa mais de 30% do comércio mundial de petróleo.”
A retirada dos EUA em relação ao Acordo com o Irão e as correspondentes sanções são também uma arma contra a indústria europeia, cujas empresas são ameaçadas pela proibição de exportarem para os EUA se continuarem a efectuar comércio com o Irão. Também estas sanções poderão começar a ser aplicadas a partir de 6 Agosto, nomeadamente em relação ao comércio de peças de automóveis, e a partir de 4 de Agosto em relação ao petróleo. Na primeira linha das empresas ameaçadas estão os construtores de automóveis europeus, que se aproveitaram do Acordo para deslocalizar uma parte da sua produção para o Irão.
Esta decisão de Trump faz parte da sua estratégia de guerra económica para permitir que as empresas dos EUA beneficiem plenamente da posição dominante, política e militar, dos EUA. Mas ela constitui um factor de desestabilização do conjunto da economia mundial, e ninguém é capaz de prever as suas consequências a médio prazo.
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(1) Esta nota, da autoria de Devan Sohier, foi traduzida de Informations ouvrières – Informações operárias, o semanário do Partido Operário Independente, de França – edição nº 515, de 9 de Agosto de 2018.