
No dia 21 de Janeiro, realizou-se – na base militar norte-americana de Ramstein (que não é uma base da NATO, mas sim a última base militar dos EUA em território alemão) – um Encontro dos ministros da Defesa europeus e americanos.
As coisas eram claras: na parede estavam penduradas a bandeira norte-americana e a bandeira ucraniana, nem mais uma.
O primeiro dia foi dedicado à ajuda à Ucrânia. Toda uma série de ajudas financeiras e entregas de armas foram anunciadas, mas a discussão concentrou-se sobre a Alemanha para exigir que este país entregasse tanques Leopard-2 à Ucrânia.
Até então, o Governo alemão e a sua maioria, por muito dividida que esteja, não tinham aceite essa entrega.
O primeiro-ministro polaco fez um ataque violento contra a Alemanha. Ele disse que a Polónia – que tem tanques Leopard-2 alemães – estaria disponível para entregá-los à Ucrânia, mas que isto exigia o acordo da Alemanha.
Um oficial dos EUA defendeu a Alemanha, dizendo que era uma velha aliada dos EUA, fiável e leal (em seguida, o Governo alemão indicou que não se oporia à Polónia sobre as suas entregas à Ucrânia).
O Chefe do Estado-Maior dos EUA declarou que a guerra não terminaria antes de 2024. Trata-se de um longo conflito que deve ser usado, pelos EUA, como um aguilhão sobre a Rússia.
Como disse um comentador especialista em política norte-americana, num canal de notícias da França, os EUA estão a armar a Ucrânia para resistir à Rússia, mas com um certo equilíbrio. Ele afirmou que o receio da Administração dos EUA era que o regime de Putin colapsasse, abrindo caminho a aventuras e conflitos do tipo dos que aconteceram aquando do desaparecimento da ex-Jugoslávia.
Uma tal situação na Federação Russa teria repercussões em todos os países europeus, na Ásia Central, na China, nos EUA e no resto do mundo.
O segundo ponto da ordem de trabalhos foi a questão do armamento e dos orçamentos militares. Continua a pressão dos EUA sobre todos os países da NATO para que estes aumentem massivamente os seus orçamentos militares. É sabido que a Alemanha já anunciou um aumento considerável nas suas despesas militares.
E, a 20 de Janeiro, Emmanuel Macron revelou a próxima Lei de Programação militar para a França, que cobrirá o período entre 2024 e 2030, um orçamento “histórico” de 413 mil milhões de euros (um aumento de 30% em relação à anterior Lei de Programação).
Nessa ocasião ele declarou: “Devemos estar uma guerra à frente, perspectivando as consequências que a nossa era tem em gestação”.
Utilizando a guerra na Ucrânia, os orçamentos militares estão a aumentar em flecha, enquanto continuam os cortes na Educação, nos hospitais e nas pensões de aposentação.
Crónica da autoria de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 741, de 25 de Janeiro de 2023, do Partido Operário Independente de França.
DECLARAÇÕES DE DUAS DEPUTADAS DO DIE LINK (A Esquerda)
Após o Encontro de Ramstein, a própria Alemanha comprometeu-se a também enviar directamente para a Ucrânia alguns tanques Leopard-2.
Transcrevemos, em seguida, as declarações que duas deputadas do partido Die Link (A Esquerda) tomaram em relação à política de guerra e a essa nova posição do Governo alemão.
Note-se que – contrariamente à posição de 23 deputados do Die Link – a maioria da Direcção e do Grupo parlamentar deste Partido tem apoiado a política do Governo de coligação, nomeadamente em relação à subida de 100 mil milhões de euros do Orçamento para a Defesa.
Sahra Wagenknecht
(membro da Direcção do Die Link e deputada no Parlamento)
Quando é que o Governo tricolor (1) vai finalmente compreender que, ao travar uma guerra económica contra a Rússia, estamos apenas a dar um tiro no pé? O Kreditanstalt für Wiederaufbau (Instituto de Crédito para a Reconstrução) alerta para uma “mudança de época” em relação à prosperidade alemã, e o Institut der Deutschen Wirtschaft (Instituto da Economia Alemã) prevê perdas económicas de 175 mil milhões de euros este ano, o que corresponde a uma perda directa de prosperidade de 2 mil euros por habitante. Isto apesar do facto de já termos perdido uma massa enorme de riqueza nos dois anos da pandemia de Coronavírus. Por outro lado, a expectativa de que a economia russa entraria rapidamente em colapso, em resultado das sanções, provou ser totalmente ingénua. A terrível guerra na Ucrânia não tem vencedores, apenas perdedores – excepto para algumas empresas de fabrico de armas, de alimentos e de petróleo, cujos lucros recorde pagamos caro por cada factura de gás e cada compra no supermercado. Em vez de fazer política para uns poucos especuladores de guerra estabelecendo sanções inúteis, o Governo tricolor deveria finalmente pressionar no sentido de haver negociações de paz e, em simultâneo, negociar com a Rússia para uma retoma das entregas de matérias-primas.
23/1/2023
Zaklin Nastic
(deputada no Parlamento)
Luz verde para a entrega de tanques Leopard-2: esta luz verde é uma ameaça à paz mundial. Diplomacia em vez de tanques de combate!
Os belicistas na Alemanha, tanto no Governo como na oposição, têm vindo a gritar cada vez mais alto – durante meses – para obter mais armas. Os tanques de combate Leopard 2 são agora, supostamente, a nova arma que finalmente trará a paz. Marie-Agnes Strack-Zimmermann (2), em particular, leva o seu papel de senhora da guerra muito a sério e ataca os seus próprios colegas de coligação em todas as oportunidades. Mesmo na situação mais perigosa da guerra até agora, quando a defesa aérea ucraniana atingiu a Polónia, a senhora Strack-Zimmermann aproveitou a oportunidade para fazer subir a escalada contra a Rússia. O possível risco de um confronto nuclear entre a NATO e a Rússia não lhe parecia importante. Agora, que o SPD e o chanceler Scholz cederam, os lobistas do armamento, os secretários da NATO e a indústria de armamento podem abrir as garrafas de champanhe. Os guarda-fogos caíram no seio do SPD, embora esse Partido tenha salientado, recentemente, que sobre um assunto tão importante como a guerra e a paz, as discussões e decisões não devem ser feitas com base em declarações apressadas.
A situação é extremamente grave e há bastante tempo que o risco de uma guerra nuclear – que poderia levar à extinção de toda a espécie humana – não tem sido tão grande como agora. A lógica militar – que consiste em fingir fazer algo pela paz, aumentando o número de armas – tem feito derrapar continuamente esta guerra e colocado a Alemanha numa situação extremamente perigosa, porque somos os primeiros a ser afectados se esta guerra se propagar. Haver cada vez mais envios de armas e treino de tropas em solo alemão fazem da Alemanha uma parte cada vez mais beligerante, o que também é confirmado por um estudo que encomendei aos serviços científicos do Bundestag (Parlamento). Toda a Europa está, assim, exposta a um perigo totalmente incontrolável. É necessária uma ofensiva diplomática imediata para pôr fim a esta guerra!
24/1/2023
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(1) Na Alemanha existe, actualmente, um Governo de coligação com 3 partidos: o SPD (Partido Social-Democrata, maioritário), os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FPD).
(2) É a ministra da Defesa da coligação governamental, pertencente ao FPD.