O factor de ordem da actual situação é a mobilização dos trabalhadores

O que todas as camadas da população trabalhadora têm sentido, ao longo desta governação, procurando resistir através de fortes mobilizações, são as consequências da austeridade nas suas condições de vida e nos serviços públicos, pondo em causa as conquistas do 25 de Abril, apesar deste Governo ter tomado medidas consideradas positivas – lembremos, por exemplo, as creches gratuitas ou a redução do preço dos passes sociais.

A matriz do Governo foi sempre as “contas certas”, no respeito absoluto pelas regras de jogo impostas pelo grande capital. Deste modo, ficaram intocáveis a subida dos lucros das grandes empresas, aproveitando-se da inflação, a subida dos lucros dos bancos ou dos especuladores imobiliários.

Muitos militantes e trabalhadores questionavam-se perante a contradição: “Como é possível que um Governoassente numa maioria absoluta de deputados eleitos pelo PStenha uma política ao avesso do caminho de Abril?”

Perante as mobilizações num crescendo, de todas as camadas da população trabalhadora, para resolver esta contradição, procurando impor no seu movimento uma mudança de política, o Presidente República fez uma jogada de antecipação: decidiu dissolver a AR, transformar o governo de PS em “governo de gestão”, mas impondo primeiro a aprovação da sua proposta de Orçamento do Estado. Um Orçamento que afirmou “ser equilibrado”, do seu ponto de vista, e que a Direita aceitou, apesar dos deputados do PCP e do Bloco de Esquerda, bem como a Direcção da CGTP, o terem qualificado como um Orçamento que não responde aos problemas da maioria do povo nem às necessidades do país.

Procurando arredar os trabalhadores da cena política, o Presidente da República quer centrar a atenção destes no jogo eleitoral, que pensa poder ser favorável aos partidos da Direita.

Estes, pelo seu lado, exploram as consequências da política do governo do PS, para procurarem aparecer – em conjunto com o Presidente da República – como os salvadores do povo e do país.

Entre eles há mesmo aqueles que não hesitam em chafurdar na lama resultante das acusações e mesmo detenções feitas por elementos de um opaco Ministério Público, presidido pela Procuradoria-Geral da República, para tirarem como conclusão que “o PS não merece qualquer confiança” e que “é preciso acabar com o socialismo”.

As jogadas foram feitas no sentido de ser constituído um Governo com maior capacidade para levar a cabo as políticas de destruição dos direitos do povo, no quadro da crise económica e social que se aprofunda em todos os países do mundo.

Mas as classes trabalhadoras continuam a ter intacta a sua capacidade de mobilização – em unidade com as organizações sindicais que as representam – para defender os salários, as pensões de aposentação, a habitação, as funções sociais do Estado (do Serviço Nacional de Saúde à Escola Pública democrática e de qualidade para todos), bem como a paz e as liberdades democráticas, numa palavra o 25 de Abril.

Tal mobilização constitui o único factor de ordem democrática, em Portugal e nos outros países da Europa, o único caminho que pode pôr fim à guerra militar e social e começar a resolver positivamente os problemas do nosso país, em cooperação com os outros povos da Europa e do resto do mundo.

Apesar dos atropelos e dos golpes antidemocráticos, a sua força social é o factor determinante da situação política.

Os militantes que lutam diariamente em conjunto com os trabalhadores têm bem consciência disso.

Pela nossa parte, enquanto membros da Secção portuguesa da 4ª Internacional, lutaremos lado a lado com eles, trilhando os caminhos da Revolução de Abril que continua viva.

A Comissão de redacção

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