A NATO, ontem e agora (Parte 2)

Aumentar as despesas militares

Após a última Cimeira em Madrid, realizada a Junho de 2022, a NATO declarou que queria aumentar as suas capacidades humanas para 300 mil soldados com um elevado nível de prontidão, visando a Rússia, a Bielorrússia… e a China.

Os países europeus servem de pontas-de-lança dos interesses dos EUA. Entre os seus objectivos, estão os dois pivôts da implantação da NATO na Europa que são as bases permanentes na Polónia e na Roménia. A provável adesão da Finlândia e da Suécia só irá aumentar as tensões crescentes.

Se o centro continua a ser a Europa, como continente, na última Cimeira da NATO, “a Austrália, o Japão, a Nova Zelândia e a República da Coreia foram convidadas, pela primeira vez, para uma

Cimeira da NATO, com vista a reforçar a cooperação e para discutir os desafios globais” (Comunicado de imprensa da NATO, de 28 de Junho de 2022). O controlo dos EUA sobre os recursos, sobre os governos às suas ordens e sobre os pontos estratégicos a nível mundial, deve ser feito através da NATO. É pela via da NATO que os norte-americanos subcontratam as suas guerras.

Aliás, em Madrid, o conselheiro para a segurança Jake Sullivan disse que os EUA iriam fazer “anúncios específicos” sobre “novos compromissos em terra, no mar e no ar – a longo termo – na Europa”.

“No final da Cimeira, haverá um dispositivo mais robusto, mais eficaz, mais credível (…) para ter em conta uma ameaça russa mais aguda e grave, não só por causa do que ela fez na Ucrânia, mas também devido à forma como mudou a sua posição em relação à Bielorrússia.”

Actualmente, a NATO está a intensificar as despesas militares, defendendo “um compromisso forte à ordem internacional” contra os povos. Na 70ª Cimeira da NATO em Londres (realizada em Dezembro de 2019), “Trump também atacou os «caloteiros» da NATO. Com efeito, o Presidente dos EUA está a tentar exercer pressão sobre os Aliados para cumprirem o compromisso de gastarem 2% do seu PIB no seu orçamento para a Defesa em 2024.” (BFMTV)

“ECONOMIA DE GUERRA”

Se este objectivo de 2% do PIB para a Defesa se baseia unicamente no desiderato dos EUA, é porque estes permanecem na “pole position” (posição cimeira) das vendas de equipamento militar. Entre 2012 e 2019, a quota média das despesas militares em percentagem do PIB dos países europeus da NATO permaneceu globalmente estável em cerca de 1,6%. Este ano, a França irá gastar 1,84% do seu PIB com a Defesa e anunciou que deverá gastar o equivalente a 2% até 2025. Na abertura do Salão de armamento terrestre Euro-Satory 22, que teve lugar a 13 de Junho, como bom aluno das directivas do imperialismo norte-americano, Emmanuel Macron falou de um “novo planeamento” e um “planeamento a longo prazo, claro e forte”, a fim de podermos “consolidar o nosso modelo militar completo, mas também de nos posicionarmos, ainda mais fortemente, ao mesmo tempo sobre a evolução da ameaça e as realidades que estamos a viver”.

Ele também já tinha sublinhado a necessidade de implementar uma “economia de guerra”.

Seguindo as ordens do imperialismo norte-americano, o governo de Macron está a preparar as mentes e as tropas para a guerra.

O ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, anunciou um aumento de 3 mil milhões de euros para a Defesa. “Não basta fazer encomendas, se depois elas não forem fornecidas ou entregues. Em termos de esforço militar real, isso não pode funcionar”, assinalou ele, levantando a questão de “uma indústria resiliente se, infelizmente, tivermos que entrar em guerra”.

Na Bélgica, acaba de ser estabelecido um acordo federal para alcançar os 2%. O Reino Unido tem como objectivo alcançar 2,5% até 2030. Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz anunciou, em 28 de Junho, “certamente a maior contribuição” para a Aliança Atlântica com o estabelecimento do “maior Exército convencional na Europa dentro do âmbito da NATO (que) está a ser está a ser construído, e isto é importante para a capacidade de defesa da NATO como um todo (…).

Vamos gastar, em média, entre 70 a 80 mil milhões de euros por ano na Defesa.”

Eles estão a liquidar serviços públicos, empobrecem as populações e propõem-nos a barbárie como solução.

Segunda parte da crónica da autoria de David Gozlan, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 718, de 10 de Agosto de 2022, do Partido Operário Independente de França.

“Biden a manobrar para cerrar mais as fileiras do Ocidente”

Participantes na Cimeira da NATO.

A partir de 24 de Março, realizar-se-á uma Cimeira da NATO, na qual Biden participará pessoalmente. A isto seguir-se-á o G7, no qual Biden também estará presente, e finalmente uma Cimeira da União Europeia, para a qual Biden foi “convidado”.

As coisas são claras: Biden, aproveitando-se da guerra na Ucrânia, está a tentar reorganizar a ordem mundial sob o seu controlo, após a retirada dos EUA do Afeganistão.

O mito de uma União Europeia unida e de uma defesa europeia há muito que desapareceu. A defesa europeia é a NATO, liderada pelos EUA. E a União Europeia está enquadrada pela NATO e pelas exigências norte-americanas. Mas essa estratégia não está limitada à Europa.

Através das sanções adoptadas contra a Rússia, é também a China que é directamente visada.

Como está escrito num despacho da Agência France Press (AFP): “O presidente norte-americano tinha feito, no início do seu mandato, duas promessas em matéria de política externa: reparar as alianças danificadas pelo seu antecessor, Donald Trump, e concentrar-se mais na rivalidade com a China.

A guerra na Ucrânia tem permitido, até agora, que o anfitrião da Casa Branca se concentre na sua primeira prioridade: o Ocidente impôs sanções económicas sem precedentes contra a Rússia, ao mesmo tempo que alguns países fizeram dramáticas inversões estratégicas.

Quanto à «viragem para a Ásia», Joe Biden é actualmente obrigado a virar-se mais para a Europa – esta é a terceira vez que ele cá vem desde a sua tomada de posse. Mas a ofensiva do presidente russo, Vladimir Putin, poderia agir como um revelador do equilíbrio de poder entre Washington e Pequim.

Os norte-americanos estão preocupados, publicamente, com um possível apoio militar e económico da China à Rússia. Joe Biden ameaçou com represálias o seu homólogo, Xi Jinping, numa videochamada, se ele agisse nesse sentido.

O presidente dos EUA aposta que as sanções contra a Rússia farão reflectir a China, a segunda maior economia do mundo, cujos dirigentes, longe de condenarem a invasão da Ucrânia, se recusar mesmo a falar de uma «guerra».”

Claramente, uma nova situação mundial está em vias de abrir-se.

Crónica de Lucien GAUTHIER publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 698, de 23 de Março de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Sanções contra a Rússia: A primeira vítima é o povo russo

Vários milhares de pessoas concentradas em São Petersburgo, a 25 de Fevereiro contra os bombardeamentos: “Não à guerra”; “Eles são nossos irmãos”.

As sanções económicas contra a Rússia foram instituídas, a partir de 2014, pelos EUA e pela União Europeia, bem como por outros países ou instituições “ocidentais”.

Essas sanções internacionais foram impostas durante a intervenção militar da Rússia na Ucrânia – que começou no final de Fevereiro de 2014 – e foram agora reforçadas, após a nova intervenção russa na Ucrânia.

Os argumentos avançados para a imposição dessas sanções são de vária ordem. Em França, por exemplo, o ministro da Economia do governo de Macron, Bruno Le Maire, disse numa entrevista, a 1 de Março: “Vamos provocar o colapso da economia russa. Vamos fazer uma guerra económica e financeira total contra a Rússia.” Mas, à pergunta do jornalista sobre o impacto destas medidas na população, Le Maire limitou-se a responder: “Não podemos fazer outra coisa.” Por outro lado, o jornal Le Monde, de 1 de Março, declarou que “a Rússia tornou-se num pária económico mundial”. A moeda russa (o rublo) está a entrar em colapso, enquanto a inflação está a atingir níveis históricos. Entre a população, é um salve-se quem puder.

O que os órgãos da Comunicação social em geral – e, nomeadamente, em Portugal – minimizam ou até ignoram é a oposição à guerra que está a exprimir-se nas ruas, apesar da repressão feroz, na própria Rússia. Em quatro dias, quase 5.700 manifestantes foram presos em concentrações ou acções de todos os tipos contra a guerra na Ucrânia, nas principais cidades do país. Em Moscovo e em São Petersburgo, foram registadas 213 e 159 detenções, respectivamente, a 26 de Fevereiro. Em Rostov-on-Don, uma cidade perto da fronteira com a Ucrânia, uma mulher jovem – empunhando um cartaz branco – foi condenada a oito dias de prisão, pelas forças repressivas de Putin, por “desobedecer à Polícia”.

O povo russo quer a paz, apesar das ameaças e das acusações vindas de todos os lados.

Em poucos dias, uma petição contra a guerra já tinha, a 28 de Fevereiro, a assinatura de mais de um milhão de Russos.

A 25 de Fevereiro, mais de 600 cientistas russos tornaram pública um Apelo contra a guerra e a intervenção russa na Ucrânia (ver abaixo). Por ocasião de um jogo de futebol do Dínamo de Moscovo, na Primeira Liga russa, os adeptos do clube entoaram, para as câmaras de TV, o nome do seu treinador assistente – ucraniano – o qual tinha sido impedido de entrar no estádio, devido à sua nacionalidade.

Os governos fautores da guerra procuram colocar os povos uns contra os outros, justificando as sanções com a guerra. Mas, é um facto que a primeira vítima das sanções contra a “Rússia” é o povo russo.

Apelo de 600 cientistas russos contra a guerra

“A guerra com a Ucrânia é um passo em direcção ao vazio (…). Uma guerra contra ela é injusta e francamente desnecessária.

A Ucrânia era e é um país próximo de nós. Muitos de nós temos familiares, amigos e colegas na Ucrânia. Os nossos pais, avôs e bisavôs lutaram juntos contra o Nazismo. O desencadear da guerra, para satisfazer as ambições geopolíticas dos dirigentes russos, impulsionadas por fantasmas históricos duvidosos, é uma traição cínica à sua memória.”

Um dos iniciadores deste Apelo, Georgy Kurakin, declarou:

“Penso que é perigoso para qualquer um dizer, na Rússia, «sou contra a guerra». Mas este é o momento em que precisamos de o dizer. Isto é o mínimo que podemos fazer. E precisamos de o fazer (…).

Gostaria de dizer a todos os Ucranianos: «Não apoio nenhuma guerra. Não preciso de guerra. Quero a paz. E não sou vosso inimigo. Sou vosso amigo».”

Texto adaptado de uma crónica de Vincent Visseq, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 695, de 2 de Março de 2022, do Partido Operário Independente de França.