
Os meios de comunicação social têm vindo a noticiar nos últimos dias, continuamente, a contra-ofensiva iminente de Zelensky, apoiada ou copilotada pela NATO.
Toda a gente é convidada a tornar-se num especialista militar, a conhecer todos os pormenores das estratégias, as armas utilizadas,… Será que devemos esquecer as vítimas civis e militares, centenas de milhares em ambos os lados? Será que devemos esquecer os jovens russos e os jovens ucranianos que morreram na frente de batalha, quer pelos interesses dos oligarcas quer pelos interesses das multinacionais?
A UNIÃO EUROPEIA VAI ENTRAR “EM MODO DE ECONOMIA DE GUERRA”
A 3 de Maio, o Comissário Europeu Thierry Breton apresentou o seu projecto de 500 milhões de euros para co-financiar “uma produção de 1 milhão de obuses por ano na Europa”. O Comissário afirmou: “Os nossos industriais devem passar para a economia de guerra, porque muitas fábricas estão longe de funcionar em plena capacidade.” Recordemos que esta escalada para a guerra, financiada pela União Europeia, é precisamente o que a Resolução – votada favoravelmente, a 30 de Novembro de 2022, na Assembleia Nacional (francesa) pelos deputados do partido de Macron, de “Os Republicanos”, do PS, do PCF e de “Os Verdes”.
A estes 500 milhões, serão adicionados uma parte dos fundos do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR). Assim, Thierry Breton declarou: “Os Estados-membros que o desejem podem utilizar uma parte dos fundos do PNRR para o fabrico de munições.”
OS MILITARES TREINAM-SE PARA UMA “GUERRA DE ALTA INTENSIDADE”
No mesmo dia 3 de Maio, o jornal francês Le Monde fez um relato entusiástico sobre as manobras militares extraordinárias que se desenrolaram em França: “Durante três semanas, cerca de 12.000 homens, dos quais 9.000 combatentes, apoiados por 2.600 veículos – 400 dos quais são veículos blindados – enfrentaram-se nas planícies de Besançon a Amiens”.
O artigo diz-nos que se trata de “unidades maiores do que o habitual”. Que houve tropas norte-americanas, britânicas, espanholas, belgas e gregas a participar nas manobras em França. A tónica foi colocada nos reservistas, que foram chamados mais do que o habitual, e foi sublinhado que o seu número terá de ser aumentado no futuro.
Os governos da Europa e os generais preparam medidas terríveis para “massificar” na perspectiva da escalada da guerra: aumentar o número de reservistas, ou mesmo reintroduzir a conscrição (serviço militar obrigatório) como pretende o sítio Rubicon (um sítio da Internet dependente do Ministério das Forças Armadas).
Em suma, os militares estão a treinar para uma “guerra de alta intensidade” – termo militar e político para não dizer massacre em grande escala – e o jornal Le Monde elogia estas grandes manobras.
Porquê tanta publicidade ao Exército e às suas manobras militares? Isso parece como a continuação da lavagem ao cérebro iniciada pelo anúncio do presidente Macron, em 20 de Janeiro, de afectar um montante de 1,5 mil milhões de euros às Forças Armadas (anúncio feito na Base militar de Mont-de-Marsan).
SACRIFICAR OUTRAS DESPESAS PÚBLICAS À GUERRA
A Lei de Planeamento Militar (LPM), que prevê esta despesa de 413 mil milhões de euros de 2024 a 2030, está prestes a chegar à Assembleia Nacional.
O Orçamento anual passaria de 41 mil milhões em 2022 para 70 mil milhões em 2030. Não estão incluídos nestes 413 mil milhões as despesas com o Serviço Nacional Universal – NSU (3,5 mil milhões por ano) e o fornecimento de armas e munições a Zelensky.
Este Orçamento monstruoso implica “sacrificar outras despesas públicas”, como refere C. de Boissieu, economista ao serviço das multinacionais capitalistas. 413 mil milhões de euros para a guerra na LPM significa retirar estes milhares de milhões à Escola, à Cultura, aos investimentos na Saúde, à massa salarial dos funcionários públicos…
O interesse da população e dos trabalhadores é dizer: “Não aos 413 mil milhões para a Lei de Programação Militar; cessar-fogo imediato; não ao envio de armas; nem Putin, nem Biden; baixem as armas, aumentem os salários!”
Crónica, da autoria de Bruno Ricque, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 756, de 10 de Maio de 2023, do Partido Operário Independente de França.