Alemanha: Esquerda do Die Link lança Apelo contra a guerra

“Precisamos com urgência de uma alternativa de esquerda que se oponha fortemente, alto e bom som, a esta lógica militar”.

Em apenas uma semana desde o seu lançamento, o apelo “Militantes do Die Linke contra a guerra e a participação na guerra!” já reuniu cerca de 7.500 assinaturas, e todos os dias centenas de militantes do Die Linke, sindicalistas e cidadãos continuam a dar o seu apoio a este documento, que coloca no centro a batalha por um “cessar-fogo imediato”.

No grupo dos 90 primeiros signatários estão incluídos Sahra Wagenknecht, bem como militantes e dirigentes que estão próximos dela e que estiveram na origem do apelo “Para uma esquerda popular”.

Apelo de “Militantes do Die Linke contra a guerra e a participação na guerra!”

Perante o pesadelo da guerra na Ucrânia, os governantes deste país (a Alemanha) reagem sempre de uma só forma: mais armas e mais dinheiro para mais destruição e morte. Precisamos urgentemente de Precisamos urgentemente de uma alternativa de esquerda que se oponha fortemente, alto e bom som, a esta lógica militar. É absolutamente necessário evitar a escalada da guerra, que no pior dos casos poderá ir até uma terceira guerra mundial nuclear entre a NATO e a Rússia, assim como a China.

Exigimos :

– Uma iniciativa diplomática da República Federal da Alemanha, com o objectivo de obter um cessar-fogo imediato e negociações sobre o fim da guerra, sem condições prévias;

– O fim do fornecimento de armas à Ucrânia e às outras regiões em guerra e em crise;

– O fim das sanções económicas que afectam as populações, o fim da guerra económica;

– Não mais rearmamento do Exército alemão, da UE e da NATO – o desarmamento é a palavra de ordem do momento;

– Uma política de desanuviamento, de segurança comum na Europa e de cooperação internacional para os grandes desafios globais da paz, da protecção do clima e do desenvolvimento justo.

Apelamos à liderança do Partido e ao Grupo parlamentar do Die Linke no Bundestag (Parlamento) a empenharem-se activamente no enunciado destas exigências (1). A Esquerda deve opor-se, clara e inequivocamente, a uma maior escalada da guerra e a qualquer participação alemã na mesma. Por fim, a Esquerda deve levar a sério de novo as posições políticas para a paz do seu programa Erfurt, caso contrário render-se-á e tornar-se-á num apêndice do bloco dominante. Com este programa de paz, a Esquerda deve lançar imediatamente as suas próprias iniciativas parlamentares e extraparlamentares, bem como a mobilização e o apelo para as marchas da Páscoa e outras acções do movimento pela paz!

Este apelo foi lançado por agrupamentos de oposição de esquerda dentro do partido Die Linke: Aufbruch Neue Politik (Hamburgo), Karl-Liebknecht-Kreis Brandenburg, Karl-Liebknecht-Kreis Sachsen-Anhalt, Liebknecht-Kreis Sachsen, LAG Innerparteiliche Bildung und Theorie LINKE Niedersachsen, LAG Linksrum Hessen, Quo Vadis Die Linke? (Hamburgo) e Sozialistische Linke.

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(1) Note-se que, até agora, a maioria da Direcção e do Grupo parlamentar do Die Link (A Esquerda) tem apoiado a política do Governo de coligação, nomeadamente em relação ao aumento de 100 mil milhões de euros do Orçamento do Estado alemão para a Defesa.

“A classe operária europeia não tem nada a ganhar com esta guerra e tem tudo a perder”

Clare Daly, Deputada irlandesa do Parlamento Europeu pelos Independentes para a Mudança, 5 de Outubro, sessão plenária

“Senhor Presidente,

A guerra na Ucrânia está rapidamente a transformar-se num profundo horror. E pelo que posso ver, quase ninguém nesta assembleia está a fazer nada para impedi-la. Na realidade, a maioria das pessoas parece estar a ter prazer com o agravar da situação. E neste ponto, claro, como de costume, as vozes que desafiam a correria para a guerra são atacadas e silenciadas, chamadas traidoras, amigas e fantoches de Putin, lacaias do Kremlin, agentes russos. Francamente, é patético. E eu não faço a comparação de ânimo leve, mas a crueza e o cinismo destes insultos – vindos dos principais partidos europeus – poderia ter sido escrita, com a mesma facilidade, pelo nazi Hermann Göring, o qual lamentavelmente disse que mesmo que as pessoas nunca queiram a guerra, elas podem ser levadas para a guerra através de ameaças e calúnias. De acordo com ele é suficiente dizer-lhes que estão sob ataque, denunciar os pacifistas pela sua falta de patriotismo e pelo facto de que estão a expor o seu país ao perigo – funciona da mesma forma em todos os casos. Era para lá que Göring as queria conduzir, e vocês estão a seguir o mesmo caminho.

Esta Câmara deveria envergonhar-se deste debate. As palavras são distorcidas, os significados subvertidos e a verdade invertida. Opor-se à horrível loucura da guerra não é anti-europeu, não é anti-ucraniano, não é pró-russo: é apenas bom senso. A classe operária europeia não tem nada a ganhar com esta guerra e tem tudo a perder. E acho ridículo que aqueles que pedem armas para a Ucrânia nunca peçam armas para o povo da Palestina ou para o povo do Iémen.

Ao contrário de vocês, eu oponho-me a qualquer guerra. Quero que ela pare. Não apresento desculpas por isso. E também não vou ser um bode expiatório, nem aceito ser rotulada por isso.”

Notícia publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 727, de 12 de Outubro de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Sanções contra a Rússia: A primeira vítima é o povo russo

Vários milhares de pessoas concentradas em São Petersburgo, a 25 de Fevereiro contra os bombardeamentos: “Não à guerra”; “Eles são nossos irmãos”.

As sanções económicas contra a Rússia foram instituídas, a partir de 2014, pelos EUA e pela União Europeia, bem como por outros países ou instituições “ocidentais”.

Essas sanções internacionais foram impostas durante a intervenção militar da Rússia na Ucrânia – que começou no final de Fevereiro de 2014 – e foram agora reforçadas, após a nova intervenção russa na Ucrânia.

Os argumentos avançados para a imposição dessas sanções são de vária ordem. Em França, por exemplo, o ministro da Economia do governo de Macron, Bruno Le Maire, disse numa entrevista, a 1 de Março: “Vamos provocar o colapso da economia russa. Vamos fazer uma guerra económica e financeira total contra a Rússia.” Mas, à pergunta do jornalista sobre o impacto destas medidas na população, Le Maire limitou-se a responder: “Não podemos fazer outra coisa.” Por outro lado, o jornal Le Monde, de 1 de Março, declarou que “a Rússia tornou-se num pária económico mundial”. A moeda russa (o rublo) está a entrar em colapso, enquanto a inflação está a atingir níveis históricos. Entre a população, é um salve-se quem puder.

O que os órgãos da Comunicação social em geral – e, nomeadamente, em Portugal – minimizam ou até ignoram é a oposição à guerra que está a exprimir-se nas ruas, apesar da repressão feroz, na própria Rússia. Em quatro dias, quase 5.700 manifestantes foram presos em concentrações ou acções de todos os tipos contra a guerra na Ucrânia, nas principais cidades do país. Em Moscovo e em São Petersburgo, foram registadas 213 e 159 detenções, respectivamente, a 26 de Fevereiro. Em Rostov-on-Don, uma cidade perto da fronteira com a Ucrânia, uma mulher jovem – empunhando um cartaz branco – foi condenada a oito dias de prisão, pelas forças repressivas de Putin, por “desobedecer à Polícia”.

O povo russo quer a paz, apesar das ameaças e das acusações vindas de todos os lados.

Em poucos dias, uma petição contra a guerra já tinha, a 28 de Fevereiro, a assinatura de mais de um milhão de Russos.

A 25 de Fevereiro, mais de 600 cientistas russos tornaram pública um Apelo contra a guerra e a intervenção russa na Ucrânia (ver abaixo). Por ocasião de um jogo de futebol do Dínamo de Moscovo, na Primeira Liga russa, os adeptos do clube entoaram, para as câmaras de TV, o nome do seu treinador assistente – ucraniano – o qual tinha sido impedido de entrar no estádio, devido à sua nacionalidade.

Os governos fautores da guerra procuram colocar os povos uns contra os outros, justificando as sanções com a guerra. Mas, é um facto que a primeira vítima das sanções contra a “Rússia” é o povo russo.

Apelo de 600 cientistas russos contra a guerra

“A guerra com a Ucrânia é um passo em direcção ao vazio (…). Uma guerra contra ela é injusta e francamente desnecessária.

A Ucrânia era e é um país próximo de nós. Muitos de nós temos familiares, amigos e colegas na Ucrânia. Os nossos pais, avôs e bisavôs lutaram juntos contra o Nazismo. O desencadear da guerra, para satisfazer as ambições geopolíticas dos dirigentes russos, impulsionadas por fantasmas históricos duvidosos, é uma traição cínica à sua memória.”

Um dos iniciadores deste Apelo, Georgy Kurakin, declarou:

“Penso que é perigoso para qualquer um dizer, na Rússia, «sou contra a guerra». Mas este é o momento em que precisamos de o dizer. Isto é o mínimo que podemos fazer. E precisamos de o fazer (…).

Gostaria de dizer a todos os Ucranianos: «Não apoio nenhuma guerra. Não preciso de guerra. Quero a paz. E não sou vosso inimigo. Sou vosso amigo».”

Texto adaptado de uma crónica de Vincent Visseq, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 695, de 2 de Março de 2022, do Partido Operário Independente de França.