França: 42 mil crianças “sem abrigo”

Um relatório da Unicef e do Samu social (1) acaba de divulgar que mais de 42 mil crianças em França são “sem abrigo”. Elas vivem, por vezes, em quartos de hotel – onde três, quatro ou mesmo cinco pessoas ficam amontoadas.

“A primeira coisa que é muito provocadora de ansiedade nas crianças é mudarem de lugar regularmente. A segunda coisa é verem os seus pais ansiosos ou tristes”, escreve Vanessa Benoît, do Samu social.

Estas crianças, por causa destas condições materiais, têm grandes problemas de escolaridade. Esta precariedade também tem consequências sobre a sua saúde em geral e, em particular, sobre a sua saúde mental.

Na rádio Franceinfo, uma destas crianças explicou: “Não quero que os meus amigos saibam que vivo na rua”; e a sua mãe declarou: “A minha filha não tem espaço para fazer os seus trabalhos de casa ou até mesmo uma mesa para fazer desenhos.”

Estas famílias vivem, em média, dois anos e meio nestes hotéis, sem qualquer espaço para as crianças. Em alguns casos, esta situação pode durar dez anos.

Adeline Hazan explica: “Temos de garantir um acolhimento absolutamente incondicional para as famílias com crianças, em estruturas que sejam adaptadas, ter uma política de construção, fornecer alojamento acessível às famílias.” Ela aponta também para a falta de prestação de cuidados da saúde, sublinhando que a França tem dois mil pedopsiquiatras, ou seja, um terço menos do que havia à vinte anos.

Em França, só as dez maiores fortunas do país detêm 500 mil milhões de euros (o Orçamento do Estado da França é pouco mais de 300 mil milhões de euros). Ao contrário das previsões dos economistas, a riqueza destas dez pessoas aumentou durante a pandemia e está a crescer ainda mais com a guerra e a inflação.

Quem disse que a divisão da sociedade em classes já não existe?

Crónica de Lucien Gauthier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 728, de 19 de Outubro de 2022, do Partido Operário Independente de França.

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(1) O Serviço de Atendimento Médico de Urgência (em francês: Service d’Aide Médicale Urgente) é um serviço do Estado francês de pronto atendimento, que socorre vítimas de acidentes ou outras enfermidades, conduzindo-as rapidamente a uma unidade de saúde.

Covid-19: Um vírus perigoso… mas não para todos!

Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo, viu a sua fortuna aumentar cerca de 70 mil milhões de dólares, entre Março e Novembro de 2020

De acordo com o Instituto de Estudos Políticos, que analisou a fortuna dos 650 norte-americanos mais ricos, entre 18 de Março e 24 de Novembro de 2020, 29 multimilionários viram a sua riqueza duplicar desde Março.

De acordo com os autores do Relatório, esta subida parece estar directamente relacionada com a pandemia.

Este é particularmente o caso de Jeff Bezos, o dono da Amazon, que viu a sua fortuna aumentar em quase 70 mil milhões de dólares entre Março e Novembro.

O dono da Tesla, Elon Musk, que se tornou neste mês o segundo homem mais rico do mundo, passando à frente de Bill Gates, é uma ilustração clara desta tese. A sua ascensão meteórica na classificação das grandes fortunas está ligada à subida exponencial do valor das acções da Tesla na Bolsa de Wall Street, que aumentou 500% desde o início do ano e vale agora 495 mil milhões de dólares. O que permitiu a Elon Musk ganhar 100 mil milhões de dólares no mesmo período.

Estes números exorbitantes devem ser colocados em paralelo com o desenvolvimento de desemprego endémico nos EUA. A título de exemplo, em Outubro de 2020 mais de 11 milhões de norte-americanos foram considerados como estando desempregados – o dobro das estimativas de Fevereiro, antes do início da pandemia nesse país.

Nota de Pierre Demale, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 633, de 2 de Dezembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Corrida à vacina agrava fosso entre ricos e pobres. Os primeiros já garantiram 9 mil milhões de doses, os restantes podem esperar anos

Esta é outra face “escondida” da pandemia. O semanário Expresso (de 4 de Dezembro de 2020) cita um estudo de peritos do Fundo Monetário Internacional (FMI) – gente bem documentada!, que tira a seguinte conclusão: “Mais de 80% das doses de vacinas anti-Covid foram compradas por governos que representam apenas 14% da população global. A maioria das pessoas nos países pobres vai ficar à espera da vacina até 2024, se os países mais ricos continuarem a praticar aquilo a que muitos já chamam «vacinacionalismo»”.

O imperialismo ainda não “morreu”…