Propaganda

Todos os dias, os órgãos “ocidentais” de comunicação social, nos enchem os ouvidos a respeito da propaganda que é feita pelos meios de comunicação da Rússia. O que constitui uma realidade: mentiras, invenções, informações falsas, esta é a ementa diária dos noticiários televisivos russos. Para já não mencionar alguns consultores encarregues de fazer discursos delirantes.

Por outro lado, na Ucrânia, há a mesma realidade: o Exército impôs a censura aos órgãos de comunicação social. Três canais de notícias mais ou menos independentes – que eram acessíveis à borla – foram excluídos, pelo governo de Zelensky, do pacote digital gratuito. “Quando a guerra eclodiu, o Estado ucraniano entregou a televisão a grupos de comunicação pertencentes a oligarcas. Cada cadeia televisiva produz módulos de seis horas e, depois, passa para a cadeia seguinte, durante um ciclo de trinta horas.” (Le Monde, 18 de Outubro).

E há uma terceira propaganda: a que é orquestrada pelos meios de comunicação social “ocidentais”, nos EUA e na Europa, que nos matraqueiam constantemente com temas sobre a guerra na Ucrânia, com o objectivo – a pretexto de combater o poder absoluto de Putin e da defesa da Ucrânia – de apoiarem a NATO e os governos imperialistas.

A NATO belicista

Macron anunciou o envio de novas tropas francesas e de tanques Leclerc para a Roménia. Os EUA estão também a reforçar o seu dispositivo militar, nomeadamente na Alemanha e na Polónia. E anunciaram igualmente a entrega de equipamento antimíssil sofisticado. O Reino Unido está a treinar dois mil soldados ucranianos em solo britânico.

Pelo seu lado, o Governo francês anuncia a formação de soldados ucranianos em França. E a Alemanha entrega equipamento de defesa antimíssil à Ucrânia, enquanto o envio geral de armas para a Ucrânia está a acelerar. Não se passa um dia sem que os EUA e os governos dos outros países da NATO se envolvam na guerra mais do que antes. Assim, são agora cobeligerantes, com inclusivamente – segundo algumas fontes de informação – instrutores militares presentes em solo ucraniano.

A reacção dos EUA e da NATO não tem nada a ver com o que eles afirmam: lutar contra o regime ditatorial de Putin e defender a soberania da Ucrânia.

Ao mesmo tempo, tem lugar uma guerra atroz no Iémen, que já terá provocado mais de quatrocentos mil mortos, e que nenhuma potência ocidental denuncia, porque é uma guerra conduzida por uma coligação liderada pela Arábia Saudita.

E ainda mais: são os governos norte-americano e francês que estão a fornecer armas à Arábia Saudita para esta guerra.

Sabemos qual o resultado de anteriores intervenções militares – a pretexto de defender a liberdade e a democracia – levadas a cabo pelas potências ocidentais: o Iraque ficou completamente desmantelado, depois da intervenção dos EUA em 2003; após vinte anos de guerra liderada pela NATO, o Afeganistão está exangue; e a Líbia está desmembrada, depois da intervenção franco-britânica para expulsar Gaddafi.

Todas as intervenções imperialistas levaram às maiores catástrofes e ao caos. E será este também o caso da Ucrânia e da Rússia.

A intervenção dos EUA e da NATO contra Putin não tem nada a ver com a defesa da democracia e da soberania dos povos. A 12 de Outubro, foi levantado um pouco do véu sobre esta questão, quando Biden revelou as suas prioridades para a segurança nacional e internacional norte-americanas: “Os EUA serão guiados pelos nossos valores, e iremos trabalhar com os nossos aliados e parceiros, bem como com todos aqueles que partilham os nossos interesses”. Neste documento é precisado que o objectivo dos EUA é “suplantar a China e coagir a Rússia”.

Para Biden: “A Rússia constitui uma ameaça imediata a uma ordem internacional livre e justa.”  Numa palavra, a Rússia é um obstáculo à liderança norte-americana, tal como a China e outros países. O documento também explica: “A China é o único rival que tem a vontade de alterar a ordem internacional e possui, em simultâneo, cada vez mais os meios económicos, diplomáticos, militares e tecnológicos para conseguir esse objectivo.”

Para Biden, tal como para Trump e Obama antes dele, a questão da China é uma questão-chave, dado o lugar que este país ocupa no mercado mundial. Os sucessivos presidentes dos EUA tentaram todos restabelecer uma relação que lhes fosse mais favorável, mas estes esforços não têm resultado. Nesta declaração de Biden está escrito: “Os EUA têm tudo o que é preciso para ganhar a competição do século XXI. Saímos mais fortes de cada crise e não há nada que não possamos fazer”. Esta declaração choca-se com a crise geral do sistema capitalista, com a crise de dominação política nos próprios EUA (eleições intercalares dentro de um mês), na Europa e no resto do mundo. Também se choca com a resistência dos povos, que assume diferentes formas, mas se expressa à escala mundial.

Na Europa, os movimentos contra a guerra – no Reino Unido, na Alemanha, na Itália, na Grécia e em Espanha – apelam para um cessar-fogo, para o desarmamento, para o fim do envio de armas e o desmantelamento da NATO. Todos estes movimentos recusam que, em nome da guerra e dos milhares de milhões dados à Ucrânia, seja exigido aos trabalhadores que façam “esforços” e aceitem a austeridade, a inflação e a penúria.

Recusamos a união nacional. Somos a favor de expulsão da NATO e do seu desmantelamento. Somos a favor de acabar com as instituições europeias que implementam as exigências dos EUA.

UCRÂNIA: a guerra intensifica-se

Em reacção ao bombardeamento da ponte que liga a Ucrânia à Rússia, o regime de Putin tem bombardeado muitas cidades na Ucrânia, incluindo Kiev e Lviv, destruído instalações eléctricas e matado civis.

Pelo seu lado, o regime de Zelensky bombardeou a cidade russa de Belgorod, perto da fronteira ucraniana, matando civis. E também o centro de Donetsk, matando civis.

As tropas russas voltaram a bombardear Kiev, destruindo mais instalações eléctricas e causando mais vítimas civis.

A cada dia que passa, há pessoas a morrer de ambos os lados.

Há aqueles que pedem um cessar-fogo para preservar a humanidade, os povos ucraniano e russo e conseguir a paz. Por outro lado, há aqueles – como os EUA e a NATO – que se opõem ao cessar-fogo e querem continuar a guerra até a Rússia ser derrotada.

Crónica de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 728, de 19 de Outubro de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Biden promete à humanidade o “apocalipse nuclear”

Durante o passado fim-de-semana, tiveram lugar explosões na ponte que liga o território da Crimeia ao território da Federação Russa, destruindo-a parcialmente. A Rússia acusa os Serviços secretos ucranianos. Alguns peritos militares ocidentais acreditam que foi necessária a ajuda dos serviços secretos de um grande país para realizar uma tal operação.

Em resposta, Putin anunciou uma retaliação, a partir de segunda-feira, numa reunião do seu Conselho de Segurança e, de imediato, mísseis atingiram – na manhã de 10 de Outubro – as cidades de Kiev, Zaporizhia, Lviv e outras localidades na Ucrânia. É a escalada na guerra!

Na quinta-feira, 6 de Outubro, iniciou-se em Praga a reunião do Conselho Político Europeu, com a participação de 44 países (os 27 membros da União Europeia e outros países não-membros). Este Conselho reafirmou o seu apoio a Zelensky e adoptou novas sanções contra a Rússia. Na Cimeira, Zelensky – ligado por videoconferência – apelou os países europeus a reforçarem ainda mais as sanções contra a Rússia e a deixarem de emitir vistos de entrada ao conjunto dos cidadãos russos. Numa palavra, ele está a imputar a todos os Russos, incluindo os que fogem da guerra, a responsabilidade pelo conflito armado e coloca-os nas mãos de Putin.

Esta Cimeira não fez mais do que implementar as exigências da Nato, ou seja, do imperialismo norte-americano. Biden, de facto, reafirmou que a guerra duraria muito tempo, até que a Rússia seja derrotada. E, numa escalada para a guerra, ele também fez pesar a ameaça de um “apocalipse nuclear”. Ao fazê-lo, Biden procura aterrorizar os povos do mundo para impor a sua lei.

É o imperialismo norte-americano que está ao leme e está a incentivar a guerra, sendo Zelensky apenas aquele que implementa esta política. Perante a agressão militar orquestrada por Putin, a intervenção dos EUA e da NATO não visa defender a soberania do povo ucraniano, a qual é apenas um pretexto para a defesa dos seus próprios interesses, contraditórios com os do povo ucraniano e do povo russo.

Laura Cooper, uma das responsáveis pela política do Pentágono, disse a 4 de Outubro que o Departamento de Defesa (dos EUA) tinha examinado as necessidades da Ucrânia em termos militares, concluindo que a combinação existente de lançadores Himar e de mísseis GMLRS era suficiente. “Nós acreditamos“, disse ela, “que eles podem atingir a grande maioria dos seus alvos, incluindo a Crimeia, e – para ser clara – a Crimeia é parte da Ucrânia.”

A questão é colocada, e a responsabilidade dos EUA e da NATO é claramente estabelecida, inclusive em relação aos ataques na Crimeia. Os EUA tomaram o controlo do Regime de Zelensky e do aparelho militar ucraniano com o objectivo de desmantelar a Rússia.

A nossa posição é clara: deve haver um cessar-fogo imediato para evitar uma catástrofe para toda a humanidade. Isto significa: o levantamento de sanções contra o povo russo, porque é ele que é capaz de derrotar Putin e o seu Regime.

É preciso parar os belicistas que estão a conduzir a humanidade para a catástrofe. É preciso parar as entregas de armas! Desmantelamento da NATO!

Rejeição da unidade nacional! Recusa de participar no pretenso combate entre “democratas” e “autocratas”, que nada mais é do que a aceitação das exigências do imperialismo. Recusa de aceitarem nome da entrada na economia de guerrao acompanhamento das medidas anti-operárias, a inflação, as reestruturações, etc.

Não marchamos atrás de Macron nem atrás de Biden. Pois, como disse Karl Liebknecht: “O inimigo está no nosso próprio país”.

Zelensky contra o Prémio Nobel da Paz e a favor de Meloni

Zelensky, o grande “democrata”, telefonou à chefe do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, para a felicitar pela sua vitória nas eleições legislativas.

Um conselheiro do presidente Zelensky, pela sua parte, denunciou o Prémio Nobel da Paz atribuído este ano a duas ONG (o Russian Memorial e o Centro Ucraniano de Liberdades Civis), bem como ao bielorrusso Ales Bialiatski. Ele declarou: “O Comité Nobel tem um entendimento interessante de «paz» se representantes de dois países que agrediram um terceiro recebem, em conjunto, o Prémio Nobel”.

Assim, para este indivíduo, um adversário do Regime bielorrusso na prisão é “responsável” pela guerra, assim como o Russian Memorial, proibido pelo Regime de Putin e cujos militantes são perseguidos, seria também “responsável” pela guerra.

Isto está de acordo com a declaração de Zelensky ao dizer que todos os Russos deviam ser mortos e ao exigir que aqueles que desertam e fogem do país para evitar a mobilização de Putin fossem bloqueados nas fronteiras ucranianas. E isto acontece numa altura em que o recrutamento no Exército russo está a acelerar, sob o impacto de uma repressão de uma brutalidade sem precedentes.

Intelectuais ocidentais, pró-Zelensky, denunciam a saída da Rússia das centenas de milhares de homensque assumem todos os riscos ao recusar ir para a guerradizendo-lhes para ficarem na Rússia para combater Putin. É fácil de dizer, a partir do conforto do seu ecrã digital… O povo russo não quer a guerra e o ucraniano também não.

Perante Zelensky (representante dos oligarcas ucranianos e instrumento do imperialismo norte-americano) e perante Putin (chefe dos oligarcas russos), reafirmamosapesar da situação difícil actualque só a mobilização dos trabalhadores e dos povos pode impor a paz e o restabelecimento da fraternidade entre os povos.

Crónica da autoria de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 727, de 12 de Outubro de 2022, do Partido Operário Independente de França.