
Reproduzimos excertos de um artigo publicado no sítio Web Meadle East Eye (Observatório do Médio-Oriente), a 13 de Setembro, que nos foi enviado pelo seu autor, Amir Makhoul (1).
Militante e escritor palestiniano a viver dentro do Estado israelita, Amir Makhoul foi director da Ittijah, uma Associação palestiniana do interior que luta pela defesa dos direitos dos Palestinianos. Ele esteve detido por Israel durante dez anos.
“Com a notícia da fuga da prisão de Gilboa de seis Palestinianos, na semana passada, o moral do povo palestiniano reforçou-se. No meio do desespero da vida sob ocupação, a luz emergiu através de um túnel feito no solo (2), trazendo a mensagem de que, o que outrora parecia impossível, podia ser possível.
Surgiram símbolos populares, incluindo um buraco de túnel, o número seis e uma colher (referindo-se à ferramenta simples utilizada para cavar o túnel). Os Palestinianos sentiram a responsabilidade colectiva de proteger os seis homens – quatro dos quais foram, desde então, capturados pelas forças israelitas – e de honrar o seu sacrifício.
As instituições políticas, de segurança e de comunicação social israelitas consideraram o evento como um fracasso estratégico, pondo em causa o poder dissuasivo de Israel sobre o povo palestiniano e sobre toda a região em geral. De facto, a fuga – que tinha sido planeada há vários meses – mostrou uma falha total do Sistema prisional, nomeadamente das autoridades penitenciárias, do Shin Bet (os Serviços secretos israelitas) e da Polícia (…).
No que diz respeito aos prisioneiros políticos palestinianos, há um amplo consenso – político, emocional e social – na sociedade palestiniana. Os prisioneiros representam um grande segmento da sociedade palestiniana, e os Palestinianos sabem que eles sacrificaram as suas vidas pela Palestina e pela libertação da ocupação israelita. Como tal, a responsabilidade da sua libertação incumbe a todo o povo palestiniano.
Dificilmente existe uma família palestiniana na qual um filho, uma filha, um parente ou um vizinho não tenha sido preso. Quase todos os tipos de comportamento individual ou colectivo são considerados pelo colonizador como uma infracção que exige prisão, de acordo com as suas leis. Por exemplo, a actividade política estudantil na Universidade de Birzeit é considerada como “terrorismo”, enquanto os Palestinianos de Ramallah não estão autorizados a visitar Jerusalém.
Desde 1967, cerca de um milhão de Palestinianos foram presos pelas forças “da ordem” israelitas. Para o povo palestiniano, nenhum foi preso e encarcerado por ter cometido um crime, mas sim por ter contribuído para a procura da liberdade e da libertação nacional.
Mas aqueles que estão fisicamente encarcerados são apenas um aspecto do Regime israelita colonizador e opressor.
De facto, há famílias inteiras – mães, pais, irmãs, irmãos filhas e filhos – encarcerados no mesmo Estado-prisão. As suas vidas estão centradas no ritmo da ocupação, paralelamente à vida dos seus parentes cativos. Eles planeiam as suas vidas em função das visitas às prisões e das dificuldades que as acompanham, e enfrentam uma profunda ansiedade, especialmente quando ouvem notícias de campanhas de repressão sobre os prisioneiros, de greves da fome ou de prisioneiros que caem doentes. Quantas mães palestinianas são capazes de dormir, pensando que os seus filhos encarcerados estão a ser oprimidos? (…)
Os seis fugitivos conheciam os perigos que enfrentavam, mas correram o risco de exprimirem a voz da verdade e da justiça palestinianas. Isto é em si uma grande vitória – uma voz palestiniana a exortar o mundo a cumprir o seu dever e terminar com o projecto de ocupação e colonização da Palestina, como condição para uma solução permanente e justa.
Quando há centenas de Palestinianos a definhar nas prisões, com negociações de troca de prisioneiros – criando por vezes esperanças, para a seguir os destruir – é evidente que as prisões da ocupação não garantem os direitos humanos básicos. Estes direitos foram obtidos através de acções colectivas, e os prisioneiros pagaram um preço elevado através de punições, torturas e repressão.
Hoje, os prisioneiros palestinianos resistem ao desespero com um pequeno vislumbre de esperança. O povo palestiniano e os militantes da solidariedade internacional irão apoiá-los, criando esperança para a sua causa, mesmo que estejam encarcerados. Os seis prisioneiros não se limitaram apenas a evadir-se de uma prisão de alta segurança, eles abriram também um caminho mais amplo para a liberdade.
—————————–
(1) Transcrito do semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 672, de 15 de Setembro de 2021, do Partido Operário Independente de França.
(2) Durante mais de cinco meses, estes seis prisioneiros cavaram um túnel com simples colheres desde as suas instalações sanitárias até ao exterior da prisão. Em manifestações de apoio, a pequena colher que consegue romper as barreiras mais fortes é sustentada com orgulho em todo o lado.