O capital é responsável pela pobreza

Utilizando a pandemia e o confinamento, o capital está a causar o caos nas populações à escala mundial. São dezenas de milhões, na Índia, que – devido ao encerramento das suas empresas – se encontram nas estradas, de regresso às suas aldeias natais, para tentarem escapar à fome. São, em África, as populações que têm mais medo da fome do que do Covid-19, porque, neste continente, as pessoas estão a morrer à fome em grande escala, todos os dias. A nível mundial, todos os dias, 25.000 pessoas, incluindo 10.000 crianças, morrem de fome, de acordo com os dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Na Argélia, são milhões de trabalhadores, de precários, de jovens com pequenos biscates, de comerciantes e de artesãos que ficam sem nada, literalmente sem nada.

Existem milhões de trabalhadores precários nos EUA, principalmente jovens e Negros, que perderam o seu emprego e não têm qualquer rendimento. E poderíamos multiplicar os exemplos em todos os continentes.

E em França, de acordo com as organizações sindicais, um milhão de trabalhadores caíram na pobreza este ano. São aqueles a quem a imprensa chama trabalhadores pobres, aqueles cujos rendimentos não lhes permitem viver.

De acordo com um inquérito publicado, a 10 de Dezembro, no jornal Le Parisien, 20% dos pais abdicaram este ano de dar presentes de Natal aos seus filhos. E a miséria dos estudantes do Ensino superior também se está a generalizar, pois está atrasado o pagamento das bolsas a que muitos têm de recorrer para poderem estudar… Alguns deles não recebem a bolsa desde Setembro.

Nos últimos dez meses, 300.000 trabalhadores do entretenimento – aos quais se devem acrescentar 150.000 artistas, escritores, pintores,… – não podem realizar ou apresentar o seu trabalho.

Cem mil empregados permanentes beneficiam da manutenção do trabalho a tempo parcial. Mas, com o encerramento prolongado das salas de espectáculo, os despedimentos estão a crescer. Entre os 200.000 trabalhadores precários do mundo do espectáculo, 110.000 beneficiam da extensão do seguro de desemprego, enquanto 90.000 não têm qualquer salário ou subsídio, recebendo apenas o chamado Rendimento Social Activo (RSA). Os 150.000 artistas e autores estão na mesma situação. Mas, como sabemos, para este Governo a cultura não é “essencial”.

Este aumento da pauperização é um fenómeno que se estende a nível mundial.

O Director do Programa Alimentar Mundial da ONU teme “uma pandemia de fome mais grave do que o Covid-19”, anunciando que 270 milhões de pessoas se encaminham perigosamente para a fome. E acrescenta: “270 milhões de seres humanos estão agora à beira da fome. Por outro lado, há 400000 milhares de biliões de dólares de riqueza no mundo… e nós temos apenas necessidade de 5 mil milhões de dólares para salvar da fome 30 milhões de vidas.” É verdade, mas o que domina, à escala global, são as leis do capital.

E as leis do capital são o aumento dos lucros. Os 651 multimilionários norte-americanos tornaram-se ainda mais ricos, desde o início da pandemia: as suas fortunas cresceram 1000 biliões de dólares, desde meados de Março. De acordo com o Institute for Policy Studies (Instituto de Estudos Políticos) dos EUA, “as suas fortunas atingiram 4000 milhares de biliões de dólares em 7 de Dezembro, quando eram 2950 milhares de biliões de dólares em 18 de Março. Nunca dantes, os EUA tinham visto uma tal acumulação de riquezas em tão poucas mãos.”

Esta é a realidade da lei do capital. Não é o Covid-19 e a pandemia que são responsáveis por este massacre social!

São as leis do capital que aproveitam todas as oportunidades para esmagar os trabalhadores e a população laboriosa. É por isso que temos de combater para expropriar o capital e evitar que a civilização caia na barbárie.

Nota de Lucien Gauthier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 635, de 16 de Dezembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Covid-19: Um vírus perigoso… mas não para todos!

Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo, viu a sua fortuna aumentar cerca de 70 mil milhões de dólares, entre Março e Novembro de 2020

De acordo com o Instituto de Estudos Políticos, que analisou a fortuna dos 650 norte-americanos mais ricos, entre 18 de Março e 24 de Novembro de 2020, 29 multimilionários viram a sua riqueza duplicar desde Março.

De acordo com os autores do Relatório, esta subida parece estar directamente relacionada com a pandemia.

Este é particularmente o caso de Jeff Bezos, o dono da Amazon, que viu a sua fortuna aumentar em quase 70 mil milhões de dólares entre Março e Novembro.

O dono da Tesla, Elon Musk, que se tornou neste mês o segundo homem mais rico do mundo, passando à frente de Bill Gates, é uma ilustração clara desta tese. A sua ascensão meteórica na classificação das grandes fortunas está ligada à subida exponencial do valor das acções da Tesla na Bolsa de Wall Street, que aumentou 500% desde o início do ano e vale agora 495 mil milhões de dólares. O que permitiu a Elon Musk ganhar 100 mil milhões de dólares no mesmo período.

Estes números exorbitantes devem ser colocados em paralelo com o desenvolvimento de desemprego endémico nos EUA. A título de exemplo, em Outubro de 2020 mais de 11 milhões de norte-americanos foram considerados como estando desempregados – o dobro das estimativas de Fevereiro, antes do início da pandemia nesse país.

Nota de Pierre Demale, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 633, de 2 de Dezembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Corrida à vacina agrava fosso entre ricos e pobres. Os primeiros já garantiram 9 mil milhões de doses, os restantes podem esperar anos

Esta é outra face “escondida” da pandemia. O semanário Expresso (de 4 de Dezembro de 2020) cita um estudo de peritos do Fundo Monetário Internacional (FMI) – gente bem documentada!, que tira a seguinte conclusão: “Mais de 80% das doses de vacinas anti-Covid foram compradas por governos que representam apenas 14% da população global. A maioria das pessoas nos países pobres vai ficar à espera da vacina até 2024, se os países mais ricos continuarem a praticar aquilo a que muitos já chamam «vacinacionalismo»”.

O imperialismo ainda não “morreu”…

A propósito das estatísticas

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Estamos todos afogados em estatísticas: sobre o número de mortes evitado através do confinamento, sobre o facto de as eleições municipais não terem sido um factor de propagação do vírus, um novo estudo estatístico sobre o facto de a cloroquina não ser eficaz e mesmo perigosa, sobre o número de fumadores infectados, e assim por diante. São muitas as pessoas que participam numa ampla difusão destas estatísticas nas redes sociais e tiram delas as conclusões que querem tirar…

As estatísticas, como toda a Ciência, não são uma verdade absoluta. A Ciência progride, estagna e, por vezes, até recua, porque ela está inserida nas relações sociais capitalistas. Continuar a ler