Um apelo solene!

(sobre o fabrico e a distribuição mundial de vacinas)

De uma forma totalmente invulgar e extraordinária, os dirigentes do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da Organização Mundial da Saúde e da Organização Mundial do Comércio fizeram um apelo aos chefes dos governos, a nível mundial, para que fornecessem financiamento para ajudar a acabar mais rapidamente com a pandemia de Covid-19. Juntos estão a pedir um investimento de 50 mil milhões de dólares para aumentar a capacidade de fabrico e de fornecimento de vacinas.

Poderíamos espantar-nos de ver estes quatro organismos a pronunciarem-se visando a protecção das pessoas. Mas a realidade é diferente.

Os dirigentes destes quatro organismos declararam: “É agora claro que não haverá retoma (económica) generalizada até que a crise sanitária tenha terminado. O acesso à imunização é fundamental em ambos os casos.”

Portanto, não se trata de defender a saúde das populações, mas – como eles próprios escrevem na sua Declaração – o investimento de 50 mil milhões de dólares irá gerar um ganho económico global de 9000 mil milhões de dólares até 2025.

Ficámos tranquilizados.

Estes organismos internacionais do sistema capitalista têm apenas um objectivo: defender este sistema. São estes mesmos organismos que – através de planos de ajustamento estrutural e de política da dívida – devastaram regiões inteiras do planeta, destruíram os seus sistemas de saúde, empurraram dezenas de milhões de pessoas para a fome e fizeram cair na pobreza centenas de milhões.

Crónica de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 660, de 30 de Junho de 2021, do Partido Operário Independente de França.

Estão a zombar com quem?

Com o desenvolvimento da pandemia, o capital e os governos que o servem lançaram-se na destruição massiva da força de trabalho, das relações laborais e dos direitos do Trabalho, numa tentativa de alcançarem, finalmente, o que não conseguiram fazer desde há décadas: realizar uma viragem completa da sociedade, destruindo todas as conquistas dos trabalhadores e dos povos.

Em muitos países, estão a ser implementadas medidas liberticidas em nome do “estado de emergência sanitária”, conjugadas com propaganda para aterrorizar a população. Estas medidas contam com o acompanhamento cúmplice dos líderes “oficiais” do movimento operário, de modo a puderem ser aplicadas. E, ao mesmo tempo, todos estes governos estão alarmados com a cólera das populações que está a crescer em todos os países.

É nestas condições que o Director da Organização Mundial de Saúde (OMS) e vinte e quatro chefes de Estado e de Governo (incluindo Macron, Merkel, o Primeiro-ministro de Portugal, Boris Johnson, o Presidente do Conselho Europeu, o primeiro-Ministro de Espanha e outros…) apelaram à necessidade de um novo Tratado internacional.

Eles escrevem: “A imunização é um bem público global e nós devemos ser capazes de desenvolver, fabricar e ampliar vacinas o mais cedo possível.” Alguns – ingenuamente – ficarão contentes com esta declaração de Macron, Merkel e companhia, identificando vacinas a bens públicos. Não terão razões para isso. Porque, por detrás desta cortina de fumo, há uma operação política.

Neste apelo, eles escrevem: “A pandemia representa o maior desafio com que a comunidade mundial foi confrontada desde a década de 1940.” No texto, eles recordam a criação de todas as instituições internacionais e, em seguida, apelam à criação de um novo Tratado, porque “a preparação para as pandemias precisa de uma liderança global para construir um Sistema de Saúde mundial, à altura deste milénio.”

Um novo Tratado para um novo milénio

Eles escrevem: “Com este objectivo, iremos trabalhar com chefes de Estado e de Governo de todo o mundo e com todas as partes envolvidas, incluindo a sociedade civil e os sectores privados.” Assim, o Director da OMS e os vinte e quatro Chefes de Estado e de Governo estão a propor – em nome da luta contra a pandemia, mas também contra as novas pandemias que anunciam como inevitáveis – a realização da unidade de todos à volta de um novo Tratado internacional.

Quem é que eles estão a querer enganar, o Director da OMS os chefes de Estado e de Governo que fazem discursos em plena pandemia, quando as suas consequências desastrosas realçam, mais do que nunca, a responsabilidade das políticas criminosas desses governos ao serviço do capital? Com quem é que Macron está a zombar, quando se compromete a produzir vacinas e, ao mesmo tempo, a anarquia gerada pelo seu Governo impede a vacinação daqueles que desejam ser vacinados? Com quem é que estão a zombar, ao anunciarem novas pandemias para assustar e desviar a atenção dos povos, fazendo-os depositar esperança neste novo Tratado?

Com quem é que estão a zombar, os signatários deste apelo – os mesmos que, no seu próprio país, estão a destruir hospitais públicos, escolas e tudo o que foi adquirido através da luta de classes, a fim de financiarem, com centenas de milhares de milhões o capital a que estão sujeitos?

Como bons samaritanos, eles irão pedir autorização à OMS, às instituições internacionais e a outros governos, como se nada mais pudessem fazer…

A realidade é que estes governos respeitam o sacrossanto regime da propriedade privada dos grandes meios de produção.

É por isso que não é possível dar qualquer confiança, qualquer apoio, sob que forma for, a Macron e ao seu Governo; pelo contrário, é mais necessário do que nunca lutar contra o seu estado de emergência e as suas leis liberticidas. Mais do que nunca, é preciso recusar qualquer união sagrada, preservar a independência da classe operária.

Nota de Lucien Gauthier, publicada em Informations Ouvrières – nº 649, de 8 de Abril de 2021 – jornal semanal do Partido Operário Independente (França).

A pandemia em África: caos e resistência em perspectiva

Fila_Quenia

“A África deve preparar-se para o pior”, disse a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 25 de Março. O pior? Ele foi preparado, desde há várias décadas, pelos planos de ajustamento estrutural aplicados sob a direcção do FMI e do Banco Mundial. Os Estados foram asfixiados, em nome do pagamento de uma dívida usurária, privatizou-se tudo o que podia ser privatizado e desmantelaram os seus serviços públicos.

Responsáveis e culpáveis são as instituições internacionais, as potências imperialistas e os governos submissos que lideraram essa política criminosa, a qual impossibilitou qualquer desenvolvimento desses países, reduzidos a permanecer como exportadores de matérias-primas, e destruiu os seus Sistemas de Saúde. Continuar a ler