
O significado político do resultado das eleições na Comunidade de Madrid é óbvio. Para além da importância institucional do Governo regional, o que se deve perguntar é porque é que a gestão desastrosa da Saúde, da Educação e dos serviços públicos – por parte do governo de Ayuso (do Partido Popular – PP) – permitiu, apesar de tudo, que este voltasse a ganhar as eleições.
Haverá quem culpe a população trabalhadora, mas o resultado decorre do balanço que esta parte da população faz do Governo do Estado (central), o qual pretende ser “progressista”. Recordemos que Pedro Sánchez chegou ao Governo – após a moção de censura ao Governo do PP (de Rajoy), a 30 de Maio de 2018. A seguir, em Janeiro de 2020, foi formado um Governo de coligação com o Podemos e a Esquerda Unida.
Tivemos praticamente três anos de Governo central, em que a grande maioria das expectativas que ele suscitou entre a população trabalhadora – a maioria da sociedade – foram frustradas. As primeiras promessas de inverter as contra-reformas sociais e políticas do governo de Rajoy foram rapidamente esquecidas.
Para além disso: apesar da pandemia, o desmantelamento dos cuidados de saúde pública continuou – uma questão que não é apenas um produto da política de Ayuso, mas é geral em todo o Estado. Os cortes de mais de 30.000 milhões de euros nos cuidados de saúde ainda não foram recuperados. Algo essencial que “foi esquecido” na campanha eleitoral. Uma campanha em que se permitiu que Ayuso e os partidos franquistas aparecessem quase como vítimas.
É este o preço da submissão à Monarquia e da recusa de abolição da “Lei Mordaça” (1); pelo contrário, com o “Estado de Alarme”, o Ministro Marlaska tem sido o seu principal defensor. Ao recusar revogar as reformas laborais e das pensões (2) e passar a outra coisa, ou seja, para um pretenso “novo Contrato Social” ao gosto da União Europeia, uma vez que esta é uma das condições para a obtenção dos Fundos europeus.
Os resultados eleitorais não podem esconder o facto de que a população de Madrid, tal como a de todos outros povos do Estado espanhol, continua a exigir cuidados de Saúde pública, pensões de aposentação decentes, o fim da vaga de despedimentos, o regresso ao ensino presencial – o único ensino verdadeiro – e a recuperação de todas as liberdades. E isso não se reflecte nas forças que compõem o Governo “progressista”. Se o Governo continuar neste caminho… irá entregar-nos aos Ayusos.
Mais cedo ou mais tarde, será a mobilização unida dos trabalhadores e dos povos que abrirá a porta à solução dos seus problemas vitais. Uma questão que irá colocar as organizações – que afirmam defender a maioria social – perante a necessidade de escolher: ou a defesa do Regime monárquico de exploração e opressão, ou o apoio às reivindicações da maioria, abrindo assim o caminho à República.
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(1) Trata-se da Ley Orgánica de Protección de la Seguridad Ciudadana – que é conhecida como “lei Mordaça” e limita drasticamente a liberdade de expressão.
(2) Pelo contrário, “trata-se de esquecer 2012” (ou seja, as reformas laborais) como disse a Ministra do Trabalho, Yolanda Diaz, apoiada pelos secretários-gerais das CCOO e da UGT.
Editorial do periódico Información Obrera – Tribuna livre da luta de classes em Espanha – nº 358 de 5 de Maio de 2021.