Palestina: O Estado israelita desencadeia “de forma preventiva” novos massacres contra a população de Gaza

Desde há vários meses, a repressão israelita contra os militantes palestinianos intensificou-se, particularmente em Jenin e Nablus (na Cisjordânia), onde têm vindo a ter lugar sucessivas operações de Comandos das forças ocupantes. Para além destas operações de assassinato selectivo, grupos de “militantes sionistas radicais” – como a própria imprensa israelita os descreve, ou seja os colonos israelitas na Cisjordânia – multiplicam as suas provocações, nomeadamente invadindo, há apenas alguns dias e no domingo passado, a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, e sempre sob protecção policial. Já no ano passado, a decisão estratégica das organizações palestinianas de não responder às provocações frustrou os planos do então Primeiro-ministro, Naftali Bennett, que esperava alguns lançamentos de mísseis palestinianos em resposta a essas provocações antes de lançar uma nova onda de bombardeamentos sobre Gaza.

A 1 de Agosto, o principal líder da Jihad Islâmica na Cisjordânia, Bassam el Saadi, foi preso na sua casa, no Campo de refugiados de Jenin, por um comando israelita. Al Saadi já foi preso várias vezes e passou 15 anos em prisões israelitas. Dois dos seus filhos foram mortos pelo Exército israelita, durante a invasão do Campo em 2002, em que a sua casa foi destruída. Em resposta à detenção, a organização Jihad Islâmica exigiu a libertação imediata do seu líder. O Estado israelita acusou, imediatamente, a Jihad Islâmica de preparar “operações terroristas” em resposta à detenção de Bassam al-Saadi e apelou aos residentes dos colonatos, perto de Gaza, a protegerem-se em abrigos. Uma vez posta em marcha a provocação israelita, foi dada a ordem para bombardear Gaza “preventivamente”. Três dias de bombardeamentos preventivos causaram mais de 40 mortos, incluindo 6 crianças, e centenas de feridos – naquilo que os órgãos de comunicação social cúmplices apresentam como “um novo surto de violência entre Israel e o grupo da Jihad Islâmica”, colocando – como sempre – em pé de igualdade os agressores (armados até aos dentes) e os agredidos. Três dias de bombardeamentos preventivos e o fecho da única central eléctrica do território em condições de funcionar, em conjunto com a destruição de várias centenas de casas…

Um ataque israelita deliberado, completamente montado… crimes de guerra como argumento de uma campanha eleitoral

Depois de afirmarem que a morte da jornalista palestino-americana Shirine Abu Akleh foi causada pelo tiro de um Palestiniano (uma investigação, corroborada pelo próprio New York Times e várias organizações de Direitos humanos, demonstrou que ela foi realmente morta pelo tiro de um Israelita), os propagandistas do Estado hebraico afirmam que a morte de crianças palestinianas, no Campo de Jabaliya, no norte de Gaza, foi causada por um foguete palestiniano. Bombardear um território densamente povoado como a Faixa de Gaza equivale a querer matar civis deliberadamente.

Muitas testemunhas palestinianas confirmam que, como é sempre o caso no Estado israelita, esta ofensiva visa afirmar a autoridade do Chefe de Estado contra os seus concorrentes, em vésperas de novas eleições legislativas. Elas terão lugar a 1 de Novembro. O Primeiro-ministro Yair Lapid – apresentado como “moderado” pelos mesmos órgãos de comunicação cúmplices – disse aos oficiais do Exército israelita: “A escolha não é entre mim e Netanyahu, mas entre o futuro e o passado”. Para além das declarações demagógicas de circunstância, ao dar a ordem de bombardear – preventivamente – a Faixa de Gaza, Lapid mostra que a sua concepção do futuro se confunde com o passado e o presente de uma mesma política contra o povo palestiniano, com base no princípio da punição colectiva.

Em todos os casos, trata-se de negar ao povo palestiniano o seu direito à terra, à sua identidade e ao seu direito à existência. No domingo (7 de Agosto) à noite, a perspectiva de uma trégua foi proposta pelo Egipto do marechal Sissi – um cúmplice do Estado israelita, que tem vindo a organizar com este o bloqueio de Gaza, desde há 15 anos.

“Em toda a Palestina, para além das divisões territoriais impostas, este novo teste apenas reforça a convicção de que somos um único povo”, diz um militante.

8 de Agosto de 2022

Crónica de François Lazar (com os nossos correspondentes na Palestina) publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 718, de 10 de Agosto de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Palestina: A Intifada da reunificação

15 de Maio em Jerusalém, uma concentração de manifestantes judeus e árabes contra a violência e as ameaças de expulsão.

Há mais de uma semana que um novo dilúvio de bombardeamentos tem chovido sobre a Faixa de Gaza.

Edifícios inteiros estão a ser destruídos por bombas de força considerável, que já causaram a morte de mais de 200 civis, incluindo 75 crianças. Mais uma vez, a população palestiniana da Faixa de Gaza está a ser objecto de um ódio destruidor. Na Cisjordânia, a revolta em massa da juventude, apesar de um sistema de controlo policial violento e sofisticado, constitui o eco do mesmo movimento de revolta da juventude palestiniana dentro do Estado israelita.

Tal como acontece nas ditaduras, a Polícia dispara para matar, a repressão é sangrenta. Apesar disso, a mobilização torna-se mais forte de dia para dia.

Mais uma vez, os órgãos da Comunicação social ao serviço do Sistema estão a tentar justificar a matança. Eles estão longe da posição tomada pelo jornalista israelita Gideon Levy que denuncia aqueles que – jornalistas e especialistas em segurança – estão “sedentos de sangue” e se deletam com insinuações abertamente racistas, nunca lhes faltando argumentos para explorar o anti-semitismo ou para justificar os piores horrores.

Não há qualquer vontade da “comunidade internacional” em avançar numa resolução democrática da situação na Palestina.

O “democrata” Biden, seguindo os passos dos seus predecessores, acaba de vetar uma condenação na ONU, por mais tímida que seja, da acção de Israel… ao mesmo tempo que aprova, como nos recorda o Washington Post, um novo envio de armamento para Israel, no valor de 735 milhões de dólares, e, em simultâneo, apela ao “cessar-fogo”. Sempre a mesma hipocrisia.

O veto contra o povo palestiniano é uma mensagem permanente enviada pelo imperialismo aos povos de todo o mundo. A tentativa para expulsar as famílias do bairro do Cheikh Jarrah, em Jerusalém, é apenas o último episódio da “Nakba” (catástrofe) de 1948.

É para ocultar a responsabilidade israelita que foi inventada a expressão “processo de paz”. Uma fórmula caracterizada, no seu tempo, por Henri Siegman – ex-líder do Congresso Judaico Americano – como “a maior mistificação na história da diplomacia moderna”. Uma expressão que se assemelha à posição do Governo francês, que diz pretende “encontrar uma solução de estabilização duradoura para a região”.

Nesta situação, apesar dos obstáculos, o povo palestiniano – em Gaza, na Cisjordânia, bem como no interior do Estado israelita – acaba de reafirmar a sua unidade, num movimento sem precedentes em 75 anos. É a afirmação da falência dos Acordos de Oslo e da pseudo “solução de dois Estados”.

Este movimento – pela liberdade e igualdade em todo o território histórico da Palestina – está a avançar para a solução de um único Estado democrático, no qual todas as suas componentes populacionais (árabes e judias) terão direitos iguais.

Iniciou-se a Intifada da reunificação.

Crónica de François Lazar, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 655, de 19 de Maio de 2021, do Partido Operário Independente de França.