
Dezenas de milhares de pessoas participaram, no dia 25 de Fevereiro, na grande manifestação pela paz, de Alice Schwarzer e Sahra Wagenknecht, em Berlim.
Apresentamos extractos de um artigo publicado na edição online do jornal Berliner Zeitung.
A manifestação está prevista começar a qualquer momento. Para a dimensão da manifestação, ela é notavelmente calma. Para onde quer que se olhe, vêem-se bandeiras com a pomba da paz. É sábado, na Praça 18 de Março, no lado oeste das Portas de Brandemburgo. A multidão está à espera de Sahra Wagenknecht e de Alice Schwarzer, que apelaram ao “Levantamento pela Paz”. Uma porta-voz do evento anuncia que já existem no local 50.000 pessoas. Há ainda mais, dizem, que estão a caminho do centro da cidade.
“Este é o início de um movimento de cidadãos”, é uma das primeiras frases de Alice Schwarzer ao pegar no microfone. Há quinze dias, a militante política de esquerda Sahra Wagenknecht e a activista dos direitos das mulheres Alice Schwarzer publicaram, conjuntamente, um “Manifesto pela Paz” (1), no qual apelavam a negociações de paz com a Rússia e uma paragem no envio de armas à Ucrânia. Alice Schwarzer disse: “Não é o povo que está errado, mas os seus representantes. (…) Espero que, em breve, sejamos um milhão. E é maravilhoso que todos vós estejam aqui e defendam connosco a paz”.
Wagenknecht acerta contas com o Governo federal
Sahra Wagenknecht regressa ao palco perante aplausos estrondosos. Ela diz: “De agora em diante, levantaremos tão alto a nossa voz que ninguém poderá deixar de nos ouvir.”
Wagenknecht distanciou-se dos grupos de Direita, e falou de um debate doentio que estava a ter lugar na Alemanha. O nível de discussão política perdeu-se. O Governo está agora tão “bêbado de guerra” que já não vê o perigo imediato de uma guerra nuclear. Anton Hofreiter (Verdes) é um “Panzertoni” (“amante de tanques”) e Marie-Agnes Strack-Zimmermann (FDP, Partido da Liberdade) é uma “lobista do armamento” (2). Os participantes na manifestação gritam e aplaudem.
Sahra Wagenknecht acrescenta: “O relógio da guerra nuclear marca 12 horas menos 90 segundos. Nunca como agora, o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear, nem mesmo durante a Guerra Fria. (…) Já não acreditamos nas vossas mentiras. Sabemos que os vossos tanques estão lá para fazer a guerra.” Os manifestantes dão vivas e aplaudem.
Por outro lado, ouve-se um coro de apupos quando é nomeada a ministra dos Negócios Estrangeiros Annalena Baerbock (Verdes). Wagenknecht afirma: “Baerbock é como um elefante numa loja de porcelanas, no palco internacional”. Ela disse que os Verdes se tinham tornado nos “tolos verdes das pistolas”.
Wagenknecht foi fortemente crítica do rumo do Governo federal. As populações não se sentem representadas pelo chanceler Olaf Scholz (SPD), “que hesita sempre no início e promove a prudência e a cautela, mas que depois se submete frequentemente perante os tambores de guerra da sua Coligação e atravessa uma linha vermelha atrás de outra”.
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(1) O “Manifesto pela Paz”, que esteve na base do comício pela paz nas Portas de Brandemburgo, a 25 de Fevereiro, já tinha a subscrição de 692.604 pessoas (às 10:30 do dia 27/02/2023).
(2) Na Alemanha, existe um Governo de coligação, liderado pelo SPD, em que participam também os Verdes e o partido “liberal” FDP.