Quinhentos mil manifestantes em Madrid, a 13 de Novembro.
A 13 de Novembro, realizou-se uma manifestação em Madrid contra a política de privatização do Governo regional, que está a atacar em particular os Centros de cuidados primários de Saúde. De facto, o mais recente Decreto do Governo regional (de Madrid) leva à redução para metade do número de médicos, enfermeiros e restante pessoal de saúde nestes Centros. Eles são o pilar básico de todo o Sistema de cuidados de saúde para a população, que permanecem, apesar de tudo, públicos e gratuitos.
O objectivo declarado do Governo regional é a promoção de redes privadas, em particular no sector da Saúde. Embora este Governo da Região Autónoma de Madrid seja de direita, todos os governos regionais – independentemente da sua cor política – estão a pôr em prática as mesmas medidas. Na Catalunha, por exemplo, com um Governo regional formalmente “de esquerda” e soberanista, a escassez de profissionais de Saúde é a mesma ordem de grandeza que em Madrid.
A manifestação do passado domingo foi um verdadeiro levantamento popular, que arrastou consigo todos os partidos de esquerda e todos os sindicatos, bem como as várias associações de moradores, de utentes, etc.
Quatro cortejos massivos, provenientes dos bairros populares, convergiram para a praça central de Las Cibeles, bem conhecida por albergar – em geral – todas as grandes manifestações populares. De acordo com todas as estimativas, não havia menos de quinhentos mil manifestantes.
A partir do dia 14 de Novembro, foram anunciadas outras manifestações no resto do país: na Andaluzia, no País Basco, na Cantábria, etc.
A manifestação de domingo em Madrid é uma expressão do movimento da classe operária e das populações contra a política de guerra levada a cabo pelo Governo central e replicada por todos os governos regionais.
Numa situação em que 24% da população está à beira da pobreza, o ministro da Defesa, Robles, acaba de anunciar que 80% do vestuário militar para o Inverno será fornecido ao Exército ucraniano.
Crónica publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 732, de 16 de Novembro de 2022, do Partido Operário Independente de França.
Acabou de ter lugar a Cimeira da NATO, em Madrid, a 29 e 30 de Junho. Também em Madrid, realizou-se um Encontro internacional contra essa Cimeira, no qual participou uma delegação portuguesa.
Divulgamos abaixo o Apelo saído desse Encontro.
APELO do Encontro Europeu de Madrid
contra a guerra, «Nem Putin, Nem NATO!»
Trabalhadores, jovens e militantes de organizações populares e operárias da Alemanha, Grécia, Bélgica, Portugal, Roménia, França e Espanha reunimo-nos no sábado, 25 de Junho, em Madrid, para agir contra a guerra, contra aqueles que a organizam ou dela beneficiam. Recebemos também mensagens da Suíça, Áustria, Itália, Irlanda, Dinamarca e Moldávia.
O presidente Biden vai presidir em Madrid, nos dias 29 e 30 de Junho, à Cimeira da NATO, acolhida pelo Governo espanhol, em presença do Rei de Espanha, dos chefes de Estado e dos chefes militares dos países da NATO. Esta Cimeira tem como objectivo acrescentar mais guerra à guerra.
Nós, que exigimos desde o primeiro dia um cessar-fogo e a retirada do exército de Putin da Ucrânia, queremos denunciar a torrente de mentiras com que somos inundados todos os dias.
Esta guerra não é, nem uma guerra para defender a Rússia – como pretende Putin – nem uma guerra “em defesa dos valores da Europa”, como pretendem Biden, Scholtz, Johnson, Macron e Draghi. A guerra que devasta a Ucrânia que opõe os oligarcas russos representados por Putin e os chefes dos monopólios imperialistas, representados pelos chefes de Estado membros da NATO, é uma guerra pelo controlo e abastecimento de matérias-primas.
É uma guerra entre predadores que tomaram como refém o povo ucraniano; é uma guerra em que o horror serve de pretexto para a mais formidável campanha de rearmamento da Europa. Todos os dias os nossos governos aproveitam o ensejo para anunciar o envio dos mais sofisticados materiais de guerra para o terreno.
Uma engrenagem mortífera está em marcha
Ao contrário da propaganda dos nossos governos, os 100 mil soldados do Exército dos EUA – estacionados nas 120 bases da NATO, na Europa – não fazem mais do que trazer as guerras para o coração do nosso continente. Os milhares de soldados norte-americanos, de bombardeiros e de navios de guerra, instalados em três grandes bases militares no sul de Espanha, estão aí contra os povos e não a favor da paz no Leste.
O Exército norte-americano instalado nas bases da NATO, na Grécia e na Turquia, contribui para os conflitos e para a instauração de regimes autoritários. Lembremo-nos que foi a NATO, com os seus bombardeamentos indiscriminados e homicidas, que causou milhares de mortos na Sérvia e no Kosovo.
A NATO é a guerra, é a intervenção directa do imperialismo norte-americano na Europa, espezinhando a soberania dos povos, impondo o vertiginoso aumento dos orçamentos militares.
A União Europeia e os governos europeus consagram cada vez mais milhares de milhões para a guerra e suprimem milhares de milhões à Educação, à Saúde e às pensões de aposentação. A guerra, combinada com a especulação, provoca indigência e subida de preços, que atiram milhões de pessoas para a miséria, na Europa e em todos os continentes.
Só a classe operária e os povos da Europa estão em medida de poder travar esta engrenagem mortífera!
Só a classe operária e os povos da Europa podem repudiar os orçamentos para o armamento e impor que essas centenas de milhar de milhões canalisados para a guerra sejam afectos à reconstrução dos sistemas de Saúde, aos sistemas públicos de Educação, etc.
A militarização dos países da Europa e a intervenção da NATO nos assuntos internos dos países andam de mãos dadas com a redução crescente da liberdade e da democracia.
Mobilizações e protestos contra a guerra têm lugar em diferentes países. Militantes, responsáveis, eleitos para cargos públicos e organizações recusam a União nacional exigida pelos governos para fazerem a guerra. Na Alemanha, alguns deputados votaram contra os 100 mil milhões de euros adicionais para a guerra. Um deles disse: “Como as sanções fizeram disparar os preços da energia, a Rússia prevê para este ano receitas suplementares de quase 14 mil milhões de euros… Portanto, a política de sanções só beneficia os principais grupos energéticos – Gazprom, bem como ExxonMobil, Shell, BP ou Aramco – e prejudica os consumidores e os assalariados que deverão temer pela manutenção dos seus postos de trabalho…”.
Lado a lado com todas estas mobilizações, exigimos:
O encerramento das bases da NATO, e que os soldados regressem a casa!
Os nossos governos, ao mesmo tempo que atacam todas as conquistas sociais, querem que as organizações sindicais renunciem às reivindicações mais imediatas, como às mais fundamentais: pensões de aposentação, protecção social, serviços públicos, …
Saudamos a greve de 20 de Junho, na Bélgica, e os 80 mil manifestantes que, em Bruxelas, exigiram aumentos salariais e o restabelecimento da escala móvel dos salários.
Amanhã, 26 de Junho, estaremos nas ruas de Madrid na manifestação convocada por numerosas organizações, juntamente com os sindicatos, contra a guerra e contra a NATO.
É da responsabilidade de todos os militantes operários, de todos os democratas, levar por diante a luta contra a guerra, unir o movimento contra a guerra à luta pela paz, pelo pão, pela saúde e pela liberdade, pelo congelamento dos preços e pelo aumento dos salários, contra os governos e o capitalismo sempre bárbaro.
Realizámos uma Vídeo-conferência contra a guerra, a 9 de Abril, convocada pela Nova Corrente de Esquerda para a Libertação Comunista (NAR – Grécia) e pelo Partido Operário Independente (POI – França), estabelecendo um primeiro laço entre participantes de 19 países. Hoje, o nosso encontro em Madrid e os nossos intercâmbios mostram que começam a juntar-se forças mais importantes. Lançamos este apelo para se agruparem para agir e constituímos um Comité de Ligação.
É tempo de pôr fim ao Sistema capitalista que, através da guerra e tendo o lucro como única regra, destrói tudo – vidas, cidades, civilização e meio ambiente.
Fim imediato das hostilidades militares!
Cabe ao povo ucraniano decidir sobre o seu destino!
Que a Rússia se retire da Ucrânia, que a NATO e a UE deixem de se expandir para a Ucrânia ou para qualquer outro país!
Estamos ao lado de todos os que se mobilizam contra a entrada do seu país na NATO. Lutamos contra as alianças militares (NATO, AUKUS,…).
Nenhum envio de armamento, visto que isso contribui para a escalada bélica.
Lutamos pelo “chumbo” dos orçamentos militares: essas centenas de milhar de milhões de euros devem ser investidas na Saúde, na Educação, para ajuda aos desempregados, para as necessidades sociais, e não para armas!
A mobilização de milhões de pessoas contra os Governos, a UE e a NATO é a única via para parar as guerras do capital.
Resolução aprovada, por unanimidade, a 25 de Junho
O significado político do resultado das eleições na Comunidade de Madrid é óbvio. Para além da importância institucional do Governo regional, o que se deve perguntar é porque é que a gestão desastrosa da Saúde, da Educação e dos serviços públicos – por parte do governo de Ayuso (do Partido Popular – PP) – permitiu, apesar de tudo, que este voltasse a ganhar as eleições.
Haverá quem culpe a população trabalhadora, mas o resultado decorre do balanço que esta parte da população faz do Governo do Estado (central), o qual pretende ser “progressista”. Recordemos que Pedro Sánchez chegou ao Governo – após a moção de censura ao Governo do PP (de Rajoy), a 30 de Maio de 2018. A seguir, em Janeiro de 2020, foi formado um Governo de coligação com o Podemos e a Esquerda Unida.
Tivemos praticamente três anos de Governo central, em que a grande maioria das expectativas que ele suscitou entre a população trabalhadora – a maioria da sociedade – foram frustradas. As primeiras promessas de inverter as contra-reformas sociais e políticas do governo de Rajoy foram rapidamente esquecidas.
Para além disso: apesar da pandemia, o desmantelamento dos cuidados de saúde pública continuou – uma questão que não é apenas um produto da política de Ayuso, mas é geral em todo o Estado. Os cortes de mais de 30.000 milhões de euros nos cuidados de saúde ainda não foram recuperados. Algo essencial que “foi esquecido” na campanha eleitoral. Uma campanha em que se permitiu que Ayuso e os partidos franquistas aparecessem quase como vítimas.
É este o preço da submissão à Monarquia e da recusa de abolição da “Lei Mordaça” (1); pelo contrário, com o “Estado de Alarme”, o Ministro Marlaska tem sido o seu principal defensor. Ao recusar revogar as reformas laborais e das pensões (2) e passar a outra coisa, ou seja, para um pretenso “novo Contrato Social” ao gosto da União Europeia, uma vez que esta é uma das condições para a obtenção dos Fundos europeus.
Os resultados eleitorais não podem esconder o facto de que a população de Madrid, tal como a de todos outros povos do Estado espanhol, continua a exigir cuidados de Saúde pública, pensões de aposentação decentes, o fim da vaga de despedimentos, o regresso ao ensino presencial – o único ensino verdadeiro – e a recuperação de todas as liberdades. E isso não se reflecte nas forças que compõem o Governo “progressista”. Se o Governo continuar neste caminho… irá entregar-nos aos Ayusos.
Mais cedo ou mais tarde, será a mobilização unida dos trabalhadores e dos povos que abrirá a porta à solução dos seus problemas vitais. Uma questão que irá colocar as organizações – que afirmam defender a maioria social – perante a necessidade de escolher: ou a defesa do Regime monárquico de exploração e opressão, ou o apoio às reivindicações da maioria, abrindo assim o caminho à República.
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(1) Trata-se da Ley Orgánica de Protección de la Seguridad Ciudadana – que é conhecida como “lei Mordaça” e limita drasticamente a liberdade de expressão.
(2) Pelo contrário, “trata-se de esquecer 2012” (ou seja, as reformas laborais) como disse a Ministra do Trabalho, Yolanda Diaz, apoiada pelos secretários-gerais das CCOO e da UGT.
Editorial do periódico Información Obrera – Tribuna livre da luta de classes em Espanha – nº 358 de 5 de Maio de 2021.