Palestina: um barril de pólvora

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, fez uma declaração à sua chegada ao aeroporto Ben-Gourion, perto de Telavive, a 30 de Janeiro de 2023.

O Estado israelita está a atravessar um período de crise sem precedentes. Várias manifestações massivas expressaram a rejeição, por uma parte significativa da população judaica, dos propósitos do governo de Netanyahu. Marcado pela sua aliança com a extrema-direita religiosa que exige a anexação dos territórios da Cisjordânia e a aceleração da sua colonização, o Governo também pretende pôr em causa várias prerrogativas do Supremo Tribunal de Justiça de Israel.

Ao mesmo tempo, uma nova onda de repressão atinge a Cisjordânia. Peritos militares estão publicamente preocupados com o aumento das tensões que podem levar a uma nova Intifada. O Estado-maior do Exército de ocupação, por seu turno, tem as suas tropas a enquadrar e proteger os colonos, perante todos os seus abusos. Face ao colapso da Autoridade Palestiniana – e como se trata de preparar a anexação directa da Cisjordânia – o Exército de ocupação duplicou o número dos seus batalhões permanentes na Cisjordânia, de 13 para 26.

No dia 26 de Janeiro, numa acção apresentada como “preventiva”, uma operação do Exército de ocupação no acampamento de Jenin resultou na morte de 9 militantes e civis palestinianos, tendo 20 ficado feridos.

Este foi o maior massacre em cinco anos. No dia seguinte, num gesto desesperado, um Palestiniano abriu fogo sobre transeuntes israelitas, no colonato de Neveh Yaacov, matando 7 deles. Na confusão seguinte, foi um jovem de 13 anos que disparou contra judeus religiosos antes de ser abatido. O jornalista franco-israelita Charles Enderlin, especificando ao mesmo tempo que os tiros não tiveram lugar numa sinagoga (ao contrário do que diz a mensagem de apoio escrita pelo presidente Macron), mas sim na rua, observa que foram ouvidos gritos de “morte aos esquerdistas”, numa manifestação de colonos israelitas, referindo-se directamente não à população palestiniana, mas sim aos manifestantes israelitas que protestam contra as ameaças ao seu Sistema judicial, ou seja contra aqueles que, de forma sistemática e corajosa, afirmam o seu apoio à população palestiniana vítima de abusos por parte dos colonos. Charles Enderlin indica que as câmaras de estações de televisão israelitas foram atacadas pelos colonos que se manifestavam e que os jornalistas tiveram de fugir.

De acordo com a contagem das associações palestinianas mais de 170 Palestinianos, incluindo 30 crianças, foram mortos a tiro – na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental – em 2022. Só em Janeiro de 2023, 30 pessoas já foram mortas, incluindo 5 crianças, o que leva um representante da ONU a dizer, citado pela Agência al Jazeera, que se “2022 foi o pior ano, desde 2006, em termos de número de mortes, 2023 já está em vias de o ultrapassar”.

Blinken e o Chefe da CIA em Telavive

Há alguns dias, os colonos saquearam um bar no bairro cristão de Jerusalém, e o Patriarca arménio foi agredido porque levava içada uma bandeira arménia. No programa “C politique”, Charles Enderlin explicou que “os jovens palestinianos consideram que não têm futuro, e pequenos grupos estão a começar a resistir (…); mas, perante o rolo compressor do Exército israelita, eles não têm qualquer hipótese”.

A situação no acampamento de Jenin, rodeado de postos de controlo, é particularmente catastrófica a nível económico, especialmente porque é um dos principais centros de oposição à Autoridade Palestiniana. Todos os observadores notam que esta Autoridade é odiada pela grande maioria da população palestiniana, devido à corrupção que nela reina e ao seu papel (ao assumir-se como um auxiliar de segurança do Exército israelita).

Militantes acreditam que Netanyahu pode ter interesse, dada a situação política em Israel, em levar a cabo operações de retaliação com resultados significativos; alguns temem uma nova guerra – bombardeamentos acabam de recomeçar contra a Faixa de Gaza. No entanto, apesar da situação de repressão, uma nova manifestação teve lugar a 28 de Janeiro, reunindo 60 mil pessoas em Tel Aviv, contra as medidas planeadas por Netanyahu.

Também a 28 de Janeiro, Nafissa Khabees – militante palestiniana do bairro de Sheikh Jarrah – foi presa enquanto protestava contra os despejos, como ela o faz todas as semanas; e, a 29 de Janeiro, vários militantes palestinianos foram detidos em postos de controlo militar na Cisjordânia, entre eles Yahia Zubeidi.

No dia seguinte à morte dos colonos em Neveh Yaacov, ministros qualificados como extremistas religiosos, incluindo Ben-Gvir (ideólogo de extrema-direita que é o responsável pela segurança no governo de Netanyahu) e Smotrich (deputado da extrema-direita), apelaram à destruição das casas das famílias e parentes dos Palestinianos que abriram fogo e à aceleração da expulsão e da colonização dos lares palestinianos que eles cobiçam em Jerusalém, bem como ao reforço do armamento dos colonos.

Netanyahu, pela sua parte, indicou que o Estado tomará medidas, enquanto apela aos colonos israelitas na Cisjordânia para não fazerem lei pelas suas próprias mãos.

Temendo uma situação que poderia rapidamente ficar fora de controlo, Joe Biden anunciou que a visita planeada ao Médio Oriente pelo seu Secretário de Estado, Anthony Blinken, juntamente com o Director da CIA – principalmente para discutir as relações do Irão com os aliados árabes – incluirá o Estado de Israel.

Crónica da autoria de François Lazar, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 742, de 1 de Fevereiro de 2023, do Partido Operário Independente de França.

Palestina: O Estado israelita desencadeia “de forma preventiva” novos massacres contra a população de Gaza

Desde há vários meses, a repressão israelita contra os militantes palestinianos intensificou-se, particularmente em Jenin e Nablus (na Cisjordânia), onde têm vindo a ter lugar sucessivas operações de Comandos das forças ocupantes. Para além destas operações de assassinato selectivo, grupos de “militantes sionistas radicais” – como a própria imprensa israelita os descreve, ou seja os colonos israelitas na Cisjordânia – multiplicam as suas provocações, nomeadamente invadindo, há apenas alguns dias e no domingo passado, a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, e sempre sob protecção policial. Já no ano passado, a decisão estratégica das organizações palestinianas de não responder às provocações frustrou os planos do então Primeiro-ministro, Naftali Bennett, que esperava alguns lançamentos de mísseis palestinianos em resposta a essas provocações antes de lançar uma nova onda de bombardeamentos sobre Gaza.

A 1 de Agosto, o principal líder da Jihad Islâmica na Cisjordânia, Bassam el Saadi, foi preso na sua casa, no Campo de refugiados de Jenin, por um comando israelita. Al Saadi já foi preso várias vezes e passou 15 anos em prisões israelitas. Dois dos seus filhos foram mortos pelo Exército israelita, durante a invasão do Campo em 2002, em que a sua casa foi destruída. Em resposta à detenção, a organização Jihad Islâmica exigiu a libertação imediata do seu líder. O Estado israelita acusou, imediatamente, a Jihad Islâmica de preparar “operações terroristas” em resposta à detenção de Bassam al-Saadi e apelou aos residentes dos colonatos, perto de Gaza, a protegerem-se em abrigos. Uma vez posta em marcha a provocação israelita, foi dada a ordem para bombardear Gaza “preventivamente”. Três dias de bombardeamentos preventivos causaram mais de 40 mortos, incluindo 6 crianças, e centenas de feridos – naquilo que os órgãos de comunicação social cúmplices apresentam como “um novo surto de violência entre Israel e o grupo da Jihad Islâmica”, colocando – como sempre – em pé de igualdade os agressores (armados até aos dentes) e os agredidos. Três dias de bombardeamentos preventivos e o fecho da única central eléctrica do território em condições de funcionar, em conjunto com a destruição de várias centenas de casas…

Um ataque israelita deliberado, completamente montado… crimes de guerra como argumento de uma campanha eleitoral

Depois de afirmarem que a morte da jornalista palestino-americana Shirine Abu Akleh foi causada pelo tiro de um Palestiniano (uma investigação, corroborada pelo próprio New York Times e várias organizações de Direitos humanos, demonstrou que ela foi realmente morta pelo tiro de um Israelita), os propagandistas do Estado hebraico afirmam que a morte de crianças palestinianas, no Campo de Jabaliya, no norte de Gaza, foi causada por um foguete palestiniano. Bombardear um território densamente povoado como a Faixa de Gaza equivale a querer matar civis deliberadamente.

Muitas testemunhas palestinianas confirmam que, como é sempre o caso no Estado israelita, esta ofensiva visa afirmar a autoridade do Chefe de Estado contra os seus concorrentes, em vésperas de novas eleições legislativas. Elas terão lugar a 1 de Novembro. O Primeiro-ministro Yair Lapid – apresentado como “moderado” pelos mesmos órgãos de comunicação cúmplices – disse aos oficiais do Exército israelita: “A escolha não é entre mim e Netanyahu, mas entre o futuro e o passado”. Para além das declarações demagógicas de circunstância, ao dar a ordem de bombardear – preventivamente – a Faixa de Gaza, Lapid mostra que a sua concepção do futuro se confunde com o passado e o presente de uma mesma política contra o povo palestiniano, com base no princípio da punição colectiva.

Em todos os casos, trata-se de negar ao povo palestiniano o seu direito à terra, à sua identidade e ao seu direito à existência. No domingo (7 de Agosto) à noite, a perspectiva de uma trégua foi proposta pelo Egipto do marechal Sissi – um cúmplice do Estado israelita, que tem vindo a organizar com este o bloqueio de Gaza, desde há 15 anos.

“Em toda a Palestina, para além das divisões territoriais impostas, este novo teste apenas reforça a convicção de que somos um único povo”, diz um militante.

8 de Agosto de 2022

Crónica de François Lazar (com os nossos correspondentes na Palestina) publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 718, de 10 de Agosto de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Total solidariedade com o povo palestiniano, face à guerra genocida travada pela entidade sionista

Mais uma vez, há dois dias que o povo palestiniano sofre ataques criminosos, visando os habitantes de Gaza e da Cisjordânia, com ataques aéreos que estão a causar dezenas de mortos e feridos e a destruir infra-estruturas básicas.

Ao mesmo tempo, houve várias detenções de militantes palestinianos em rusgas levadas a cabo pelas forças de ocupação sionistas.

Isto acontece algumas semanas após a visita do Presidente dos EUA, Joe Biden, ao Médio Oriente e a intensificação e consolidação das relações entre a entidade sionista e os regimes monárquicos do Golfo, liderados pelos Emirados Árabes Unidos.

Se a entidade sionista sempre gozou da protecção das potências imperialistas, a começar pela Administração norte-americana, na sua política criminosa e genocida, hoje em dia as mãos dos regimes árabes que normalizam as suas relações com a entidade sionista estão manchadas com o sangue dos palestinianos, mulheres, crianças, bebés…

O Partido dos Trabalhadores (da Argélia) expressa a sua total solidariedade com o povo palestiniano que, em múltiplas ocasiões, tem demonstrado um apego visceral aos seus direitos históricos, violados pela entidade sionista desde a sua criação, em 1948, por uma Resolução da ONU.

Mais uma vez, estes ataques bárbaros confirmam que nenhum processo de paz é possível com a existência de uma entidade cujo único objectivo é enterrar a causa palestiniana, cometendo crimes contra a humanidade, e que a chamada solução de dois Estados é uma miragem.

O Partido dos Trabalhadores junta a sua voz à de todos os homens e mulheres livres, em todo o mundo, que rejeitam a política do facto consumado que a entidade sionista quer impor, com a cumplicidade dos regimes árabes normalizadores, sob o patrocínio do imperialismo.

Comunicado de imprensa do Partido dos Trabalhadores (da Argélia), de 7 de Agosto de 2022