Palestina: A Intifada da reunificação

15 de Maio em Jerusalém, uma concentração de manifestantes judeus e árabes contra a violência e as ameaças de expulsão.

Há mais de uma semana que um novo dilúvio de bombardeamentos tem chovido sobre a Faixa de Gaza.

Edifícios inteiros estão a ser destruídos por bombas de força considerável, que já causaram a morte de mais de 200 civis, incluindo 75 crianças. Mais uma vez, a população palestiniana da Faixa de Gaza está a ser objecto de um ódio destruidor. Na Cisjordânia, a revolta em massa da juventude, apesar de um sistema de controlo policial violento e sofisticado, constitui o eco do mesmo movimento de revolta da juventude palestiniana dentro do Estado israelita.

Tal como acontece nas ditaduras, a Polícia dispara para matar, a repressão é sangrenta. Apesar disso, a mobilização torna-se mais forte de dia para dia.

Mais uma vez, os órgãos da Comunicação social ao serviço do Sistema estão a tentar justificar a matança. Eles estão longe da posição tomada pelo jornalista israelita Gideon Levy que denuncia aqueles que – jornalistas e especialistas em segurança – estão “sedentos de sangue” e se deletam com insinuações abertamente racistas, nunca lhes faltando argumentos para explorar o anti-semitismo ou para justificar os piores horrores.

Não há qualquer vontade da “comunidade internacional” em avançar numa resolução democrática da situação na Palestina.

O “democrata” Biden, seguindo os passos dos seus predecessores, acaba de vetar uma condenação na ONU, por mais tímida que seja, da acção de Israel… ao mesmo tempo que aprova, como nos recorda o Washington Post, um novo envio de armamento para Israel, no valor de 735 milhões de dólares, e, em simultâneo, apela ao “cessar-fogo”. Sempre a mesma hipocrisia.

O veto contra o povo palestiniano é uma mensagem permanente enviada pelo imperialismo aos povos de todo o mundo. A tentativa para expulsar as famílias do bairro do Cheikh Jarrah, em Jerusalém, é apenas o último episódio da “Nakba” (catástrofe) de 1948.

É para ocultar a responsabilidade israelita que foi inventada a expressão “processo de paz”. Uma fórmula caracterizada, no seu tempo, por Henri Siegman – ex-líder do Congresso Judaico Americano – como “a maior mistificação na história da diplomacia moderna”. Uma expressão que se assemelha à posição do Governo francês, que diz pretende “encontrar uma solução de estabilização duradoura para a região”.

Nesta situação, apesar dos obstáculos, o povo palestiniano – em Gaza, na Cisjordânia, bem como no interior do Estado israelita – acaba de reafirmar a sua unidade, num movimento sem precedentes em 75 anos. É a afirmação da falência dos Acordos de Oslo e da pseudo “solução de dois Estados”.

Este movimento – pela liberdade e igualdade em todo o território histórico da Palestina – está a avançar para a solução de um único Estado democrático, no qual todas as suas componentes populacionais (árabes e judias) terão direitos iguais.

Iniciou-se a Intifada da reunificação.

Crónica de François Lazar, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 655, de 19 de Maio de 2021, do Partido Operário Independente de França.

Povo palestiniano: Mais uma vez sob o fogo da repressão

Os confrontos multiplicam-se, com uma repressão feroz por parte da Polícia israelita. O Estado de Israel tenta desviar a atenção, bombardeando mais uma vez a Faixa de Gaza, causando assim dezenas de mortos e centenas de feridos.

A tarde de 10 de Maio foi marcada por dezenas de comícios, cenas de rebelião em várias cidades e vilas da Galileia (Al Jalil). A cidade de Haifa está controlada pela Polícia. Um manifestante foi morto pela Polícia israelita em Lod, perto de Telavive. Na Cisjordânia, a Autoridade Palestiniana reprimiu manifestações de apoio aos Palestinianos em Jenin e Ramallah.

Netanyahu decidiu mandar retirar os militares da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, e as celebrações anuais israelitas, a realizar no contexto da ocupação (a “reunificação” nas palavras dos sionistas) de Jerusalém em 1967, foram canceladas. Os Chebabs (jovens) encaram estes factos como uma vitória da sua mobilização.

Isto está a acontecer alguns dias antes da comemoração da Nakba (“Catástrofe”) de 1948, que terá lugar a 15 de Maio.

De facto, há mais de três meses que as populações palestinianas, a viver dentro das fronteiras de 1948 (Estado de Israel), têm vindo a manifestar-se. Esta Intifada de Jerusalém é a expressão da resistência das famílias e da população às ameaças de expulsão – em resposta às exigências dos colonos, que dizem ter direito à propriedade eterna sobre as casas existentes na localidade de Cheikh Jarrah!

Para os Palestinianos, esta nova tentativa de “limpeza étnica” faz parte da aceleração da política do “apartheid”, levada a cabo pelo Sionismo, na continuidade do que aconteceu em 1948. Em resposta a estas novas provocações, têm ocorrido manifestações em massa contra as expulsões, contra as deslocalizações e a favor do direito de circulação em toda a Palestina, incluindo dentro do Estado de Israel, e muitos cidadãos judeus juntaram-se a elas.

As manifestações foram violentamente reprimidas, mas a mobilização não parou. A Polícia israelita tem utilizado balas de borracha, gás tóxico, canhões de água pútrida e granadas ensurdecedoras. Na sexta-feira e no sábado, a revolta foi massiva. Enquanto os líderes da Autoridade Palestiniana – de resto totalmente desacreditados, detestados e rejeitados pelos manifestantes – não estão autorizados a intervir em Jerusalém, o Departamento de Estado norte-americano acaba de apelar “à Palestina e a Israel para que parem a escalada”. Como se as responsabilidades fossem partilhadas! E os EUA utilizaram o seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedindo uma condenação, ainda que formal, das agressões criminosas de Israel.

Apelamos a todas as organizações operárias e democráticas para que apoiem a luta legítima do povo palestiniano, e para que denunciem a repressão feroz do Estado de Israel.

Não toquem no povo palestiniano!

Os coordenadores do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AIT)

Louisa Hanoune – Secretária-Geral do Partido dos Trabalhadores (da Argélia)

Dominique Canut – em nome do Secretariado Nacional do Partido Operário Independente (POI, de França)

Comunicado publicado, a 11 de Maio de 2021, pelo Comité Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI).