ALEMANHA: Cessar-fogo e negociações de paz, de imediato!

Sahra Wagenknecht e Alice Schwarzer lançaram, a 10 de Fevereiro, um “Manifesto pela Paz” (ver abaixo), o qual tem tido uma resposta inacreditável: 500.000 assinaturas já foram obtidas, apesar da cobertura hostil dos meios de Comunicação social. As assinaturas estão a ser registadas a uma taxa de cerca de uma por segundo.

Sahra Wagenknecht é membro do Bundestag alemão (Parlamento). Desde o início da guerra, ela tem-se oposto à escalada militar e aos 100 mil milhões adicionais para a guerra decididos pelo Primeiro-ministro Scholz. A luta de Wagenknecht contra a guerra e contra as sanções em relação à Rússia – causadores de escassez de energia eléctrica, do aumento de preços, da paragem de fábricas e do enriquecimento dos oligarcas russos – têm-lhe valido ataques de todos os lados: dos meios de Comunicação social, do SPD, dos Verdes, da Direita e da liderança do seu próprio partido (Die Linke – A Esquerda).

Alice Schwarzer é uma escritora e activista dos direitos da mulher, das mais conhecidas na Alemanha.

Sahra Wagenknecht – com base na ampla corrente que se está a formar dentro e fora do Die Linke, com posições convergentes – apela a um grande comício contra a guerra, no sábado (25 de Fevereiro), em frente à Porta de Brandenburgo, no coração de Berlim. Tendo em conta a rejeição generalizada da guerra, este apelo a um comício transformou-se, de imediato, num apelo a uma manifestação nacional, com o aluguer de autocarros em todo o país.

O sucesso do “Manifesto para a Paz” exprime a forte rejeição à guerra que existe na Alemanha, cada vez mais ligada à rejeição de toda a política do chanceler Scholz. Em seguida, a 4 de Março, realizar-se-á também em Berlim uma conferência, com a participação de militantes operários e de sindicalistas, combinando a luta contra a guerra militar com a luta contra a guerra social.

“Manifesto pela paz”

Hoje é o 352º dia de guerra na Ucrânia. Mais de 200.000 soldados e 50.000 civis foram mortos até agora. Mulheres têm sido violadas, crianças têm sido amedrontadas, um povo inteiro foi traumatizado. Se a luta continuar assim, a Ucrânia será em breve um país despovoado e destruído. E muitas pessoas, em toda a Europa, também têm medo de uma extensão da guerra. Elas temem pelo seu futuro e pelo dos seus filhos.

O povo ucraniano, brutalmente invadido pela Rússia, precisa da nossa solidariedade. Mas, o que é ser solidário agora? Por quanto tempo mais teremos de lutar e morrer no campo de batalha ucraniano? E qual é hoje, um ano mais tarde, o objectivo desta guerra? O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão falou, recentemente, do facto de “nós” estarmos a travar uma “guerra contra a Rússia”. Está a brincar?

O presidente Zelensky não faz segredo do seu objectivo. Depois dos tanques prometidos, ele exige agora aviões de combate, mísseis de longo alcance e navios de guerra – para derrotar a Rússia em toda a linha. Pelo seu lado, o Chanceler alemão continua a insistir que não vai enviar aviões de combate ou “tropas terrestres”. Mas quantas “linhas vermelhas” já foram cruzadas nos últimos meses?

É de temer que Putin lance um contra-ataque máximo, o mais tardar aquando de um ataque à Crimeia. Estaremos então, inexoravelmente, a ser arrastados por um declive escorregadio para a guerra mundial e a guerra nuclear? Não seria a primeira grande guerra a ter começado desta forma. Mas seria, talvez, a última.

A Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, poderá certamente ganhar algumas batalhas. Mas não pode ganhar uma guerra contra a maior potência nuclear do mundo. Isto é também o que diz o mais graduado oficial militar dos EUA, o general Milley. Ele declarou existir um impasse, em que nenhum dos lados pode ganhar militarmente e onde a guerra só poderá terminar na mesa das negociações. Então, porque não agora? De imediato!

Negociar não significa render-se. Negociar significa fazer cedências, de ambos os lados. Com o objectivo de evitar centenas de milhares de mortes suplementares e pior ainda. É isto que nós pensamos e pensa também metade da população alemã. Chegou o momento de nos ouvirem!

Nós, cidadãos alemães, não podemos agir directamente sobre os EUA e a Rússia, ou sobre os nossos vizinhos europeus. Mas podemos e devemos colocar o nosso Governo e o Chanceler que o lidera perante as suas responsabilidades e lembrá-los do seu juramento: “Evitar danos ao povo alemão”.

Pedimos ao Chanceler que pare a escalada do envio de armas. De imediato! Ele deve assumir a liderança de uma aliança forte, a nível alemão e europeu, para um cessar-fogo e negociações de paz. De imediato! Porque cada dia perdido custa cerca de 1.000 vidas – e  aproxima-nos mais de uma terceira guerra mundial.

Alice Schwarzer e Sahra Wagenknecht

Dinheiro para a Educação e não para a guerra

Uma semana após o Governo do PS ter decidido enviar alguns tanques Leopard-2 para a Ucrânia – os quais precisam, previamente de ser reparados com peças a comprar à Alemanha – o 6º Congresso do SPGL (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa) adoptou uma moção contra a guerra, com 148 votos a favor, 18 contra e 35 abstenções. No dia seguinte, houve 150 mil professores na rua em Lisboa, contra a política de guerra social que esse mesmo Governo continua a levar a cabo…

O estado de guerra está instalado na Ucrânia e não se antevê vontade, de nenhuma das partes em conflito, de querer negociar condições para a paz. Todos procuram dotar-se de meios para mais massacres, mais mortos,…

Esta guerra não é dos trabalhadores, tal como não é dos povos ucraniano e russo.

A economia portuguesa tem de orientar-se para o desenvolvimento do país e não pode sujeitar-se ao incrementar das despesas militares impostas pela NATO. A riqueza produzida deve ser canalizada para as funções sociais do Estado, entre as quais a Educação.

Os professores e educadores delegados ao 6º Congresso do SPGL, reunidos em 9 e 10 de Fevereiro de 2023 – honrando a luta de milhares e milhares de docentes portugueses na edificação de uma Escola para a Paz, a Cultura e a Democracia, formadora de cidadãos livres e intervenientes – propõem-se agir, em conjunto com o restante movimento sindical, em todas as ações de mobilização que forem no sentido da defesa e construção da paz.

Um balão…

Um balão meteorológico, de acordo com as autoridades chinesas, teria escapado ao seu controlo; trata-se de um balão espião, de acordo com a Administração norte-americana; e, por fim, esta mandou-o destruir, provocando a cólera da China e criando novas tensões. É claro, alguns dizem que Trump teria afirmado que se fosse agora presidente, teria imediatamente destruído o balão, e foi por isso que Biden tomou a decisão de o fazer.

É claro que há certamente um jogo de política interna nos EUA, mas acima de tudo isto é um aviso à China, à Rússia e ao mundo inteiro. É mais uma expressão de que os EUA pretendem ditar a sua lei. Isto acontece em simultâneo com o facto de que Washington está a acelerar a entrega de armas à Ucrânia, incluindo o anúncio da entrega de mísseis de longo alcance e de tanques Abrams.

A guerra vai durar muito tempo, dizem as autoridades norte-americanas. Uma guerra de desgaste contra o regime de Putin e uma guerra que está a causar centenas de milhares de mortes tanto de Ucranianos como de Russos.

O apelo “Fim à Guerra!”, lançado no passado mês de Dezembro, formula, com razão, a exigência de um cessar-fogo imediato e denuncia a responsabilidade da NATO e de Putin.

À medida que nos aproximamos do fim de um ano de guerra na Ucrânia, em vários países foram convocadas manifestações para 25 de Fevereiro – como é o caso da Itália, do Reino Unido, da Espanha e da Alemanha, ou então Grécia, onde foi convocada uma manifestação para 21 de Fevereiro, data em que o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, é esperado no país.

Crónica da autoria de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 743, de 8 de Fevereiro de 2023, do Partido Operário Independente de França.