Ensino à distância: Um protesto global está a crescer contra esta armadilha

Em Espanha, tal como na generalidade dos países, a situação está a piorar a cada hora que passa. Governos ao serviço da capital sempre tomaram como alvo o Ensino público, devido ao seu carácter de conquista operária e democrática. É por isso que eles consideram que a pandemia é uma oportunidade para agravar essa destruição, recorrendo em particular ao “ensino à distância”. É claro que não nos referimos à utilização pontual de meios audiovisuais de ensino, que é feita de forma subordinada no ensino presencial, nem a casos como o da UNED (1) – o que facilita os estudos universitários para certos grupos – nem àqueles em que circunstâncias sanitárias excepcionais realmente o exigirem (se bem que, neste caso, seja necessário fornecer todos os meios indispensáveis para prevenir a chamada “fractura digital”, que é apenas uma nova expressão da extensão da pobreza, ligada ao aumento da exploração e da destruição de empregos exigida pelo capital).

Referimo-nos sim ao uso interessado e à utilização abusiva da teleinformática como substituto do único ensino que pode, em geral, garantir o direito democrático à educação, reduzindo de facto as desigualdades sociais através da presencialidade e da provisão adequada de todos os meios necessários. Ou seja, o ensino público, gratuito, de qualidade e científico (e, portanto, laico), bem como o realizado cara-a-cara.

Em defesa do Ensino público, de qualidade e gratuito

Face a este ataque renovado à Educação pública, agora com a armadilha do Ensino à distância, vemos todos os dias expressões de resistência, como no caso da Itália.

Também em França, onde a organização estudantil União Nacional dos Estudantes de França (UNEF) explicou, num comunicado de imprensa de 10 de Janeiro: “Já há quase três meses que as universidades estão fechadas, os estudantes isolados nos seus quartinhos, privados de vida social, em condições de estudo que são completamente degradadas pelo ensino à distância, o qual é totalmente insuficiente” (descrevendo uma situação em que, na véspera, um estudante se tinha tentado suicidar em Lyon). O comunicado de imprensa termina apelando “a uma resposta das diferentes organizações de juventude, e para isso que lhes propomos-lhes um quadro de unidade para exigir em conjunto a reabertura das universidades e mais investimentos para os estudantes”.

Na América Latina, como resultado da Conferência “Tele-escola não é educação”, convocada pelo Comité de Ligação Internacional e Intercâmbio (CILI Américas), foi adoptado um “Manifesto para a defesa da educação pública, gratuita e obrigatória”. Ele explica o carácter social da Escola Pública, conquista das lutas sociais, e apela a organizar-se para a sua defesa.

Os inimigos da Educação pública, tais como dos outros direitos democráticos, utilizam a pandemia como álibi para tentar fazer com que o “ensino à distância” seja uma realidade que veio para ficar.

Nós, que nos mobilizamos para defender essa Educação pública, não nos podemos resignar com isso. É imperativo organizar a resistência, exigindo o fornecimento imediato e completo de todos os meios necessários para assegurar o ensino presencial total, sempre de acordo com os requisitos da protecção sanitária.

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(1) Universidade Nacional de Educação à Distância, que tem como equivalente em Portugal a Universidade Aberta.

Por Xabier Arrizabalo, professor na Universidade Complutense de Madrid e membro da sua Comissão de pessoal, ligada à Central sindical Comissões Operárias (Comisiones Obreras – CCOO)

Publicado no periódico Información Obrera – Tribuna livre da luta de classes em Espanha – nº 354, de Janeiro de 2021