Ucrânia: Escalada da guerra e consequências em todo o mundo

A guerra continua na Ucrânia. Está a intensificar-se particularmente no Donbass, com confrontos cada vez mais violentos.

Os EUA e as forças da NATO acabam de anunciar novas entregas massivas de armas. Os EUA também anunciaram que vão entregar armas pesadas à Ucrânia, o que não tinham feito até esta data.

A Rússia reagiu ameaçando com represálias. A escalada continua com os seus riscos para toda a humanidade.

Mas as consequências desta guerra já são mundiais.

Há, evidentemente, a questão dos preços do gás e do petróleo e da inflação.

Mas há também a questão do trigo.

A Rússia e a Ucrânia são responsáveis por 30% das exportações mundiais de trigo.

Devido ao bloqueio do Mar Negro, o trigo da Ucrânia está a ser retido e, em menor medida, igualmente o da Rússia, devido às sanções.

Os países directamente em risco estão no Médio-Oriente e em África, com alguns deles dependentes a 90% das importações de trigo russo e ucraniano.

Um artigo no website das Franceinfo afirma: “Revoltas da fome estão a emergir nos quatro cantos do mundo.”

FLASHES SOBRE A RÚSSIA E A UCRÂNIA

Um apelo contra a guerra de representantes eleitos do Partido Comunista da Rússia

Representantes eleitos do Partido Comunista da Rússia, da região de Primorye, no Extremo-Oriente russo, numa reunião da sua assembleia local, realizada a 27 de Maio, apelaram à paragem da ofensiva na Ucrânia. Foram então imediatamente impedidos de tomar de novo a palavra e o líder do grupo comunista nesta assembleia anunciou medidas de retaliação contra eles.

Não à guerra!

Num grande concerto de rock em São Petersburgo, na escuridão do salão, de repente vários jovens participantes no concerto de repente gritaram “Não à guerra!

Um rocker preso

Num concerto dado pela sua banda DDT, na cidade de Perm, Yuri Shevchuck expressou publicamente no microfone a sua oposição à guerra.

Ele denunciou a ofensiva contra a Ucrânia: “Agora, pessoas estão a ser mortas na Ucrânia, porquê? Os nossos homens estão a morrer na Ucrânia, porquê? Os jovens da Ucrânia e da Rússia estão a morrer devido aos planos napoleónicos do nosso César. Ele foi interpelado e está em curso um processo judicial contra ele.

Um boicote grotesco

O cineasta ucraniano Sergei Loznitsa, que veio a Cannes apresentar o seu novo filme, manifestou a sua oposição ao boicote contra artistas russos: “Esta atitude é desumana. Como se define o conceito de Russo? É-se Russo por causa do passaporte, da cidadania ou da etnia? É uma deriva escorregadia. Cada caso individual deve ser julgado pelos seus próprios méritos.

Desrussificação

A Câmara Municipal de Kharkiv está a mudar todos os nomes russos das praças e ruas da cidade. Claro que sim, em vários casos, produtos da História, isto é compreensível.

Assim, vai ser rebaptizada a rua Gogol, um escritor nascido na Ucrânia, o município censurando-o “por ter escrito em Russo”. Vai acontecer o mesmo às ruas que têm o nome do compositor Tchaikovsky ou do escritor Bulgakov, que nasceu em Kiev e morreu em Moscovo.

Desucranização

A nova municipalidade instalada pelas tropas russas em Mariupol está a mudar todos os cartazes escritos em Ucraniano para os substituir por cartazes escritos em Russo.

Tribunal Militar

Um tribunal militar russo na Região de Kabardino-Balkaria (sul da Rússia) confirmou o despedimento de 115 militares que tinham desafiado o seu afastamento do Exército por se recusado a participar na ofensiva à Ucrânia. Nada se sabe sobre o seu destino.

Notícias publicadas no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 708, de 1 de Junho de 2022, do Partido Operário Independente

UCRÂNIA: Escalada na guerra

O Exército dos EUA enviou para a Ucrânia quase um terço do seu stock em mísseis Javelin.

Depois do anúncio de Putin de uma nova etapa na intervenção na Ucrânia, o conflito está agora concentrado no leste do país. Todos os dias têm vindo a ocorrer bombardeamentos intensivos, causando uma enorme destruição, com muitos mortes, feridos e fugitivos da zona de combate.

Após a reunião organizada pelos EUA na base militar de Ramstein (Alemanha), com quarenta países representados, Washington anunciou que, a partir de agora, iria reunir-se com os seus “aliados” todos os meses sobre a questão da Ucrânia. A reunião de Ramstein marcou um ponto de viragem na entrega de armas. De facto, Biden tinha anunciado, há algum tempo atrás, que os EUA e a NATO apenas enviariam armas de defesa, de forma a não entrarem em conflito com a Rússia.

Esse período está terminado.

Os EUA, o Reino Unido e a Polónia já estão a entregar equipamento pesado, de ataque. Os EUA, que tinham até agora fornecido à Ucrânia armas no valor de 4 mil milhões de dólares, anunciaram um novo plano de 33 mil milhões de dólares!

Os EUA e a NATO tornam-se assim – através dos Ucranianos – beligerantes neste conflito.

Pelo seu lado, as autoridades russas intensificaram as suas ameaças, denunciando estas entregas de armas pesadas e não excluindo a possibilidade de utilizar armas nucleares. A televisão russa mostrou, com o apoio de iconografias, cenários possíveis de bombas nucleares lançadas sobre Paris, Berlim e Londres. De acordo com esses cenários, o novo míssil nuclear russo demoraria 106 segundos para chegar a Paris.

Escalada de ambos os lados e ameaças para toda a humanidade.

Esta guerra na Ucrânia internacionaliza-se e está a tornar-se num factor crucial de toda a situação mundial. Aliás, as consequências já são visíveis: aumento dos preços da energia e dos alimentos na Europa, mas também no resto do mundo, particularmente em África e no Médio Oriente, importadores de trigo da Rússia e da Ucrânia.

Nesta situação, a especulação está a aumentar em flecha, porque é a lei do capital.

Mais do que nunca, devemos reafirmar: Nem NATO! Nem Putin!

Crónica de Lucien GAUTHIER publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 704, de 4 de Maio de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Povo palestiniano: Mais uma vez sob o fogo da repressão

Os confrontos multiplicam-se, com uma repressão feroz por parte da Polícia israelita. O Estado de Israel tenta desviar a atenção, bombardeando mais uma vez a Faixa de Gaza, causando assim dezenas de mortos e centenas de feridos.

A tarde de 10 de Maio foi marcada por dezenas de comícios, cenas de rebelião em várias cidades e vilas da Galileia (Al Jalil). A cidade de Haifa está controlada pela Polícia. Um manifestante foi morto pela Polícia israelita em Lod, perto de Telavive. Na Cisjordânia, a Autoridade Palestiniana reprimiu manifestações de apoio aos Palestinianos em Jenin e Ramallah.

Netanyahu decidiu mandar retirar os militares da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, e as celebrações anuais israelitas, a realizar no contexto da ocupação (a “reunificação” nas palavras dos sionistas) de Jerusalém em 1967, foram canceladas. Os Chebabs (jovens) encaram estes factos como uma vitória da sua mobilização.

Isto está a acontecer alguns dias antes da comemoração da Nakba (“Catástrofe”) de 1948, que terá lugar a 15 de Maio.

De facto, há mais de três meses que as populações palestinianas, a viver dentro das fronteiras de 1948 (Estado de Israel), têm vindo a manifestar-se. Esta Intifada de Jerusalém é a expressão da resistência das famílias e da população às ameaças de expulsão – em resposta às exigências dos colonos, que dizem ter direito à propriedade eterna sobre as casas existentes na localidade de Cheikh Jarrah!

Para os Palestinianos, esta nova tentativa de “limpeza étnica” faz parte da aceleração da política do “apartheid”, levada a cabo pelo Sionismo, na continuidade do que aconteceu em 1948. Em resposta a estas novas provocações, têm ocorrido manifestações em massa contra as expulsões, contra as deslocalizações e a favor do direito de circulação em toda a Palestina, incluindo dentro do Estado de Israel, e muitos cidadãos judeus juntaram-se a elas.

As manifestações foram violentamente reprimidas, mas a mobilização não parou. A Polícia israelita tem utilizado balas de borracha, gás tóxico, canhões de água pútrida e granadas ensurdecedoras. Na sexta-feira e no sábado, a revolta foi massiva. Enquanto os líderes da Autoridade Palestiniana – de resto totalmente desacreditados, detestados e rejeitados pelos manifestantes – não estão autorizados a intervir em Jerusalém, o Departamento de Estado norte-americano acaba de apelar “à Palestina e a Israel para que parem a escalada”. Como se as responsabilidades fossem partilhadas! E os EUA utilizaram o seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, impedindo uma condenação, ainda que formal, das agressões criminosas de Israel.

Apelamos a todas as organizações operárias e democráticas para que apoiem a luta legítima do povo palestiniano, e para que denunciem a repressão feroz do Estado de Israel.

Não toquem no povo palestiniano!

Os coordenadores do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AIT)

Louisa Hanoune – Secretária-Geral do Partido dos Trabalhadores (da Argélia)

Dominique Canut – em nome do Secretariado Nacional do Partido Operário Independente (POI, de França)

Comunicado publicado, a 11 de Maio de 2021, pelo Comité Internacional de Ligação e Intercâmbio (CILI).