Um balão…

Um balão meteorológico, de acordo com as autoridades chinesas, teria escapado ao seu controlo; trata-se de um balão espião, de acordo com a Administração norte-americana; e, por fim, esta mandou-o destruir, provocando a cólera da China e criando novas tensões. É claro, alguns dizem que Trump teria afirmado que se fosse agora presidente, teria imediatamente destruído o balão, e foi por isso que Biden tomou a decisão de o fazer.

É claro que há certamente um jogo de política interna nos EUA, mas acima de tudo isto é um aviso à China, à Rússia e ao mundo inteiro. É mais uma expressão de que os EUA pretendem ditar a sua lei. Isto acontece em simultâneo com o facto de que Washington está a acelerar a entrega de armas à Ucrânia, incluindo o anúncio da entrega de mísseis de longo alcance e de tanques Abrams.

A guerra vai durar muito tempo, dizem as autoridades norte-americanas. Uma guerra de desgaste contra o regime de Putin e uma guerra que está a causar centenas de milhares de mortes tanto de Ucranianos como de Russos.

O apelo “Fim à Guerra!”, lançado no passado mês de Dezembro, formula, com razão, a exigência de um cessar-fogo imediato e denuncia a responsabilidade da NATO e de Putin.

À medida que nos aproximamos do fim de um ano de guerra na Ucrânia, em vários países foram convocadas manifestações para 25 de Fevereiro – como é o caso da Itália, do Reino Unido, da Espanha e da Alemanha, ou então Grécia, onde foi convocada uma manifestação para 21 de Fevereiro, data em que o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, é esperado no país.

Crónica da autoria de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 743, de 8 de Fevereiro de 2023, do Partido Operário Independente de França.

China: Manifestações contra o Regime atingem as principais cidades

Trabalhadores da maior fábrica de iPhones do mundo (Foxconn) participaram nos protestos.

Logo após o congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) ter reeleito Xi Jinping para governar do país, e ele parecia intocável, uma onda de mobilizações espalhou-se pelas principais cidades da China. Não se trata apenas da questão do confinamento em virtude da Covid, mas de uma revolta política e social contra o Regime.

As potências ocidentais têm os olhos cravados sobre a China, temendo que essas mobilizações desestabilizem o mercado mundial, do qual a China é um dos principais actores.

A mobilização na fábrica que produz os iPhones, no dia 23 de Novembro, sublinha o lugar da classe operária chinesa.

Em Wuhan, centenas de pessoas manifestaram-se, no centro do país, contra a draconiana política de “Covid zero” posta em prática pelo Governo chinês. Segundo vídeos transmitidos ao vivo nas redes sociais, uma multidão de habitantes irados reuniu-se nessa cidade, onde foi detectado o primeiro caso de Covid, em Dezembro de 2019. Manifestações similares registaram-se em várias cidades.

Crítica ao Regime

Em Xangai, outro vídeo mostra manifestantes gritando “Xi Jinping, demissão!” e culpando o PCC. Trata-se de uma muito rara demonstração de hostilidade contra o Presidente e o Regime, na capital económica do país, submetida no início deste ano a um extenuante confinamento de dois meses.

Em Pequim, várias centenas de estudantes da prestigiosa Universidade Tsinghua tomaram parte numa manifestação contra a política para a Covid-19. Vídeos nas redes sociais mostraram também uma importante vigília no Instituto de Comunicações de Nanquim, onde os participantes agitavam folhas de papel branco.

Esta é a mais importante mobilização desde o Movimento pela democracia, na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), em Maio-Junho de 1989.

A 23 de Novembro, a maior fábrica de iPhones do mundo (Foxconn) revoltou-se

Cronologia dos acontecimentos

13 de Outubro: a empresa taiwanesa Foxconn (que tem 200.000 assalariados), localizada em Zhengzhou (província de Henan), que fabrica iPhones Apple, decide, após casos de Covid em Zhengzhou, manter a produção. Como resultado, os trabalhadores não estão autorizados a sair da fábrica e devem dormir lá e realizar repetidamente testes de Covid.

24-27 de Outubro: devido à falta de espaço, os trabalhadores que testaram positivos e negativos permanecem juntos, fechados na fábrica.

28-31 de Outubro: os trabalhadores que desejem abandonar este sistema fechado não estão autorizados a sair. No entanto, milhares conseguem evadir-se e são ajudados por habitantes de Zhengzhou.

1 de Novembro: a Foxconn publica uma Nota anunciando um bónus de 400 yuan (cerca de 56 euros) por dia e um bónus de 15.000 yuan para os trabalhadores presentes durante todo o mês de Novembro.

7 de Novembro: a Apple promete, numa Declaração, “assegurar ao conjunto dos funcionários uma produção sem perigos”.

17 de Novembro: O governo regional de Henan organiza o recrutamento de pessoal para a fábrica de Foxconn. A fábrica recebe cem mil candidaturas de emprego. No entanto, os novos recrutados acabam no mesmo sistema fechado, onde os trabalhadores detectados como positivos e negativos ficam misturados. E o montante do bónus não corresponde à promessa feita aquando do recrutamento.

23 de Novembro: manifestação de trabalhadores na fábrica Foxconn (foto acima). Imagens de vídeo mostram trabalhadores em confronto com forças da Polícia. Estas utilizam gás lacrimogéneo e canhões de água contra os trabalhadores, alguns dos quais são espancados e presos.

24 de Novembro: “As autoridades ordenaram aos habitantes de oito distritos de Zhengzhou, no centro da província de Henan, que não abandonassem a área durante os próximos cinco dias, construindo barreiras em torno de edifícios de apartamentos «de alto risco» e criando pontos de controlo para restringir a circulação” (Hong Kong Free Press).

Crónica da autoria de Albert Tarp, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” Informações operárias – nº 734, de 30 de Novembro de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Nem Putin, Nem NATO!

Acabou de ter lugar a Cimeira da NATO, em Madrid, a 29 e 30 de Junho. Também em Madrid, realizou-se um Encontro internacional contra essa Cimeira, no qual participou uma delegação portuguesa.

Divulgamos abaixo o Apelo saído desse Encontro.

APELO do Encontro Europeu de Madrid

contra a guerra, «Nem Putin, Nem NATO!»

Trabalhadores, jovens e militantes de organizações populares e operárias da Alemanha, Grécia, Bélgica, Portugal, Roménia, França e Espanha reunimo-nos no sábado, 25 de Junho, em Madrid, para agir contra a guerra, contra aqueles que a organizam ou dela beneficiam. Recebemos também mensagens da Suíça, Áustria, Itália, Irlanda, Dinamarca e Moldávia.

O presidente Biden vai presidir em Madrid, nos dias 29 e 30 de Junho, à Cimeira da NATO, acolhida pelo Governo espanhol, em presença do Rei de Espanha, dos chefes de Estado e dos chefes militares dos países da NATO. Esta Cimeira tem como objectivo acrescentar mais guerra à guerra.

Nós, que exigimos desde o primeiro dia um cessar-fogo e a retirada do exército de Putin da Ucrânia, queremos denunciar a torrente de mentiras com que somos inundados todos os dias.

Esta guerra não é, nem uma guerra para defender a Rússia – como pretende Putin – nem uma guerra “em defesa dos valores da Europa”, como pretendem Biden, Scholtz, Johnson, Macron e Draghi. A guerra que devasta a Ucrânia que opõe os oligarcas russos representados por Putin e os chefes dos monopólios imperialistas, representados pelos chefes de Estado membros da NATO, é uma guerra pelo controlo e abastecimento de matérias-primas.

É uma guerra entre predadores que tomaram como refém o povo ucraniano; é uma guerra em que o horror serve de pretexto para a mais formidável campanha de rearmamento da Europa. Todos os dias os nossos governos aproveitam o ensejo para anunciar o envio dos mais sofisticados materiais de guerra para o terreno.

Uma engrenagem mortífera está em marcha

Ao contrário da propaganda dos nossos governos, os 100 mil soldados do Exército dos EUA – estacionados nas 120 bases da NATO, na Europa – não fazem mais do que trazer as guerras para o coração do nosso continente. Os milhares de soldados norte-americanos, de bombardeiros e de navios de guerra, instalados em três grandes bases militares no sul de Espanha, estão aí contra os povos e não a favor da paz no Leste.

O Exército norte-americano instalado nas bases da NATO, na Grécia e na Turquia, contribui para os conflitos e para a instauração de regimes autoritários. Lembremo-nos que foi a NATO, com os seus bombardeamentos indiscriminados e homicidas, que causou milhares de mortos na Sérvia e no Kosovo.

A NATO é a guerra, é a intervenção directa do imperialismo norte-americano na Europa, espezinhando a soberania dos povos, impondo o vertiginoso aumento dos orçamentos militares.

A União Europeia e os governos europeus consagram cada vez mais milhares de milhões para a guerra e suprimem milhares de milhões à Educação, à Saúde e às pensões de aposentação. A guerra, combinada com a especulação, provoca indigência e subida de preços, que atiram milhões de pessoas para a miséria, na Europa e em todos os continentes.

Só a classe operária e os povos da Europa estão em medida de poder travar esta engrenagem mortífera!

Só a classe operária e os povos da Europa podem repudiar os orçamentos para o armamento e impor que essas centenas de milhar de milhões canalisados para a guerra sejam afectos à reconstrução dos sistemas de Saúde, aos sistemas públicos de Educação, etc.

A militarização dos países da Europa e a intervenção da NATO nos assuntos internos dos países andam de mãos dadas com a redução crescente da liberdade e da democracia.

Mobilizações e protestos contra a guerra têm lugar em diferentes países. Militantes, responsáveis, eleitos para cargos públicos e organizações recusam a União nacional exigida pelos governos para fazerem a guerra. Na Alemanha, alguns deputados votaram contra os 100 mil milhões de euros adicionais para a guerra. Um deles disse: “Como as sanções fizeram disparar os preços da energia, a Rússia prevê para este ano receitas suplementares de quase 14 mil milhões de euros… Portanto, a política de sanções só beneficia os principais grupos energéticos – Gazprom, bem como ExxonMobil, Shell, BP ou Aramco – e prejudica os consumidores e os assalariados que deverão temer pela manutenção dos seus postos de trabalho…”.

Lado a lado com todas estas mobilizações, exigimos:

O encerramento das bases da NATO, e que os soldados regressem a casa!

Os nossos governos, ao mesmo tempo que atacam todas as conquistas sociais, querem que as organizações sindicais renunciem às reivindicações mais imediatas, como às mais fundamentais: pensões de aposentação, protecção social, serviços públicos, …

Saudamos a greve de 20 de Junho, na Bélgica, e os 80 mil manifestantes que, em Bruxelas, exigiram aumentos salariais e o restabelecimento da escala móvel dos salários.

Amanhã, 26 de Junho, estaremos nas ruas de Madrid na manifestação convocada por numerosas organizações, juntamente com os sindicatos, contra a guerra e contra a NATO.

É da responsabilidade de todos os militantes operários, de todos os democratas, levar por diante a luta contra a guerra, unir o movimento contra a guerra à luta pela paz, pelo pão, pela saúde e pela liberdade, pelo congelamento dos preços e pelo aumento dos salários, contra os governos e o capitalismo sempre bárbaro.

Realizámos uma Vídeo-conferência contra a guerra, a 9 de Abril, convocada pela Nova Corrente de Esquerda para a Libertação Comunista (NAR – Grécia) e pelo Partido Operário Independente (POI – França), estabelecendo um primeiro laço entre participantes de 19 países. Hoje, o nosso encontro em Madrid e os nossos intercâmbios mostram que começam a juntar-se forças mais importantes. Lançamos este apelo para se agruparem para agir e constituímos um Comité de Ligação.

É tempo de pôr fim ao Sistema capitalista que, através da guerra e tendo o lucro como única regra, destrói tudo – vidas, cidades, civilização e meio ambiente.

  • Fim imediato das hostilidades militares!
  • Cabe ao povo ucraniano decidir sobre o seu destino!
  • Que a Rússia se retire da Ucrânia, que a NATO e a UE deixem de se expandir para a Ucrânia ou para qualquer outro país!
  • Estamos ao lado de todos os que se mobilizam contra a entrada do seu país na NATO. Lutamos contra as alianças militares (NATO, AUKUS,…).
  • Nenhum envio de armamento, visto que isso contribui para a escalada bélica.
  • Lutamos pelo “chumbo” dos orçamentos militares: essas centenas de milhar de milhões de euros devem ser investidas na Saúde, na Educação, para ajuda aos desempregados, para as necessidades sociais, e não para armas!
  • A mobilização de milhões de pessoas contra os Governos, a UE e a NATO é a única via para parar as guerras do capital.

Resolução aprovada, por unanimidade, a 25 de Junho