Lula presidente: urgência nacional (no Brasil)

Transcrevemos o Editorial do jornal “O Trabalho” – órgão de imprensa da Secção brasileira da 4ª Internacional – nº 906, de 2 de Setembro de 2022.

Uma frase do actual Presidente, levado ao Palácio do Planalto pelo golpe de 2016 e a operação fraudulenta que prendeu Lula, sintetiza a urgente tarefa: derrotar Bolsonaro e eleger Lula para reconstruir e transformar este país.

Em recente entrevista, dizendo que não havia fome no Brasil, o ignóbil (Bolsonaro) declarou que “não se vê pessoas pedindo pão em padaria”! Isto quando nas padarias, nos semáforos, nas calçadas e em todos os lugares das cidades, cada vez mais homens, mulheres e crianças lançam um grito de socorro. Num pedaço de papelão lê-se: “Fome!” Este presidente achincalha, perversamente, os 33 milhões de famélicos e os mais de 100 milhões que sofrem de insegurança alimentar.

Achincalha as Brasileiras, ao negar que há um aumento da violência contra as mulheres. E achincalha toda a nação ao dizer que o Brasil “está bombando” (em pleno desenvolvimento). É preciso botar para fora do Planalto este arruaceiro. Isso passa, em primeiro lugar pelas eleições, mas não pára aí.

Bolsonaro sabe que milhões passam fome e que diminui a mesa dos que ainda comem, que os salários e direitos das classes trabalhadoras estão cada vez mais rebaixados, a começar pelo salário mínimo, e que as mulheres, cada vez mais são vítimas de violência e deterioração das condições de vida.

DERROTAR BOLSONARO

RECONSTRUIR E TRANSFORMAR O PAÍS

E como ele sabe que pagará por isso, cria desordem. Coloca em suspeita os resultados eleitorais. Leva as Forças Armadas, através do seu sabujo no Ministério da Defesa, a imiscuírem-se na Justiça Eleitoral. E, é preciso dizê-lo, com a complacência desta. Está virando rotina reuniões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os militares. E o TSE faz concessões. Na última reunião cedeu à questão de serem feitos testes às urnas eletrônicas, um artifício de Bolsonaro para pôr em causa os resultados eleitorais.

Exército, Marinha e Aeronáutica, num plano “bem orquestrado” dispõem-se a fazer pirotecnia na praia de Copacabana, no 7 de Setembro (1) quando o arruaceiro (Bolsonaro) quer mobilizar os seus seguidores e fazer uma demonstração de força. No Congresso Nacional (Parlamento), movida pelo orçamento secreto, a maioria faz o que o Chefe manda.

Negando as estatísticas, o Governo coloca também em xeque o recenseamento do IBGE (2) deste ano. Não realizado em 2020, “por falta de orçamento”, em 2022 está a ser posto em causa pelas péssimas condições dos recenseadores que fizeram uma mobilização, com greve em alguns lugares (a 1 de Setembro), por melhoria nas suas condições de trabalho.

Quanto menos dados houver sobre a realidade, melhores são as condições para a corja de bolsonaristas poder prosseguir no seu intuito de ter um imperador, a sua família e o seu séquito – os pouco mais de 30% que declaram votar nele – a fim de continuar a pilhar o país, a democracia, os direitos e os salários da classe trabalhadora.

Levantar as mais urgentes necessidades do povo trabalhador deve ser o tom da campanha Lula nas próximas quatro semanas (3).

Direitos, salários, comida na mesa, democracia e soberania nacional. Derrotar Bolsonaro para reconstruir e transformar este país. Livrá-lo da actual tragédia e das instituições que pavimentaram o seu caminho até aqui.

“Nunca antes na história deste país” (4), ficou tão claro que uma eleição é a expressão, no terreno eleitoral, da luta de classes. E a maioria oprimida procura agarrar-se a Lula para sair do sufoco. Basta ver a preferência dos sectores mais oprimidos por Lula. Responder às suas expectativas deve ser o tom da campanha.

Eleger Lula, num processo de mobilização por um Governo que reconstrua e transforme o país é a tarefa da hora. É nela que o nosso jornal e os candidatos (escolhidos pelo método proporcional de Hondt) apoiados pelo Diálogo e Acção Petista (5) estarão concentrados.

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(1) A 7 de Setembro de 2022, foi celebrado o bicentenário da independência do Brasil, com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa ao lado de Bolsonaro.

(2) O IBGE é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, equivalente do nosso INE.

(3) A primeira volta das eleições terá lugar a 2 de Outubro.

(4) Esta parte da frase está entre aspas, uma vez que se refere a um livro, com o título “Nunca antes na história deste país”, escrito pelo jornalista brasileiro Marcelo Tas, em 2009, no qual ele reuniu declarações feitas por Lula.

(5) O “Diálogo e Acção Petista” (DAP) é um movimento de base do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, que combate para que o PT retome o caminho das suas origens. Os militantes da Corrente “O Trabalho” (Secção brasileira da 4ª Internacional) do PT participam no DAP.

O coração de Dom Pedro

O coração de Dom Pedro chegou ao nosso país para as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. À sua chegada, as viúvas da ditadura que agora estão no poder, fizeram hastear as bandeiras de Portugal e da Monarquia.

É a segunda vez que Dom Pedro visita o Brasil depois de morto. A primeira vez em 1972: trouxeram o seu corpo para as comemorações dos 150 anos da Independência do Brasil, em plena ditadura militar. Agora, nesta segunda vez, a História repete-se com a chegada do coração de Dom Pedro I para o bicentenário da Independência.

Independência do Brasil? Independência de quem e para quem?

Diferentemente do que aconteceu noutros países – onde a independência ocorreu juntamente com o fim da escravidão – no Brasil gerou uma Monarquia baseada no trabalho escravo.

A independência negociada, acertada e pactuada foi feita num grande acórdão entre os membros da família imperial e as elites escravocratas dos grandes proprietários de terra receosos de perder o seu principal privilégio, a escravidão. E várias revoltas populares – que procuravam a Independência do Brasil – foram violentamente combatidas. Para o povo pobre e preto das periferias do país, a Independência do Brasil ainda não aconteceu e está colocada na ordem do dia.

A ditadura militar acabou, mas as viúvas da ditadura – que não foram punidas pelos seus crimes, são actualmente representadas pelo “inominável” que ainda vamos ter de aturar, pelo menos até 1 de janeiro de 2023.

O caminho para uma verdadeira independência passa, obrigatoriamente, por derrotá-lo.

Nota da autoria de Osvaldo Martinez D´Andrade, publicada no jornal “O Trabalho” (da responsabilidade da Secção brasileira da 4ª Internacional), nº 906, de 2 de Setembro de 2022.

Brasil: Um país asfixiado pelas actuais instituições

No dia 24 de Maio a Polícia Militar, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) e a Polícia Rodoviária Federal fizeram mais uma incursão criminosa contra o povo numa favela do Rio de Janeiro. Vila Cruzeiro: 26 mortos! A segunda maior chacina no Rio, governado pelo bolsonarista Cláudio Castro (Partido Liberal).

A 25 de maio, na cidade de Umbaúba (Estado de Sergipe), Genivaldo de Jesus Santos foi barbaramente assassinado pela Polícia. Lançado e trancado no porta-malas de um carro da Polícia Rodovia Federal morreu asfixiado com o gás que tinha inalado.

Dia após dia, as instituições do Estado promovem e encobrem assassinatos, em particular de Negros. E o que acontece? Começa o bla, blá, blá do “vamos investigar”, mas nada acontece. A desordem nacional continua, e os assassinatos também. Agora até a Polícia Rodoviária Federal (que em tese existe para fazer a segurança das rodovias) participa em operações e oferece viatura para matar inocentes. Como Genivaldo, cuja “culpa” era ser Negro.

É a barbárie que avança no nosso país.

Num mundo atravessado pelas consequências da guerra na Ucrânia, que além dos mortos, ucranianos e russos – lançados directamente num confronto bélico que não é do seu interesse – já ameaça milhões de morrer de fome, por falta de alimentos, em todo o mundo.

A barbárie ameaça o mundo inteiro, como fruto da sobrevivência do Sistema capitalista que não tem outra coisa a oferecer, pois procura preservar os interesses da minoria que dele beneficia: os que lucram com a guerra, como lucraram com a pandemia. Os ricos ficam cada vez mais ricos, enquanto milhões e milhões ficam mais pobres.

O Brasil participa nessa engrenagem com o governo de Bolsonaro, que saudou a operação na Vila Cruzeiro e que acaba de ser convidado por Joe Biden, com pompa e circunstância, para a sua Cimeira das Américas (9 de Junho, em Los Angeles), onde o imperialismo dos EUA, em plena crise interna, tentará recuperar terreno no nosso continente.

Mas, ponhamo-nos de acordo, Bolsonaro não chegou e permanece onde está há mais de 3 anos, se não fosse a cumplicidade das instituições que o criaram: Congresso, Judiciário, Forças Armadas, Polícias – todos representantes da desordem que infecta o país e traz sofrimento e morte ao seu povo. Também não teria chegado aonde chegou, não fosse o beneplácito e a propaganda da Comunicação Social que demonizou o PT e Lula. Se assim foi, se assim é, isto tem que mudar!

O país está a ser pilhado. Agora é a Eletrobrás que está na mira, com o aval do Tribunal de Contas da União (Federal). O povo está a ser esfolado. Agora é o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) que o Governo quer atacar. O Ensino público está sob tiroteio. Agora é a cobrança de mensalidade nas universidades públicas e o ensino domiciliar que eles querem instituir. O SUS (Sistema Único de Saúde) está sendo desmantelado e a Agência Nacional de Saúde autoriza um aumento de 15,5% nos “planos” de saúde. E os salários continuam a baixar.

A eleição de Outubro (para a Presidência da República), sem abandonar a luta directa da classe trabalhadora – desde já, pelo reajustamento geral dos salários, empregos e direitos – será, sem dúvida, um momento de cravar nas urnas um Basta! Mas, a vitória de Lula, pela qual lutamos, não resolverá todos os problemas, se nela não nos apoiarmos para romper com o Sistema que nos trouxe até aqui. E, para romper, é preciso buscar os verdadeiros aliados. E é preciso, antes de tudo, lutar para dizer aos senhores das instituições que asfixiam o país: “Já deu, agora acabou, é o povo que terá voz para dizer o que é preciso fazer”.

Este é o combate em que estamos empenhados, com o Diálogo e Ação Petista (1), organizando o Encontro nacional “Pela Constituinte com Lula”, a 2 de Julho.

Editorial do jornal “O Trabalho” nº 901, de 26 de Maio de 2022, publicado pela Secção brasileira da 4ª Internacional

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(1) O “Diálogo e Acção Petista” (DAP) é um movimento de base do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, que combate para que o PT retome o caminho das suas origens. Os militantes da Corrente “O Trabalho” (Secção brasileira da 4ª Internacional) do PT participam no DAP.