Com quase 51 por cento dos votos, o povo brasileiro deu a vitória a Lula, o principal líder do Partido dos Trabalhadores. A partir de agora, a defesa do resultado eleitoral perante as acusações de Bolsonaro fará parte da nova situação política que se está a abrir.
Em qualquer caso, esta vitória irá sem dúvida melhorar as condições para alcançar as principais reivindicações das populações.
Ao longo de toda a campanha surgiu como uma necessidade absoluta pôr fim às contra-reformas das anteriores presidências de Bolsonaro e de Temer.
Em particular a necessidade de aumentos salariais, o restabelecimento dos programas de ajuda à habitação social, de subir os orçamentos para a Saúde e a Educação, e de todas as medidas necessárias para pôr fim à situação dos mais de 30 milhões de cidadãos que passam fome. Questões que são inseparáveis do fim da privatização das empresas estratégicas e da contra-reforma do Sistema público de pensões de aposentação.
É necessária a mobilização dos trabalhadores e das suas organizações
O novo Governo vai enfrentar a dificuldade de estabelecer uma maioria parlamentar. Sem dúvida, nenhum avanço será alcançado sem a mobilização dos trabalhadores e das suas organizações.
Nos próximos dias iremos publicar o balanço que farão os nossos camaradas de “O Trabalho”, corrente interna do Partido dos Trabalhadores (PT) e Secção da 4ª Internacional no Brasil.
Mobilização em apoio de Lula, na cidade de Recife, capital do Estado de Pernambuco, no Nordeste do Brasil.
Transcrevemos o Editorial do jornal “O Trabalho” – órgão de imprensa da Secção brasileira da 4ª Internacional – nº 909, de 21 de Outubro de 2022.
Nestes poucos dias que nos separam de 30 de Outubro não há que voltar as costas. O jogo não está ganho e é preciso intensificar a campanha construindo a força para que, no apito final, sejamos vitoriosos.
Sair da defensiva na agenda imposta pelo bolsonarismo e ir para a ofensiva na agenda que interessa ao povo.
Os nossos adversários, adversários do país, usam todos os meios para manter a sede do gangue no Palácio do Planalto, sob comando do candidato a imperador.
O uso da máquina estatal (agora, em vésperas da segunda volta, com a proposta do novo FGTS [1] “futuro” para eliminar o plantel a mais dos empreiteiros à custa do endividamento popular), bem como as falcatruas no Congresso Nacional, são exuberantes e ilegais. Até o jornal Estadão – notório militante na perseguição ao PT e a Lula, que desembocou no actual Governo – escreveu uma coisa certa. Em editorial, intitulado “Bolsonaro não tem do que se queixar”, regista “a omissão ou cumplicidade” das instituições frente à abundância de crimes cometidos.
O Ministério da Defesa, de maneira inédita, exigiu fazer uma auditoria às urnas na primeira volta. Agora o ministro da Defesa, Paulo Sérgio, encolhe os ombros ao prazo exigido pelo presidente do Tribunal Eleitoral, Alexandre de Moraes, para a entrega do Relatório. “Só depois da segunda volta”, diz ele. E ponto final, nada acontece. Trata-se de uma carta, guardada na manga, para continuar na ofensiva prevendo a vitória de Lula?
E o ataque não pára aí. Entre a primeira volta e a campanha da segunda, é alarmante a escalada da acção patronal para coagir os seus empregados a votarem em Bolsonaro. Até o dia 17 de Outubro, o Ministério Público do Trabalho registou 431 denúncias. Sem falar que deve haver casos não denunciados. Os patrões – a quem o trabalhador é obrigado a vender a força-de-trabalho para sobreviver – usam a propriedade privada dos meios de produção para ameaçar os trabalhadores em caso de vitória de Lula.
A classe dominante e os seus tentáculos – instituições, Governo, patrões, padres de algumas igrejas, pastores vigaristas e bolsonaristas violentos e fanáticos – usam de maneira escancarada todos os meios possíveis, aí sim, para deturpar a vontade popular. Porque, para a classe trabalhadora, hoje não há outra saída senão a eleição de Lula, como um primeiro passo para voltar a respirar e oxigenar-se para a luta pelo seu direito a condições dignas de vida e de trabalho.
O jogo é pesado, sujo, ilegal, abusivo. Contra a democracia, contra a vida do povo; e não vai parar, depois de 30 de Outubro, com a nossa esperada vitória.
É por isso que – para construir a força necessária para ganhar e governar – é preciso dizer aos trabalhadores do campo e da cidade, aos jovens e aos moradores da periferia, o que é preciso fazer para garantir um futuro de emprego com direitos, habitação, escolas e hospitais.
Nos próximos dias é preciso fortalecer nas ruas a agenda do povo trabalhador. Construir a força para a vitória e para derrubar, num futuro governo de Lula, os obstáculos que vão se interpor para que o salário mínimo volte a ser reajustado, para que um programa de habitação seja retomado, para que a Educação e a Saúde possam ser reconstruídas, para que a volta de políticas de protecção das mulheres possa ser cumprida, para que o genocídio da população negra e dos povos indígenas seja estancado, para ficar em alguns exemplos.
Com os grupos de base do Diálogo e Acção Petista [2], é neste combate que estamos empenhados.
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[1] Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é um fundo criado com o objectivo de proteger o trabalhador que for despedido sem justa causa.
[2] O “Diálogo e Acção Petista” (DAP) é um movimento de base do PT, que combate para que o PT retome o caminho das suas origens. Os militantes da Corrente “O Trabalho” (Secção brasileira da 4ª Internacional) do PT participam no DAP.
Lula é o vencedor da 1ª volta das eleições presidenciais de 2022. Depois de ser impedido de participar nas eleições de 2018, com uma condenação absurda e uma prisão de 580 dias, Lula ressurge como o depositário das esperanças populares: satisfação das reivindicações mais urgentes, reconstrução e transformação do país.
Faltou pouco mais de 1% dos votos válidos para que a eleição fosse decidida de vez, já neste dia 2 de Outubro. Mas é possível e necessário garantir a vitória, nestas quatro semanas de campanha, e evitar que Bolsonaro, os seus generais e comparsas continuem a obra de destruição da Nação.
A militância do Partido dos Trabalhadores (PT) e demais partidos populares certamente entrarão em campo. No dia 30 de Outubro, é voto 13 (1).
Saudamos a vitória dos candidatos do PT a governador(a) no Ceará (Elmano de Freitas), Piauí (Rafael Fonteles) e Rio Grande do Norte (Fátima Bezerra, reeleita), bem como a eleição de muitos deputados federais e estaduais do PT por todo o Brasil.
Em 4 Estados, o PT vai disputar a 2ª volta para governador. É voto 13 em Haddad (São Paulo), Décio Lima (Santa Catarina), Jerônimo (Bahia) e Rogério Carvalho (Sergipe).
Betão reeleito
O companheiro Betão foi reeleito deputado estadual em Minas Gerais, com mais de 60 mil votos. Betão foi apoiado pelo Diálogo e Acção Petista (2).
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(1) Trata-se da localização do PT nas listas candidatas.
(2) O “Diálogo e Acção Petista” (DAP) é um movimento de base do PT, que combate para que o PT retome o caminho das suas origens. Os militantes da Corrente “O Trabalho” (Secção brasileira da 4ª Internacional) do PT participam no DAP.