Carlos Tavares: um português “sortudo”!

Carlos Tavares chega ao Palácio do Eliseu para jantar com Macron, a 5 de Julho de 2021.

A remuneração de Carlos Tavares, Chefe-Executivo da Stellantis (fusão do grupo PSA e Fiat-Chrysler) para o ano de 2021 foi de 66 milhões de euros. Mas ele não é o único: a média de remuneração dos chefes-executivos (CEOs) das empresas do CAC-40 (1) subiu para 8,7 milhões de euros, quase o dobro dos 4,5 milhões de euros de 2020. Este montante é também muito mais elevado do que os 5,4 milhões de euros concedidos em média, a CEOs, em 2019.

A remuneração dos CEOs consiste, geralmente, em três componentes: um salário fixo, uma componente variável ligada à realização de objectivos para o ano em causa e um esquema de distribuição de lucros.

O Sr. Tavares recebeu 19 milhões de euros, em 2021, pelos seus salários fixo e variável; ele poderá receber, se os objectivos forem cumpridos, uma remuneração adicional de 47 milhões. Os “peritos” explicam estes aumentos pelos bons resultados alcançados pelas empresas, em 2021. O CAC-40 teve uma subida de 29% em 2021, e, portanto, os dividendos das acções atribuídas aos patrões e remunerações dos respectivos CEOs tem subido muito.

Por exemplo, com o aumento exponencial da cotação da Dassault (2) os dividendos das acções atribuídos, em 2021, ao seu CEO, Bernard Charlès, atingirá 40,8 milhões de euros, contra os 17,5 milhões que lhe foram atribuídos em 2020.

Algumas vozes têm-se levantado apelando à moderação nos salários dos CEOs. Mas os accionistas não parecem estar impressionados com isso. A 14 de Abril, aprovaram – com 95% a favor – a remuneração de Daniel Julien. O CEO da Téléperformance recebeu 19,5 milhões de euros, em 2021, o que corresponde a um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Entretanto, o salário médio anual dos empregados desta plataforma em França foi de 23938 euros, ou seja, tiveram um decréscimo de 11%.

Ao mesmo tempo que a falta de aumentos salariais e a inflação fazem baixar os rendimentos da esmagadora maioria do povo francês, os patrões e os CEOs – no meio de uma pandemia – viram os seus rendimentos disparar. São estas mesmas pessoas que se recusam a dar aumentos salariais aos trabalhadores nas suas empresas.

O Patronato francês acaba de saudar a vitória de Macron. Obrigado Macron!

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(1) O CAC-40, cujo nome deriva da expressão Cotation Assistée en Continu (Cotação Assistida em Contínuo), é um índice bolsista que reúne as 40 maiores empresas cotadas em França.

(2) A Dassault Aviation SA é a maior empresa francesa fabricante de aviões civis e militares.

Crónica de Lucien GAUTHIER publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 703, de 27 de Abril de 2022, do Partido Operário Independente de França.

A guerra é que está a dar…

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou a 28 de Abril que a Aliança transatlântica está pronta para apoiar a Ucrânia no esforço de guerra contra a invasão russa, mesmo que esta dure vários anos.

Numa conferência de imprensa em Bruxelas, citado pela Reuters, Stoltenberg disse que a NATO “tem de estar pronta para o longo prazo”. “Existe absolutamente a possibilidade de esta guerra se arrastar e durar meses e anos”, disse. O líder da Aliança também garantiu que a NATO irá apoiar a Ucrânia, a passar de armas da era soviética para material bélico mais avançado.

Em França, para os multimilionários “viva a pandemia”!

Um relatório do Conselho Nacional de Combate à Pobreza e à Exclusão Social advertiu, no final de 2021, contra o aumento da pobreza em França, “multiplicada” desde o início da epidemia do coronavírus. Quase uma em cada cinco crianças da França está em situação de pobreza.

Todos os preços estão a subir em flecha: da electricidade, do gás, da gasolina, do óleo para aquecimento, do pão e de outros produtos alimentares. Mas os salários não estão a subir. Por outro lado, os rendimentos dos patrões estão a subir em flecha.

Em França, a fortuna dos multimilionários aumentou mais rapidamente nos dezanove meses da pandemia do que tinha aumentado em mais de dez anos!

De Março de 2020 a Outubro de 2021, a riqueza das principais fortunas da França subiu 86%, um ganho de 236 mil milhões de euros. A título de comparação, tinha aumentado 231 mil milhões em dez anos (entre 2009 e 2019). Só os cinco indivíduos mais ricos da França duplicaram a sua riqueza desde o início da pandemia: 173 mil milhões de euros. Isto é equivalente ao que o Estado já gastou durante a pandemia.

Estes cinco multimilionários possuem, agora, tanto como os 40% mais pobres de França. Como explica o porta-voz da Oxfam France: “Para os multimilionários, a pandemia tem sido uma dádiva de Deus. Ficaram mais ricos, não por causa da mão invisível do mercado, nem através de brilhantes escolhas estratégias, mas principalmente devido ao dinheiro público – pago incondicionalmente pelos governos e bancos centrais – do qual têm podido beneficiar, graças ao aumento da cotação das suas acções em Bolsa.

Ao mesmo tempo, a crise levou a um aumento da pobreza: sete milhões de pessoas – ou seja, 10% da população francesa – necessitam de ajuda alimentar, e mais quatro milhões de pessoas encontram-se numa situação de vulnerabilidade.

Em 15 de Dezembro, o presidente Macron disse, na rede televisiva TF1, que “tanto os mais ricos como os mais pobres, todos viram o seu poder de compra aumentar”.

A análise realizada pelo Instituto para as Políticas Públicas confirma que o mandato de cinco anos de Macron tem sido um acelerador das desigualdades. Os 1% mais ricos viram o seu nível de vida aumentar 2,8% em média, enquanto os 5% dos agregados familiares mais modestos perderam até 0,5% do seu magro poder de compra.

Aqui está um exemplo para nos ajudar a compreender: Bernard Arnault, o francês mais rico e o terceiro homem mais rico do mundo, possuía – em Março de 2020 – 67,3 mil milhões de euros. Em Outubro de 2021, ele possuía 163,6 mil milhões, o que representa um aumento de 96,3 mil milhões de euros.

E há quem ouse afirmar que o capitalismo e a luta de classes já não existem.

Crónica de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 689, de 19 de Janeiro de 2022, do Partido Operário Independente de França.

Covid-19: Um vírus perigoso… mas não para todos!

Jeff Bezos, dono da Amazon e homem mais rico do mundo, viu a sua fortuna aumentar cerca de 70 mil milhões de dólares, entre Março e Novembro de 2020

De acordo com o Instituto de Estudos Políticos, que analisou a fortuna dos 650 norte-americanos mais ricos, entre 18 de Março e 24 de Novembro de 2020, 29 multimilionários viram a sua riqueza duplicar desde Março.

De acordo com os autores do Relatório, esta subida parece estar directamente relacionada com a pandemia.

Este é particularmente o caso de Jeff Bezos, o dono da Amazon, que viu a sua fortuna aumentar em quase 70 mil milhões de dólares entre Março e Novembro.

O dono da Tesla, Elon Musk, que se tornou neste mês o segundo homem mais rico do mundo, passando à frente de Bill Gates, é uma ilustração clara desta tese. A sua ascensão meteórica na classificação das grandes fortunas está ligada à subida exponencial do valor das acções da Tesla na Bolsa de Wall Street, que aumentou 500% desde o início do ano e vale agora 495 mil milhões de dólares. O que permitiu a Elon Musk ganhar 100 mil milhões de dólares no mesmo período.

Estes números exorbitantes devem ser colocados em paralelo com o desenvolvimento de desemprego endémico nos EUA. A título de exemplo, em Outubro de 2020 mais de 11 milhões de norte-americanos foram considerados como estando desempregados – o dobro das estimativas de Fevereiro, antes do início da pandemia nesse país.

Nota de Pierre Demale, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 633, de 2 de Dezembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Corrida à vacina agrava fosso entre ricos e pobres. Os primeiros já garantiram 9 mil milhões de doses, os restantes podem esperar anos

Esta é outra face “escondida” da pandemia. O semanário Expresso (de 4 de Dezembro de 2020) cita um estudo de peritos do Fundo Monetário Internacional (FMI) – gente bem documentada!, que tira a seguinte conclusão: “Mais de 80% das doses de vacinas anti-Covid foram compradas por governos que representam apenas 14% da população global. A maioria das pessoas nos países pobres vai ficar à espera da vacina até 2024, se os países mais ricos continuarem a praticar aquilo a que muitos já chamam «vacinacionalismo»”.

O imperialismo ainda não “morreu”…