Incêndios catastróficos na Argélia

Transcrevemos um comunicado do Partido dos Trabalhadores (PT) da Argélia sobre este tema, datado de 10 de Agosto de 2021.

Desde ontem, 9 de Agosto, dezenas de incêndios têm devastado as florestas do país, causando danos significativos e várias vítimas.

Segundo os números oficiais comunicados pelo porta-voz da protecção civil esta manhã, 10 de Agosto de 2021, 18 wilayas (províncias administrativas) foram devastadas por 36 incêndios, reduzindo a cinzas milhares de hectares de florestas, árvores de fruto, casas,… e infelizmente fazendo 7 mortes, 6 dos quais numa única província, Tizi-Ouzou (1).

Segundo este mesmo responsável, estes incêndios não podem ser considerados naturais, dado que uma só província, a de Tizi-Ouzou, foi afectada por 22 incêndios, e 60 inícios de fogo tiveram origem durante a noite e em linha recta.

Põe-se então a questão: quem terá interesse em incendiar o país, numa altura em que está a ser duramente atingido pela epidemia do COVID-19, a qual está a devastar diariamente vidas humanas e a ter consequências económicas e sociais desastrosas?

A falta de água e os cortes de electricidade – que duram há semanas, nestas condições de forte calor – estão a causar uma catástrofe para as populações, que estão legitimamente fartas!

As imagens difundidas por certas estações de televisão e redes sociais são aterradoras.

Em Tizi-Ouzou, a província mais afectada, os incêndios que devoram as florestas chegaram rapidamente às aldeias, devido à falta de intervenção dos serviços adequados para os conter e extinguir. O Partido dos Trabalhadores (PT) saúda a bravura e coragem dos agentes da Protecção civil e das populações que se mobilizam e intervêm sozinhos para lhes fazer face com os seus próprios meios de luta rudimentares. Sentem-se abandonadas pelo Estado, porque a ajuda e os meios de luta tardam em chegar.

Os meios adequados para tais circunstâncias não estão disponíveis porque, tal como no Covid-19, não foram tomadas medidas de prevenção pelos vários governos que, há décadas, se têm sucedido.

Também não foi tirada nenhuma lição dos recentes incêndios em Khenchla.

A política de austeridade dos vários governos, que afectou a totalidade dos sectores, não poupou o das Florestas e o da Protecção civil. O Director-Geral das Florestas, durante uma entrevista num canal de televisão após os incêndios de Khenchla, considerou que os meios necessários para fazer face aos incêndios florestais passam, pelo menos, por duplicar o número dos efectivos. Pelo seu lado, o ministro da Agricultura – que é responsável pelo Departamento florestal – tinha respondido, numa estação de rádio nacional, que “a crise económica que o país está a atravessar já não permite mais recrutamentos. Toda a população precisa de se envolver na prevenção, cabendo à sociedade civil desempenhar o seu papel”.

Portanto, as coisas são claras: não poderemos continuar a contar com o Estado. O Estado deixará de fornecer os meios, esta é a resposta que foi dada aos agentes da Protecção civil, que foram reprimidos e acusados de serem uma mão do estrangeiro, quando saíram para a rua e se manifestaram para exigir a melhoria das suas condições de vida e de trabalho.

O PT, que expressa a sua solidariedade para com as vítimas destes incêndios, apela às mais altas autoridades do país para que actuem, com extrema urgência, mobilizando sem demora todos os meios do Estado para ajudar as populações em perigo de vida.

Apela ao levantamento imediato de todos os obstáculos, de qualquer natureza, a fim de dotar o Departamento Florestal e o Departamento da Protecção Civil de todos os recursos materiais e humanos necessários para fazer face à actual situação catastrófica e para lidar com toda e qualquer situação de emergência.

Governar é fazer prevenção

O PT recorda que tem vindo a fazer uma campanha incessante, desde o ano 2000, pela criação de parques de intervenção de emergência em todas as províncias do país.

Os vários governos não tiraram todas as lições da desvinculação do Estado das suas missões essenciais.

Será que as autoridades do país desconhecem as pesadas consequências políticas que resultarão, inevitavelmente, das políticas que fazem com que a população se sinta abandonada à sua própria sorte?

No momento da conclusão deste comunicado, foram também noticiados inícios de incêndios em Béjaïa e Bouira.

O PT reitera o seu apelo a uma enérgica e pronta intervenção do Estado, das suas instituições e departamentos para que, por todos os meios disponíveis, em todo o lado se possam superar estes incêndios e poupar a perda de vidas humanas.

O Secretariado Político Permanente do PT

Argel, 10 de Agosto de 2021

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(1) Os meios de Comunicação social indicam que, actualmente, já houve mais de 70 mortes.

Situação na Tunísia

O Partido dos Trabalhadores (PT) da Argélia está a acompanhar, com grande atenção, os desenvolvimentos políticos na Tunísia. Denunciamos veementemente todas as interferências externas da União Europeia, dos Estados imperialistas e do mundo árabe e muçulmano, bem como de qualquer Partido externo.

O povo é a fonte de todo o poder. Consequentemente, o povo tunisiano tem o direito de decidir livremente o seu destino, sem qualquer interferência externa, de definir as suas prioridades, de escolher os meios para satisfazer as suas aspirações e de exercer plenamente a sua soberania, definindo igualmente a forma e conteúdo das instituições de que é dotado.

O povo tunisiano é, portanto, o único com poderes para se pronunciar sobre as decisões que envolvem o presente e o futuro da Tunísia.

Como os próprios tunisianos lembram, as palavras de ordem da revolução de Dezembro de 2010 – pão, empregos e dignidade nacional – continuam a ser relevantes hoje.

Como qualquer revolução frustrada mas não morta, a revolução tunisiana retomou o seu curso 10 anos após sua eclosão, tendo como centro as mesmas reivindicações sociais, económicas e políticas.

Abstendo-se de qualquer ingerência nos assuntos da Tunísia, o PT da Argélia renova o seu apoio incondicional ao povo tunisino. Tirem as mãos de cima do povo tunisino!

Transcrevemos um comunicado, de 27 de Julho de 2021, do Secretariado Permanente do Partido dos Trabalhadores da Argélia sobre a situação na Tunísia, editado no jornal “O Trabalho” – cuja publicação é da responsabilidade da Secção brasileira da 4ª Internacional (corrente do PT do Brasil) – na sua edição nº 887, de 29 de Julho de 2021.

Argélia: “O poder está a conduzir o país a uma descida ao inferno”

LOUISA HANOUNE, ao intervir – a 19 de Dezembro – na abertura de uma reunião do Partido dos Trabalhadores (PT), de que é Secretária-geral, começou a sua acusação duvidando da considerável diminuição do nível de contaminação da Covid-19, anunciada pelo Governo nos últimos dias, o que, de acordo com ela, não corresponde à realidade. Uma realidade feita, continuou, de uma verdadeira “hecatombe”, não só nas grandes cidades, mas também nas localidades do interior do país (wilayas), cujos números estão longe de ser os comunicados oficialmente.

Isto devido, explicou, à falta gritante de meios de prevenção que são irrisórios, de acordo com uma notícia da manhã desse mesmo dia, na Rádio nacional Canal 3, que fala de hospitais que estariam em “grande perigo”, citando o caso do hospital Beni Messous, onde 60% do pessoal médico e paramédico está infectado com Covid-19. Ela referiu, de forma enfática, que “a responsabilidade do Estado é total, em matéria de prevenção e de saúde pública”.

E fez a ligação com o “pseudo-confinamento”, como ela lhe chamou, uma vez que, na sua opinião, o poder explorou-o para levar a cabo “práticas que não são diferentes das do poder que caiu sob a força do movimento popular de 22 de Fevereiro de 2019”. Práticas que geraram uma “situação aterradora”,com “perigos a ameaçar os trabalhadores e o tecido social do país”. “Esta é a nova Argélia, já entrámos nela. Uma nova Argélia, em ruptura com a Argélia dos 1.500.000 mártires, com os ideais de 1 de Novembro de 1954, com os sacrifícios do povo argelino e em contradição com as aspirações das gerações pós-independência (da França – NdT).”

A secretária-geral do PT apoiou esta sua acusação com um argumento “quantificado”. De acordo com ela, citando estudos e inquéritos realizados por peritos e institutos de investigação credíveis, cerca de 50% dos trabalhadores com contrato permanente estão completamente parados ou, então, a receber apenas parcialmente os seus salários mensais, e quase 63% dos trabalhadores independentes dos diversos sectores (comércio, serviços, artesanato, criação de gado, agricultura…) encontra-se na mesma situação.

Gente qualificada que vem, assim, aumentar as fileiras dos desempregados, aos quais também será necessário adicionar 38,8% de assalariados do sector público e 68,5% do sector privado, para além do grande número de trabalhadores ocasionais que têm perdido os seus magros rendimentos.

Louisa Hanoune diz “não compreender a manutenção da paragem do transporte de passageiros inter-wilayas”, uma situação que, de acordo com ela, “beneficia os traficantes clandestinos, cujo número tem aumentado de forma exponencial e que praticam preços proibitivos”. Para ela, esta situação constitui uma verdadeira “tragédia”, e mesmo um “crime contra a maioria do povo”; por outro lado, menciona a hemorragia financeira registada em muitas empresas públicas, citando a ADE (Algérienne des eaux – Empresa argelina das Águas) ou a Sonelgaz, cuja taxa de recuperação das dívidas é enorme.

Advertindo contra uma possível cedência da companhia de transporte aéreo local (a Air Algérie) a um parceiro dos Emiratos Árabes Unidos, anunciada em surdina aqui e ali, acreditando que isso constituiria uma “provocação com grave impacto”, a Secretária-geral do PT salientou que, ao contrário do que é afirmado, a Lei do Orçamento do Estado para o próximo ano está cheia de aumentos de impostos, nomeadamente da água, da electricidade e dos combustíveis. Isto, segundo ela, constitui um “perigo para a Nação”. Combustíveis que já tiveram, neste ano de 2020, um aumento de 25%. O que, como ela recordará, não foi possível em 1998, uma vez que, “nessa altura, quando as reservas de moeda estrangeira do Erário Público estavam perto de cinco mil milhões de dólares, os deputados recusaram um aumento do preço dos combustíveis de apenas um dinar (1).

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(1) O dinar é a moeda da Argélia, que actualmente vale 0,0076 dólares.

Reportagem publicada no jornal argelino Le Soir d’Algérie, de 20 de Dezembro de 2020.