
Militares fortemente armados já marcavam presença na 8ª Cimeira das Américas, que teve lugar em Lima (capital do Peru), em Abril de 2018.
Biden apelou aos membros da NATO para se reunirem em Espanha nos dias 29 e 30 de Junho. (Os governos da Finlândia e a Suécia exigiu a adesão a essa organização). A guerra na Europa tem tendência a estender-se.
A invasão da Ucrânia pela oligarquia mafiosa de Putin deu a Biden o pretexto para pressionar os governos da Europa, através da NATO, não apenas para intervir na guerra na Ucrânia (ajuda financeira, envio de armas e de conselheiros militares junto do Governo ucraniano, boicote às mercadorias russas), mas também para iniciar um tsunami belicista (aumentar os orçamentos de armamento para 2% do PIB de cada país).
Quase ao mesmo tempo – para sermos mais precisos, três semanas antes, no início de Junho – Biden convocou os governos da América Latina para a chamada Cimeira das Américas.
Tratar-se-ia de duas conferências com perfis diferentes, poder-se-ia dizer, mas que exprimem ambas a tentativa do Governo dos EUA de reorientar a sua política mundial a fim de obterem mercados, desalojarem os seus concorrentes (China, Rússia…), para enfrentar a desmoronamento do mercado mundial que a pandemia do coronavírus e, agora, a guerra na Europa aceleraram.
Recordemos que o Governo norte-americano, há alguns meses formou uma frente com o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia tendo como objectivo vigiar os mares da China.
No caso da 9ª Cimeira das Américas, os objectivos de Biden são parar a enorme vaga migratória que está a ter lugar (via América Central / México) para os EUA, que deu saltos qualitativos e passos largos nos últimos anos, e para abrir caminho às suas empresas imperialistas para explorar as matérias-primas e os recursos do subcontinente, em conformidade com a transição energética.
No caso do México, os objectivos do Governo imperialista – expressos pelo embaixador norte-americano, que age como se fosse do país é o nº 2 do país – são brutais:
– O México tem uma fronteira de 3 mil quilómetros com os EUA (a construção do Muro de Trump falhou), mas na sua parte mais estreita, no Sudeste (o Istmo de Tehuantepec, que vai desde o Golfo do México até ao Oceano Pacífico), existem apenas 300 kms.
O Governo mexicano está a construir uma linha de caminho-de-ferro neste Istmo de Tehuantepec. Analistas políticos começam a dizer que estes 300 kms serão guardados pelo Exército mexicano.
Obrador (1) deu um grande impulso às Forças Armadas, atribuindo-lhes tarefas de grande importância económica e política (controlo dos portos, das alfândegas, etc.). Esses 300 kms serão um Muro de contenção para os migrantes vindos do Sul?
– Ao mesmo tempo, o embaixador norte-americano – que está em digressão pelo país, juntamente com o secretário de Estado das Finanças do México – reuniu-se com os governadores de diferentes Estados do país (2) com o objectivo, de acordo com o embaixador, de “(…) identificar e fazer avançar as oportunidades de investimento, de desenvolvimento económico, os objectivos ambientais e os esforços em matéria de alterações climáticas, o desenvolvimento da força-de-trabalho, entre outras tarefas”.
Esse embaixador, actuando em simultâneo como representante como representante das grandes empresas tecnológicas imperialistas, sublinha que “tem estado em diálogo com empresas tais como a Amazon, a Microsoft, a Mercado Libre, a Uber… que estão dispostas a investir no Sudeste mexicano.”
A resistência do governo de Obrador
O facto do governo de Biden não ter convidado Cuba, a Venezuela e a Nicarágua para a 9ª Cimeira das Américas levou Obrador a expressar a sua recusa de estar presente nessa Cimeira, que irá ter lugar em Los Angeles, na Califórnia. E a sua posição tem arrastado os governos “progressistas” do subcontinente a expressarem também a sua rejeição da Cimeira.
Alguns não estarão presentes (Bolívia), outros participarão (Argentina, Chile, Honduras) mas expressando a sua discordância.
Será a 9ª Cimeira das Américas um fracasso? Sim e não. Ela mostrará a rejeição formal dos governos “progressistas”, contra as exclusões feitas pela Administração de Biden; mas, e quanto à política dita de “transição energética”, de pilhagem de matérias-primas e de recursos naturais, haverá uma resposta dos governos “progressistas”?
Recordemos que o representante do governo de Obrador, na reunião do COP 26 em Glasgow, votou a favor de uma mudança no sentido da transição energética.
Cabe aos trabalhadores e aos povos, através da sua luta organizada, defender a soberania sobre os seus recursos.
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(1) Obrador é o Presidente da República do México.
(2) O México é uma Federação de Estados, tal como, por exemplo, os EUA ou o Brasil.
Publicado no jornal El Trabajo, da responsabilidade da Secção da 4ª Internacional no México, e retomado no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 708, de 1 de Junho de 2022, do Partido Operário Independente.