Os EUA a manobrar, de Marrocos ao Médio-Oriente

Nas últimas semanas, atrás do burburinho das recriminações e queixas legais de Trump, este não ficou inactivo a nível internacional. Foi assim que obteve, de vários países do Médio-Oriente, o reconhecimento do Estado de Israel.

É nomeadamente o caso da Arábia Saudita, dos Emirados do Golfo e do Sudão (em troca, os EUA removeram o Sudão da lista negra dos países antidemocráticos). Tanto a Arábia Saudita como estes outros Estados árabes não tinham, até agora, reconhecido o Estado de Israel, nunca referindo sequer o seu nome, mas designando-o como sendo uma “entidade sionista”.

Trata-se de uma reviravolta importante, que os Palestinianos denunciam como constituindo uma facada nas costas.

Para além do apoio ao Estado de Israel, por parte dos EUA, trata-se antes de mais da constituição – sob a égide do imperialismo norte-americano – de um “pilar da ordem”. De facto, essa estratégia visa juntar, no mesmo quadro, todos aqueles que eram pró-EUA, mas que não se reconheciam entre si, a fim isolar o Irão. Porque é precisamente esse o objectivo destes acordos: para conter o Irão, para exercer pressão sobre ele com sanções e até atacá-lo, como o demonstra o assassinato de vários funcionários do Programa de Armas nucleares iranianas pela Mossad israelita (Serviços Secretos de Isreal).

É também uma tentativa de esmagar a reivindicação do povo palestiniano de um único Estado em todos os territórios da Palestina histórica.

O último acto, sempre sob a égide dos EUA, foi um Acordo de reconhecimento estabelecido entre Marrocos e Israel. De facto, foi um representante da Administração norte-americana que o anunciou, só depois tendo sido confirmado por Marrocos e por Israel. Note-se que este reconhecimento está a provocar uma grande indignação na população marroquina, muito arreigada à defesa do povo palestiniano.

Em troca do reconhecimento de Israel por Marrocos – o que este país sempre se tinha recusado a fazer até agora –, Israel e, acima de tudo, os EUA reconhecem o Sahara Ocidental como parte integrante de Marrocos. Em desafio frontal aos tratados internacionais, sob a égide das Nações Unidas, os EUA acabam de publicar um novo mapa de Marrocos que inclui o Sahara Ocidental.

Naturalmente, os EUA não estão preocupados com o Sahara Ocidental. Este território tem sido o cerne de uma disputa, que dura há décadas, entre a Argélia e Marrocos. Nas últimas semanas, até tinham aumentado as tensões e tiveram lugar alguns combates. A tomada de posição norte-americana é uma pressão directa e uma ameaça contra a Argélia, para que esta satisfaça ainda mais as exigências do imperialismo, nomeadamente ocupando o seu lugar na luta contra o “terrorismo” e deixando os militares argelinos intervir fora das fronteiras do seu país.

Ao fazer isto, a decisão dos EUA sobre o Sahara Ocidental visa dividir os povos do Magrebe e colocá-los uns contra os outros.

Esta estratégia também é uma resposta ao processo revolucionário iniciado na Argélia em 2019 e às insurreições das populações em Marrocos.

Esta acção ultrapassa Trump, mas corresponde às exigências do imperialismo norte-americano, de que o Biden vai assumir a liderança.

Análise de Lucien Gauthier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 635, de 16 de Dezembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Às voltas com o Acordo Europeu sobre “o Fundo de Recuperação”

Cimeira_UE

Cimeira da União Europeia, realizada em Bruxelas entre 18 e 21 de Julho de 2020. 

Quando foi assinado o Acordo europeu, na madrugada de 21 de Julho, Antonio Garamendi, presidente da CEOE (1), declarou que era “um bom acordo para a Espanha e para a Europa”.

Opinião compartilhada pelos meios de comunicação social (a menos de algumas nuances), o governo de Sánchez, os partidos da coligação e da oposição, os secretários-gerais dos sindicatos, os altermundialistas, e todo o tipo de defensores do Sistema de “mercado livre” (ou seja, o capitalismo imperialista) e o Regime monárquico. Tanta unanimidade, sem dúvida que só pode significar gato escondido.

Com efeito, no dia seguinte as coisas já não estavam tão claras.

Os protestos e a hipocrisia do Parlamento Europeu

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A Cimeira da União Europeia e o Acordo de Livre Comércio com o Mercosul

 

Mercosul

As sucessivas Cimeiras dos chefes de Estado ou de Governo dos 28 países da União Europeia coincidiram com a assinatura (à espera de ratificação pelos países assinantes) do Acordo de livre comércio UE/Mercosul, em negociação desde há anos (1).

Apesar da casualidade de calendário, estes dois factos mostram o profundo desmoronamento destas instituições, particularmente da União Europeia, entre o martelo da guerra comercial lançada pela Administração de Trump e a bigorna da resistência dos povos e dos trabalhadores às políticas de austeridade. Continuar a ler