Espanha: Todos somos Cádis

Uma só classe, uma só luta. Metalúrgicos em Cádis manifestam-se em luta pelo seu Acordo colectivo de trabalho.

Desde 16 de Novembro que os trabalhadores da indústria da província de Cádis estão em greve, por tempo indeterminado, ao apelo unitário dos seus sindicatos e em defesa do seu Acordo colectivo. As suas reivindicações são claras e simples: aumentos salariais em função da inflação (que, actualmente, é de 5,4%), manutenção de todos os direitos e de todos os postos de trabalho. O Patronato – que beneficiou, durante ano e meio, de todo o tipo de ajudas do Governo – recusa-se a cumprir o mínimo, e oferece um mísero aumento salarial de 1%.

Esta greve provincial está a ter o apoio de toda a população trabalhadora, e no dia 23 de Novembro foi convocada uma greve estudantil para apoiar os grevistas. Estão a ser convocadas manifestações de apoio em diferentes províncias e os sindicatos estão a receber mensagens de solidariedade de todo o país.

Cádis não é um caso isolado. No passado dia 17 de Outubro, os trabalhadores metalúrgicos das fábricas de alumínio de Vestas e de Alcoa, na região de A Mariña, entraram em greve contra a ameaça do seu encerramento; e, em Alicante, os trabalhadores da indústria também estão em greve, há 5 dias, em defesa do seu Acordo colectivo de Trabalho. É evidente que as reivindicações destes trabalhadores são comuns a todos os trabalhadores da indústria do país, que também enfrentam a ameaça de encerramentos em massa com a desculpa da “economia verde”.

Uma situação que põe sobre a mesa uma questão que muitos colocam: porque é que as Confederações, cujos sindicatos metalúrgicos provinciais estão a convocar as greves, não organizam uma mobilização conjunta? A bola está no campo dos dirigentes sindicais que se agarram ao diálogo social – do qual só podem resultar mais ataques – e têm medo de molestar o “Governo progressista”.

De facto, ao mesmo tempo que os trabalhadores da indústria, muitos sectores estão a organizar e a preparar mobilizações, tais como agricultores e os criadores de gado, que são sufocados pelas grandes empresas da distribuição e que anunciam mobilizações para exigir preços justos para os seus produtos.

As ruas estão em tumulto

Foi assim que um conhecido jornalista caracterizou a situação no quotidiano La Vanguardia, a 19 de Novembro… declarando: “Sectores inteiros estão em rebelião e o Governo não está a fazer nada para satisfazer as suas reivindicações. Mas não hesita em enviar centenas de polícias de choque com tanques contra os trabalhadores de Cádis.”

O Governo – preocupado com a necessidade, ditada pelo capital e por Bruxelas, de fazer passar novas contra-reformas, antes do final do ano (sobre pensões de aposentação, trabalho, segurança dos cidadãos, a “lei Castells” contra a universidade pública) – está desesperadamente à procura de maiorias para o conseguir.

Mas estas maiorias parlamentares, se forem alcançadas, não correspondem à maioria social do país.

E ainda mais quando, ao tentarem mexer na Lei da Memória Democrática – vislumbrando a possibilidade de processar os crimes franquistas – os representantes das instituições herdadas do Regime de Franco gritaram, em uníssono, contra tocar em algo que foi decidido na “Transição” e nos Pactos de Moncloa: amnistiar a ditadura.

É a “tempestade perfeita”. À revolta social e ao colapso económico, junta-se a crise da Monarquia corrupta – que não pode branquear as suas origens e, sobretudo, o facto de ser o garante da opressão contra os povos e da exploração contra os trabalhadores.

É por isso que a mobilização de Cádis e as outras greves têm um significado profundo: o de uma classe que se rebela e clama pela organização de uma mobilização unida.

É dever de cada militante e trabalhador consciente participar no amplo movimento de apoio e solidariedade que está em curso.

Editorial do periódico Información Obrera (Informação Operária) – Tribuna livre da luta de classes em Espanha – nº 364, de 25 de Novembro de 2021.