
Transcrevemos uma parte da crónica do jornalista Pedro Sousa Carvalho, publicada no Expresso online, de 23 de Novembro de 2022.
“No relatório World Cup 2022 Sustainability Strategy, a FIFA (1) comprometeu-se a defender, com unhas e dentes, os princípios de ESG (2) e fixou cinco pilares de sustentabilidade sobre os quais deveria assentar a organização do Mundial de Futebol no Qatar. 1) Humano, 2) Social, 3) Económico, 4) Ambiental e 5) Governance (Governabilidade). Vamos ao balanço.
1) Humano: Nas obras dos estádios e das infraestruturas, segundo o jornal The Guardian, terão morrido 6.500 trabalhadores imigrantes por falta de condições de trabalho. Isto num país que partilha, com os restantes do Golfo Pérsico, o Kafala, um sistema de escravatura disfarçado de controlo de migração.
2) Social: Khalid Salman, embaixador do Mundial do Qatar, disse numa entrevista à televisão alemã ZDF que “a homossexualidade é uma doença mental”.
3) Económico: Os 4,5 mil milhões de euros arrecadados com as transmissões televisivas, bilheteiras e patrocinadores vão todos para os bolsos da FIFA.
4) Ambiental: O Qatar prometeu realizar o primeiro Mundial «neutro em carbono». Afinal, as previsões mais simpáticas apontam para a emissão de 3,6 milhões de toneladas de CO2.
5) Governance: O Qatar é um regime autocrático, suspeito de apoiar grupos extremistas e de ter comprado votos de outros países para poder realizar este mundial.
Se isto fosse um jogo de futebol, coisa que não é, era caso para dizer FIFA 5 – ESG 0.”
A parte mais gritante do balanço: cada um dos 8 estádios (reconstruído ou construído de raiz) e as suas infraestruturas “custou”, em média, a morte de mais de 800 trabalhadores imigrantes…
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(1) A sigla significa Fédération Internationale de Football Association (Federação Internacional de Futebol).
(2) Governabilidade ambiental e social.