
Durante o passado fim-de-semana, tiveram lugar explosões na ponte que liga o território da Crimeia ao território da Federação Russa, destruindo-a parcialmente. A Rússia acusa os Serviços secretos ucranianos. Alguns peritos militares ocidentais acreditam que foi necessária a ajuda dos serviços secretos de um grande país para realizar uma tal operação.
Em resposta, Putin anunciou uma retaliação, a partir de segunda-feira, numa reunião do seu Conselho de Segurança e, de imediato, mísseis atingiram – na manhã de 10 de Outubro – as cidades de Kiev, Zaporizhia, Lviv e outras localidades na Ucrânia. É a escalada na guerra!
Na quinta-feira, 6 de Outubro, iniciou-se em Praga a reunião do Conselho Político Europeu, com a participação de 44 países (os 27 membros da União Europeia e outros países não-membros). Este Conselho reafirmou o seu apoio a Zelensky e adoptou novas sanções contra a Rússia. Na Cimeira, Zelensky – ligado por videoconferência – apelou os países europeus a reforçarem ainda mais as sanções contra a Rússia e a deixarem de emitir vistos de entrada ao conjunto dos cidadãos russos. Numa palavra, ele está a imputar a todos os Russos, incluindo os que fogem da guerra, a responsabilidade pelo conflito armado e coloca-os nas mãos de Putin.
Esta Cimeira não fez mais do que implementar as exigências da Nato, ou seja, do imperialismo norte-americano. Biden, de facto, reafirmou que a guerra duraria muito tempo, até que a Rússia seja derrotada. E, numa escalada para a guerra, ele também fez pesar a ameaça de um “apocalipse nuclear”. Ao fazê-lo, Biden procura aterrorizar os povos do mundo para impor a sua lei.
É o imperialismo norte-americano que está ao leme e está a incentivar a guerra, sendo Zelensky apenas aquele que implementa esta política. Perante a agressão militar orquestrada por Putin, a intervenção dos EUA e da NATO não visa defender a soberania do povo ucraniano, a qual é apenas um pretexto para a defesa dos seus próprios interesses, contraditórios com os do povo ucraniano e do povo russo.
Laura Cooper, uma das responsáveis pela política do Pentágono, disse a 4 de Outubro que o Departamento de Defesa (dos EUA) tinha examinado as necessidades da Ucrânia em termos militares, concluindo que a combinação existente de lançadores Himar e de mísseis GMLRS era suficiente. “Nós acreditamos“, disse ela, “que eles podem atingir a grande maioria dos seus alvos, incluindo a Crimeia, e – para ser clara – a Crimeia é parte da Ucrânia.”
A questão é colocada, e a responsabilidade dos EUA e da NATO é claramente estabelecida, inclusive em relação aos ataques na Crimeia. Os EUA tomaram o controlo do Regime de Zelensky e do aparelho militar ucraniano com o objectivo de desmantelar a Rússia.
A nossa posição é clara: deve haver um cessar-fogo imediato para evitar uma catástrofe para toda a humanidade. Isto significa: o levantamento de sanções contra o povo russo, porque é ele que é capaz de derrotar Putin e o seu Regime.
É preciso parar os belicistas que estão a conduzir a humanidade para a catástrofe. É preciso parar as entregas de armas! Desmantelamento da NATO!
Rejeição da unidade nacional! Recusa de participar no pretenso combate entre “democratas” e “autocratas”, que nada mais é do que a aceitação das exigências do imperialismo. Recusa de aceitar – em nome da entrada na economia de guerra – o acompanhamento das medidas anti-operárias, a inflação, as reestruturações, etc.
Não marchamos atrás de Macron nem atrás de Biden. Pois, como disse Karl Liebknecht: “O inimigo está no nosso próprio país”.
Zelensky contra o Prémio Nobel da Paz e a favor de Meloni
Zelensky, o grande “democrata”, telefonou à chefe do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, para a felicitar pela sua vitória nas eleições legislativas.
Um conselheiro do presidente Zelensky, pela sua parte, denunciou o Prémio Nobel da Paz atribuído este ano a duas ONG (o Russian Memorial e o Centro Ucraniano de Liberdades Civis), bem como ao bielorrusso Ales Bialiatski. Ele declarou: “O Comité Nobel tem um entendimento interessante de «paz» se representantes de dois países que agrediram um terceiro recebem, em conjunto, o Prémio Nobel”.
Assim, para este indivíduo, um adversário do Regime bielorrusso na prisão é “responsável” pela guerra, assim como o Russian Memorial, proibido pelo Regime de Putin e cujos militantes são perseguidos, seria também “responsável” pela guerra.
Isto está de acordo com a declaração de Zelensky ao dizer que todos os Russos deviam ser mortos e ao exigir que aqueles que desertam e fogem do país para evitar a mobilização de Putin fossem bloqueados nas fronteiras ucranianas. E isto acontece numa altura em que o recrutamento no Exército russo está a acelerar, sob o impacto de uma repressão de uma brutalidade sem precedentes.
Intelectuais ocidentais, pró-Zelensky, denunciam a saída da Rússia das centenas de milhares de homens – que assumem todos os riscos ao recusar ir para a guerra – dizendo-lhes para ficarem na Rússia para combater Putin. É fácil de dizer, a partir do conforto do seu ecrã digital… O povo russo não quer a guerra e o ucraniano também não.
Perante Zelensky (representante dos oligarcas ucranianos e instrumento do imperialismo norte-americano) e perante Putin (chefe dos oligarcas russos), reafirmamos – apesar da situação difícil actual – que só a mobilização dos trabalhadores e dos povos pode impor a paz e o restabelecimento da fraternidade entre os povos.
Crónica da autoria de Lucien Gauthier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 727, de 12 de Outubro de 2022, do Partido Operário Independente de França.