
Putin presidiu, como faz todos os anos, ao desfile militar na Praça Vermelha, a 9 de Maio, celebrando a vitória contra o Nazismo. No seu discurso, reafirmou que a “operação militar especial na Ucrânia” continuaria.
Esta guerra – que não confessa o seu nome – produz, como todas as guerras, destruição, mortos, feridos e refugiados. Esta guerra, como todas as guerras, é a barbárie.
No dia anterior, a 8 de Maio, realizou-se uma Cimeira do G7, que impôs sanções adicionais contra a Rússia e decidiu enviar meios militares adicionais para a Ucrânia.
Em seguida, também a 9 de Maio, Biden assinou uma Lei do tipo “Lend-Lease Act” para acelerar o envio de armas para a Ucrânia. Trata-se de uma disposição que os EUA criaram durante a Segunda Guerra Mundial (1) e que nunca mais foi utilizada desde 1945.
O povo ucraniano está a ser mantido como refém entre Putin e Biden.
Mas o povo russo é também refém das consequências da guerra e das sanções.
Estamos com os povos ucraniano e russo que querem a paz e não têm nenhuma responsabilidade nesta guerra.
Não estamos ao lado de Putin e o seu clã de oligarcas mafiosos, que estão a pilhar as riquezas da Rússia e a desencadear uma guerra bárbara.
Mas também não estamos ao lado de Zelinsky – que, não esqueçamos, foi instalado como presidente com a ajuda dos dois oligarcas mais ricos da Ucrânia – porque as oligarquias dominam tanto na Rússia como na Ucrânia. Estas oligarquias são o produto do colapso da URSS, da qual partilharam os melhores bocados do desmantelamento assumindo o controlo das grandes empresas que eram públicas.
Estes manobras são comandadas por Biden e os EUA. Não esqueçamos que – após a derrota ucraniana em 2014, no seguimento da intervenção russa no Donbass – os EUA reorganizaram o Exército ucraniano com três mil milhões de dólares de armamento, entre 2014 e 2021, conjugado com o envio de peritos e instrutores.
Actualmente, para esta guerra, os EUA já entregaram trinta mil milhões de dólares em armas à Ucrânia, além de enviaram instrutores e combatentes (O Orçamento militar anual da França é de 40 mil milhões de euros). Os EUA são uma parte beligerante neste conflito, para combater a Rússia “até ao último ucraniano vivo”.
Biden não está a fazer isto para ajudar o povo ucraniano.
Para os EUA, esta guerra deve durar e eles estão a fazer tudo para garantir que assim seja.
O seu objectivo é claro: transformar a Ucrânia, vizinha da Rússia, num protectorado; destruir a Rússia como potência (2); e, para além disto, fazer um aviso directo à China.
Recordemos que Biden, aquando da sua eleição, estabeleceu o objectivo de “reequilibrar” as relações com a China e, há alguns meses, assinou um Acordo estratégico com a Austrália e o Reino Unido para o Pacífico, um Acordo dirigido directamente contra a China.
Finalmente, Biden realinhou a União Europeia sob a sua égide, exigindo-lhe em particular um rearmamento massivo, o que significa a concretização de mercados altamente lucrativos para a indústria norte-americana.
Mas não se trata apenas da “normalização” da Europa – há uma dimensão mundial em toda esta estratégia.
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(1) Lei aprovada pelo Congresso dos EUA, em Março de 1941, e aplicada até Agosto de 1945, que autorizava o Presidente a vender, transferir, trocar e emprestar material de guerra e todo o tipo de mercadorias a Estados cuja “defesa fosse considerada vital para a defesa dos EUA”.
(2) O jornal Le Monde, de 10 de Maio, fala da “inconfessável euforia de Washington contra Moscovo”.
Crónica de Lucien GAUTHIER publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 705, de 11 de Maio de 2022, do Partido Operário Independente.