Biden ao leme

No final da semana passada, as cimeiras da NATO, da União Europeia e do G7 foram realizadas sob a presidência de Joe Biden. Foi ele quem definiu o eixo comum das três reuniões. Ilustrativo é o facto de ele ter imposto à UE a obrigação de comprar gás liquefeito norte-americano, a partir de agora. Mas, igualmente, o facto de que todas as forças europeias da NATO aumentarão os seus orçamentos militares para 2% do PIB dos seus respectivos países.

Através da NATO, Biden está a reestruturar todas as relações políticas na Europa, alinhando todos os velhos imperialismos europeus com a orientação dos EUA.

Quando a URSS entrou em colapso, em 1993, a NATO tinha 16 países; hoje tem 30, incluindo todos os países da Europa de Leste, com excepção da Ucrânia. É óbvio que, desde 2004, com o abandono unilateral por parte dos EUA do Acordo com a Rússia sobre o desarmamento nuclear na Europa, e a abertura da NATO aos países do antigo bloco soviético, os EUA estão a procurar aumentar a tensão nessa região.

Putin, em defesa dos interesses do seu clã oligárquico, reagiu com violência, desencadeando uma guerra sanguinária contra o povo ucraniano. Este povo está a ser tomado como refém entre a política dos EUA e a de Putin.

Com a guerra na Ucrânia, os EUA – sob a égide da NATO – estão a organizar um destacamento militar sem precedentes nas fronteiras da Rússia. Diversos tipos de armas modernas estão a ser massivamente despejados na Ucrânia, tornando a NATO num beligerante de facto nesta guerra. Na verdade, quando visitou soldados norte-americanos na Polónia posicionados na fronteira com a Ucrânia, Biden disse-lhes: “Verão a situação quando forem à Ucrânia; aliás, alguns de vós já lá estiveram.” Todos os comentadores interpretaram este dito de Biden como a confissão de haver soldados norte-americanos a orientar os militares ucranianos, especialmente nos sectores da artilharia e dos mísseis.

A sanguinária agressão de Putin contra a Ucrânia é uma oportunidade perfeita para os EUA atingirem, finalmente, os seus objectivos; algo que não tinham sido capazes de fazer até agora. No centro dos interesses de Biden não estão nem a Ucrânia nem a Europa, mas sim os interesses dos Estados Unidos da América.

No final do seu discurso na Polónia, Biden descaiu-se a dizer que é necessário “expulsar Putin”. Imediatamente, fontes oficiais dos EUA tentaram minimizar o sentido dessa afirmação, enquanto Scholz e Macron exprimiam nuances. Houve comentadores que a viram como uma “gaffe”. Mas uma gaffe é dizer uma verdade que deveria ter sido mantida em silêncio.

Aliás, no dia seguinte, Biden declarou: “Não retiro nada do que disse.” O seu objectivo é claro. Ao utilizar a guerra na Ucrânia, ele quer desmoronar o regime de Putin. Por um lado, este regime é uma potência regional que desempenha um papel importante na Ásia Central (uma região rica em recursos naturais); e, por outro lado, Moscovo tem peso na cena internacional, como por exemplo na Síria (em oposição aos norte-americanos) ou em África (em oposição ao imperialismo norte-americano ou francês).

A dominação do clã oligarca de Putin sobre a economia russa é um obstáculo à penetração dos EUA. É claro que não é o regime autoritário de Putin que incomoda Biden. Ao procurar mudar a situação na Rússia, Biden quer permitir que o capital norte-americano assuma directamente a posse da riqueza da Rússia – em petróleo, gás, ouro e minérios – sem ter como intermediários os oligarcas.

Para o capital, o mercado mundial é demasiado pequeno; daí, a violenta concorrência entre os trusts, à escala global, pelo aumento das suas quotas de mercado. E a Rússia faz parte dessas quotas de mercado. Mas a China também é visada. Com a guerra na Ucrânia e a pressão sobre a Rússia, trata-se de quebrar o acordo estratégico entre a China e a Rússia, o qual constitui um obstáculo para os interesses políticos norte-americanos.

É assim que os EUA procuram isolar a China para aumentar a pressão contra ela. Biden anunciou “as implicações e consequências para a China, se esta fornecer apoio material à Rússia”. Já por várias ocasiões, a Administração dos EUA tem exortado o Presidente chinês a romper com a Rússia. Para Biden, a Rússia é apenas uma etapa. O seu verdadeiro objectivo –como anunciou quando foi eleito – é “concentrar-se na China”.

Ele não tem sido bem-sucedido em repatriar as empresas americanas que se tinham deslocalizado para a China, tal como Trump não conseguiu. Uma prova disso é que o défice comercial dos EUA com a China foi de 37 mil milhões de dólares, em Janeiro, o maior défice desde sempre.

Através da reorganização das relações na Europa e no resto do mundo, liderada pelos EUA, uma nova situação está a abrir-se. E, ao mesmo tempo, os aumentos acentuados dos preços da energia e dos alimentos provocam – e provocarão cada vez mais – a cólera dos povos. Lenine definiu o imperialismo como “a era das guerras e das revoluções”.

Crónica de Lucien GAUTHIER publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 699, de 30 de Março de 2022, do Partido Operário Independente.

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