Sanções contra a Rússia: A primeira vítima é o povo russo

Vários milhares de pessoas concentradas em São Petersburgo, a 25 de Fevereiro contra os bombardeamentos: “Não à guerra”; “Eles são nossos irmãos”.

As sanções económicas contra a Rússia foram instituídas, a partir de 2014, pelos EUA e pela União Europeia, bem como por outros países ou instituições “ocidentais”.

Essas sanções internacionais foram impostas durante a intervenção militar da Rússia na Ucrânia – que começou no final de Fevereiro de 2014 – e foram agora reforçadas, após a nova intervenção russa na Ucrânia.

Os argumentos avançados para a imposição dessas sanções são de vária ordem. Em França, por exemplo, o ministro da Economia do governo de Macron, Bruno Le Maire, disse numa entrevista, a 1 de Março: “Vamos provocar o colapso da economia russa. Vamos fazer uma guerra económica e financeira total contra a Rússia.” Mas, à pergunta do jornalista sobre o impacto destas medidas na população, Le Maire limitou-se a responder: “Não podemos fazer outra coisa.” Por outro lado, o jornal Le Monde, de 1 de Março, declarou que “a Rússia tornou-se num pária económico mundial”. A moeda russa (o rublo) está a entrar em colapso, enquanto a inflação está a atingir níveis históricos. Entre a população, é um salve-se quem puder.

O que os órgãos da Comunicação social em geral – e, nomeadamente, em Portugal – minimizam ou até ignoram é a oposição à guerra que está a exprimir-se nas ruas, apesar da repressão feroz, na própria Rússia. Em quatro dias, quase 5.700 manifestantes foram presos em concentrações ou acções de todos os tipos contra a guerra na Ucrânia, nas principais cidades do país. Em Moscovo e em São Petersburgo, foram registadas 213 e 159 detenções, respectivamente, a 26 de Fevereiro. Em Rostov-on-Don, uma cidade perto da fronteira com a Ucrânia, uma mulher jovem – empunhando um cartaz branco – foi condenada a oito dias de prisão, pelas forças repressivas de Putin, por “desobedecer à Polícia”.

O povo russo quer a paz, apesar das ameaças e das acusações vindas de todos os lados.

Em poucos dias, uma petição contra a guerra já tinha, a 28 de Fevereiro, a assinatura de mais de um milhão de Russos.

A 25 de Fevereiro, mais de 600 cientistas russos tornaram pública um Apelo contra a guerra e a intervenção russa na Ucrânia (ver abaixo). Por ocasião de um jogo de futebol do Dínamo de Moscovo, na Primeira Liga russa, os adeptos do clube entoaram, para as câmaras de TV, o nome do seu treinador assistente – ucraniano – o qual tinha sido impedido de entrar no estádio, devido à sua nacionalidade.

Os governos fautores da guerra procuram colocar os povos uns contra os outros, justificando as sanções com a guerra. Mas, é um facto que a primeira vítima das sanções contra a “Rússia” é o povo russo.

Apelo de 600 cientistas russos contra a guerra

“A guerra com a Ucrânia é um passo em direcção ao vazio (…). Uma guerra contra ela é injusta e francamente desnecessária.

A Ucrânia era e é um país próximo de nós. Muitos de nós temos familiares, amigos e colegas na Ucrânia. Os nossos pais, avôs e bisavôs lutaram juntos contra o Nazismo. O desencadear da guerra, para satisfazer as ambições geopolíticas dos dirigentes russos, impulsionadas por fantasmas históricos duvidosos, é uma traição cínica à sua memória.”

Um dos iniciadores deste Apelo, Georgy Kurakin, declarou:

“Penso que é perigoso para qualquer um dizer, na Rússia, «sou contra a guerra». Mas este é o momento em que precisamos de o dizer. Isto é o mínimo que podemos fazer. E precisamos de o fazer (…).

Gostaria de dizer a todos os Ucranianos: «Não apoio nenhuma guerra. Não preciso de guerra. Quero a paz. E não sou vosso inimigo. Sou vosso amigo».”

Texto adaptado de uma crónica de Vincent Visseq, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières”Informações operárias – nº 695, de 2 de Março de 2022, do Partido Operário Independente de França.

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