
Biden está a colocar em prática o que disse aquando da retirada dos EUA do Afeganistão: concentrar-se sobre a China. É o que significa o anúncio feito por ele da constituição de uma aliança estratégica entre os EUA, a Austrália e o Reino Unido (Aukus), a 18 de Setembro, quando também informou que os EUA forneceriam à Austrália submarinos – movidos a energia nuclear – capazes de atingir rapidamente águas territoriais chinesas.
O Primeiro-ministro australiano confirmou esse acordo e disse que, em função do mesmo, ficava rompido o contrato de 52 mil milhões de euros – firmado com a França em 2016 – para a compra de submarinos convencionais.
Aliança estratégica militar dos EUA com a Austrália e o Reino Unido
Esta ruptura provocou clamores em França, que denunciou a atitude traidora dos EUA e da Austrália, “uma punhalada nas costas”, como disse Le Drian, ministro dos Negócios Estrangeiros, ao anunciar a chamada a Paris dos embaixadores franceses nesses dois países para consultas.
Deste acontecimento ressaltam duas coisas: os EUA, ao obrigar à ruptura do contrato da Austrália com a França para o fornecimento dos submarinos, ocupam o mercado; por outro lado, ao afastar a França desse acordo estratégico, os EUA indicam claramente qual o lugar que está reservado na região, apesar da presença de colónias francesas na mesma.
A reacção da China
A China, evidentemente, protestou de maneira vigorosa, ameaçando essa aliança estratégica e qualificando-a como uma operação de guerra. Também sublinhou que é a primeira vez que uma potência nuclear fornece submarinos dessa categoria a uma potência que não é nuclear. O Governo chinês denunciou assim uma situação que pode ver multiplicar-se, em diferentes países, o fornecimento pelos EUA de embarcações militares nucleares.
Após a retirada do Afeganistão, os EUA estão obrigados a concentrar todas as suas forças para enfrentar a concorrência a que estão submetidos os seus monopólios num mercado mundial saturado e para organizar os meios que lhe permitam concorrer eficazmente com a China.
A França, tal como os demais velhos países imperialistas de segunda ordem, está agora prevenida de que a política dos EUA é privilegiar, antes e acima de qualquer outra coisa, a defesa dos seus próprios interesses.
Crónica de Lucien Gauthier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 673, de 23 de Setembro de 2021, do Partido Operário Independente de França.