
Trata-se de uma evidência que se impõe agora: os Norte-americanos abandonaram milhares e milhares de Afegãos que tinham trabalhado para eles. A Comunicação social está cheia de exemplos.
O director da Universidade Americana de Cabul teve de se esforçar muito para que os estudantes afegãos da sua universidade que queriam sair do país pudessem fazê-lo. Conseguiu, finalmente, obter autorização das autoridades dos EUA para requisitar quinze autocarros visando transportar para o aeroporto aqueles que queriam partir do país.
Demoraram horas intermináveis os autocarros que – na sua ida para o aeroporto – tentaram evitar os pontos de controlo dos Talibãs ou negociar com eles quando não puderam evitá-los. Mas, no aeroporto de Cabul, os soldados norte-americanos recusaram-lhes a entrada, argumentando que eles não estavam nas suas listas.
Os estudantes tiveram de regressar ao seu ponto de partida. Eles ficarão no Afeganistão.
Há também os testemunhos de mulheres da limpeza na Embaixada dos EUA que estão sob ameaça.
Há o tradutor do Exército dos EUA que enviou um SOS, a partir do local onde se está a esconder.
Há a estudante afegã da Universidade Americana de Cabul, que é conhecida nas redes sociais, e que, também ela, está a pedir ajuda.
Há o motorista que costumava trabalhar para a Embaixada dos EUA, o qual tem de mudar de alojamento todos os dias.
E há ainda as mulheres afegãs que acreditavam nas promessas de emancipação com que lhes acenavam e que estão agora na mira dos Talibãs.
A organização norte-americana dos direitos dos animais Peta fez um apelo solene ao presidente Biden para que este ordenasse o repatriamento de cães militares dos EUA abandonados pelos soldados quando saíram do Afeganistão, publicando mesmo fotos desses cães.
Dada a importância do assunto, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse a 31 de Agosto: “Contrariamente ao que dizem informações incorrectas, o Exército dos EUA não deixou cães fechados em jaulas no aeroporto.” Ele declarou que as fotos divulgadas eram de um abrigo de animais afegão e não dos cães militares norte-americanos que tinham sido repatriados com os soldados.
Um cão – além disso, norte-americano E militar – vale mais do que uma mulher afegã, do que um homem afegão…
Crónica Lucien GAUTHIER, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 671, de 8 de Setembro de 2021, do Partido Operário Independente de França.