A Espanha e o Afeganistão: Política internacional, política interna…

A retirada humilhante das forças de ocupação do Afeganistão é um reflexo claro das consequências da política imperialista. Uma política que tem tido o apoio e participação de todos os governos da Monarquia em Espanha, por detrás da administração dos EUA. O resultado de 20 anos de ocupação não podia ser mais claro: um país destruído, empobrecido, sem quaisquer direitos (as tropas ocupantes mantinham o país numa opressão sombria) opressão negra), sujeita às forças reaccionárias. Este é o verdadeiro balanço das chamadas guerras humanitárias.

Mas, como a História e os factos demonstram, há uma correspondência entre a política internacional de um Governo e a sua política interna. Quem, durante 20 anos, tenha espezinhado os direitos de uma nação inteira – neste caso, a nação afegã – dificilmente poderá levar a cabo uma política democrática no seu próprio país. Para além das proclamações “sociais”, parece frequentemente à população espanhola que existe uma continuidade entre este Governo e os sucessivos governos de Aznar, Zapatero e Rajoy.

De facto, 20 meses de Governo “progressista” têm um balanço preocupante. Nenhuma das principais reivindicações e dos direitos essenciais dos trabalhadores e das populações foram satisfeitos; além disso, a nova reforma das pensões de aposentação e o que é anunciado para a reforma laboral vão na direcção oposta ao que foi prometido.

E em termos de diálogo com a Catalunha, o que o Governo anuncia fá-lo a olhar para o Partido Popular (PP) e não para as exigências dos povos. Não é válido o argumento de que seria pior com a Direita, porque é com esta política se abre precisamente o caminho à Direita. Foi a política do Governo central que levou ao resultado eleitoral em Madrid (onde, nas últimas eleições regionais, ganhou o PP – NdT).

A resistência das classes trabalhadoras manifesta-se empresa a empresa ou em sectores tais como o aeronáutico, onde a política dos dirigentes sindicais custa a impor-se à acção dos trabalhadores e dos militantes, muitas vezes jovens. Ou, no caso dos pensionistas. Isto já levou à revogação do artigo 315.3 do Código Penal, ao indulto – parcial – dos Republicanos catalães, e ao facto do Estado ter assumido (pela primeira vez, em 80 anos) o desenterro das vítimas do Regime de Franco, ou ao aumento limitado do salário mínimo nacional (SMI – Salário Mínimo Interprofissional), mas a maioria das exigências permanece ainda estão em suspenso. Todos os dias, os trabalhadores descobrem que as suas reivindicações são repetidamente adiadas, diluídas ou ameaçadas com medidas contrárias.

Além disso, o Governo aparece cada vez mais como um joguete do capital financeiro. Basta ver o que está a acontecer com o preço da electricidade, ditado pelas multinacionais com a conivência da terceira Vice-Presidente do Governo. Este é um dos preços da pilhagem dos sectores públicos, executado de acordo com os bancos e a sua agência europeia.

É anunciado um novo ano lectivo, com aulas a metade e sem professores suficientes, com um Sistema de saúde em colapso que deixa cada vez mais sectores sem assistência, e em prol da sua privatização, com as reformas laborais ainda em vigor, o que facilita a onda de despedimentos anunciada e que já começou.

A execução dos Fundos europeus, também já iniciada, prometem uma nova vaga de desindustrialização e de desmantelamento das Administrações públicas.

O que estamos a dizer não é um exagero em relação à experiência da maioria da população. Temos de exprimir-nos de maneira clara, para ajudar à resistência a esta política, que tende a amplificar-se.

Este é o caso da marcha anunciada para Madrid das plataformas de pensionistas, exigindo uma auditoria das contas da Segurança Social, que revele as imensas verbas que o Estado deve devolver à Caixa de Pensões, e contra a aprovação nas Cortes (Parlamento) da chamada primeira tranche da reforma das pensões – aprovada pelo Governo a 24 de Agosto – ao contrário das reivindicações exigidas pelos pensionistas.

A partir deste jornal operário exortamos à participação ou apoio à mobilização dos pensionistas, a 16 de Outubro, de todos os sectores das classes trabalhadoras, da juventude e da população em geral.

Editorial do jornal Información obrera nº 361 (de 3 de Setembro de 2021), tribuna livre da luta de classes em cuja Comissão de redacção participam militantes do Partido Operário Socialista Internacionalista (POSI), Secção da 4ª Internacional no Estado espanhol.

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