
Há mais de uma semana que um novo dilúvio de bombardeamentos tem chovido sobre a Faixa de Gaza.
Edifícios inteiros estão a ser destruídos por bombas de força considerável, que já causaram a morte de mais de 200 civis, incluindo 75 crianças. Mais uma vez, a população palestiniana da Faixa de Gaza está a ser objecto de um ódio destruidor. Na Cisjordânia, a revolta em massa da juventude, apesar de um sistema de controlo policial violento e sofisticado, constitui o eco do mesmo movimento de revolta da juventude palestiniana dentro do Estado israelita.
Tal como acontece nas ditaduras, a Polícia dispara para matar, a repressão é sangrenta. Apesar disso, a mobilização torna-se mais forte de dia para dia.
Mais uma vez, os órgãos da Comunicação social ao serviço do Sistema estão a tentar justificar a matança. Eles estão longe da posição tomada pelo jornalista israelita Gideon Levy que denuncia aqueles que – jornalistas e especialistas em segurança – estão “sedentos de sangue” e se deletam com insinuações abertamente racistas, nunca lhes faltando argumentos para explorar o anti-semitismo ou para justificar os piores horrores.
Não há qualquer vontade da “comunidade internacional” em avançar numa resolução democrática da situação na Palestina.
O “democrata” Biden, seguindo os passos dos seus predecessores, acaba de vetar uma condenação na ONU, por mais tímida que seja, da acção de Israel… ao mesmo tempo que aprova, como nos recorda o Washington Post, um novo envio de armamento para Israel, no valor de 735 milhões de dólares, e, em simultâneo, apela ao “cessar-fogo”. Sempre a mesma hipocrisia.
O veto contra o povo palestiniano é uma mensagem permanente enviada pelo imperialismo aos povos de todo o mundo. A tentativa para expulsar as famílias do bairro do Cheikh Jarrah, em Jerusalém, é apenas o último episódio da “Nakba” (catástrofe) de 1948.
É para ocultar a responsabilidade israelita que foi inventada a expressão “processo de paz”. Uma fórmula caracterizada, no seu tempo, por Henri Siegman – ex-líder do Congresso Judaico Americano – como “a maior mistificação na história da diplomacia moderna”. Uma expressão que se assemelha à posição do Governo francês, que diz pretende “encontrar uma solução de estabilização duradoura para a região”.
Nesta situação, apesar dos obstáculos, o povo palestiniano – em Gaza, na Cisjordânia, bem como no interior do Estado israelita – acaba de reafirmar a sua unidade, num movimento sem precedentes em 75 anos. É a afirmação da falência dos Acordos de Oslo e da pseudo “solução de dois Estados”.
Este movimento – pela liberdade e igualdade em todo o território histórico da Palestina – está a avançar para a solução de um único Estado democrático, no qual todas as suas componentes populacionais (árabes e judias) terão direitos iguais.
Iniciou-se a Intifada da reunificação.
Crónica de François Lazar, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 655, de 19 de Maio de 2021, do Partido Operário Independente de França.