EUA: Foi adoptado o Plano de Biden, mas ele nada resolve


Manifestantes do movimento Black Lives Matters, em Minneapolis, a 7 de Março de 2021, na véspera da abertura do processo sobre a morte de George Floyd.

O Plano de Biden – oficialmente chamado “plano de resgate americano” – foi aprovado pelo Congresso (1) dos EUA, com o voto favorável dos Democratas e a oposição dos Republicanos. Este Plano disponibiliza 1900 mil milhões de dólares para gerir a crise da Covid e as suas consequências económicas. Ele inclui o envio de um cheque de 1400 dólares a todos os norte-americanos, bem como cheques adicionais para as famílias. Ele também prolonga uma série de medidas anteriores – como a extensão do seguro de desemprego, o pagamento do seguro de saúde para os trabalhadores despedidos e a cobertura de certos custos de saúde relacionados com a Covid – mas não põe em causa o Sistema privado de seguros de saúde.

APOIO DA AFL-CIO

O objectivo de Biden era conseguir a unidade nacional em torno do seu Plano. Embora não tenha conseguido ganhar o apoio – ainda que limitado – dos Republicanos, foi largamente bem-sucedido em conseguir que as organizações sindicais dos trabalhadores dos EUA aderissem, apesar das cedências que teve de fazer para tentar obter o voto favorável dos Republicanos e para garantir o voto de todos os Democratas.

Em particular, o seu Plano visava, inicialmente, de incluir uma duplicação do salário mínimo por hora, actualmente de $7,25, para o aumentar gradualmente para $15. Esta medida não foi incluída no Plano adoptado. Biden também recuou sobre o montante dos subsídios de desemprego (300 dólares por semana, em oposição aos 400 anunciados), pagamento da baixa por doença (que era suposto ser obrigatório, mas contempla apenas um incentivo fiscal para os empresários).

No entanto, a principal Confederação sindical norte-americana – a AFL-CIO – deu o seu total apoio ao Plano, assim como o fizeram muitos sindicatos, tanto dentro como fora da Confederação. Eles organizaram, inclusive, uma campanha de assinaturas dirigida aos senadores republicanos para que eles votassem a favor do Plano de Biden, numa situação em que os Democratas têm a maioria tanto na Câmara dos Representantes como no Senado. Sanders e outros eleitos da esquerda do Partido Democrata deram o seu apoio total ao Plano, apesar de nas suas declarações iniciais terem explicado que, havendo uma maioria democrata no Congresso, era possível aumentar o salário mínimo e equacionar a instituição de um Sistema público de seguros de saúde.

REESTRUTURAÇÃO

É inquestionável que o Plano de Biden inclui disposições que permitirão a milhões de norte-americanos sobreviver durante algum tempo. Mas todas as suas medidas estão limitadas à pandemia de Covid. Ora o imperialismo norte-americano está a usar esta pandemia para se reestruturar, de forma duradoura: o fabricante de automóveis General Motors acaba de anunciar a sua decisão de chegar à “emissão zero” (de carbono) até 2035, preparando uma série de encerramentos de fábricas; a pandemia tem sido também uma oportunidade extraordinária para empresas como a Amazon e toda uma série de serviços “uberizados”, com trabalhadores sobre-explorados e mal remunerados.

Face ao desenvolvimento da precariedade, um grande movimento de sindicalização está a ter lugar, particularmente no sul dos EUA, como é ilustrado pela tentativa dos trabalhadores do entreposto Bessener da Amazon, no Alabama, de construir um sindicato (nos EUA, um sindicato só tem o direito de negociar com um patrão se a maioria dos assalariados da empresa estiverem nele sindicalizados).

DETERMINAÇÃO

Este movimento junta-se ao do Verão do ano passado, Black Lives Matter (as vidas dos Negros contam): as camadas mais exploradas da classe operária norte-americana estão a procurar organizar-se e, ao fazê-lo, colocam no centro da situação política a satisfação das suas mais urgentes reivindicações, sobre salários, sobre cuidados de saúde e sobre o direito ao subsídio de desemprego.

As Direcções da AFL-CIO e do Partido Democrata estão a tentar transformar este movimento de sindicalização num movimento de apoio às suas políticas, mas ele mostra acima de tudo a determinação crescente da franja mais explorada da classe operária dos EUA para se defender colectivamente.

O jornal New York Times, de 9 de Março, sublinha como a questão dos cuidados de saúde estará no centro das eleições intercalares nos EUA, que se irão realizar em 2022. O fracasso da política de unidade nacional de Biden permitirá aos Republicanos atacar o seu Plano; mas, por outro lado, a melhoria real das condições de acesso a cuidados de saúde nele prevista terminará em 2023, abrindo a via à discussão sobre os limites deste Plano, tanto em termos da sua duração como do facto de manter o Sistema privado de seguros de saúde.

UM GOVERNO FRÁGIL

O fracasso da política de unidade nacional de Biden aprofunda a crise política: trata-se de um Governo frágil, apoiado por uma maioria fraca (cinco membros a mais na Câmara dos Representantes e o voto decisivo da Vice-Presidente no Senado), dividida entre os moderados (que são a favor de uma aliança com os Republicanos) e os “progressistas” (defendendo, pelo menos em palavras, o aumento do salário mínimo e a construção de um Sistema público de saúde). O único ponto de apoio do Governo é a Direcção das organizações sindicais. E, de facto, tudo deixa antever que a classe operária dos EUA não irá esperar até 2022 para resistir ao ataque que está a enfrentar.

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(1) O Congresso dos EUA é o conjunto de duas instituições: a Câmara dos Representantes (Parlamento) e o Senado.

Crónica de Devan Sohier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 647, de 24 de Março de 2021, do Partido Operário Independente de França.

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