
As concentrações e manifestações que têm tido lugar em toda a Federação Russa são as maiores das últimas décadas.
O principal chefe de orquestra dos eventos é um político liberal, o Sr. Navalny. Alexey Anatolyevich. Trata-se de um ex-militar, de 44 anos de idade, da família dos proprietários da Kobyakovskaya Vine Weaving Factory – LLC (Fábrica de produção de Vinhos), na região de Moscovo, e um accionista maioritário da holding aeronáutica Aeroflot (a maior companhia aérea russa). É também o líder do partido “Rússia do futuro” (social-liberal e pró-União Europeia), que o Governo russo se tem recusado a legalizar desde há vários anos.
Em Janeiro passado, no seu regresso da Alemanha, onde Alexey estava a recuperar de um envenenamento, utilizou um voo de uma filial da sua empresa, a Pobeda, e foi preso quando passou pelo controlo de passaportes. Depois disso, a sua equipa publicou um filme sobre o “Palácio de inverno de Putin”, perto de Gelendzhik, palácio construído, como diz o filme, “ilegalmente e com dinheiro proveniente da corrupção”.
Seguiram-se três vagas de manifestações, através da Rússia: 23 de Janeiro, 31 de Janeiro e 2 de Fevereiro.
Por uma questão de princípio, na Rússia, as manifestações e as marchas são de facto proibidas. É necessário comunicar a manifestação ou reunião, indicando os seus objectivos: depois, as autoridades podem validá-las ou não. Os participantes são sistematicamente fotografados por agentes da Polícia que arquivam esses registos e constituem “dossiers”. Esta base de dados é utilizada para efectuar detenções preventivas, que é o que a Polícia faz.
A repressão começou a 23 de Janeiro, depois de terem sido realizadas grandes manifestações em todo o país. A Polícia utilizou os seus “registos” para convocar para interrogatório todas as pessoas que tinham sido vistas em ajuntamentos de protesto nos anos antes, acusando-os de participarem nestes.
A Imprensa também tem estado sob pressão: funcionários dos gabinetes editoriais foram presos, tendo mesmo havido casos de espancamentos. Outros jornalistas ou simples cidadãos foram presos por mencionar o local e o momento do início das concentrações sobre as suas páginas pessoais em redes sociais.
Mas uma nova geração está a surgir, a abandonada pelo Estado, a dos jovens diplomados do Ensino superior que se encontram a trabalhar nomeadamente em caixas do McDonald’s. Eles participaram em grande número nas concentrações e desfiles. Eles expressaram – e isso é inédito – que “algo está errado no Sistema”, dando um outro conteúdo às mobilizações.
Após o anúncio do veredicto da prisão de Navalny, a 2 de Fevereiro, novas manifestações tiveram lugar. Todos esperavam que as manifestações continuassem, mas alguns dias mais tarde, o quartel-geral de Navalny – representada pelo Sr. Volkov – anunciou que os desfiles foram “adiados para a Primavera ou o Verão”. Revolução falhada.
Nota de A. Masurine publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 641, de 11 de Fevereiro de 2020, do Partido Operário Independente de França.