Grécia: Manifestações contra a Lei sobre o Ensino e a criação de um Corpo de Polícia universitário

Milhares de estudantes (universitários e liceais), de professores e de encarregados de educação quebraram a proibição da Polícia e manifestaram-se em várias grandes cidades de todo o país, entoando slogans e empunhando bandeirolas contra as alterações reaccionárias que estão previstas na nova Lei sobre os ensinos secundário e superior, e contra a criação de uma Polícia universitária.

Em Atenas, a participação foi impressionante (cerca de 3000 pessoas), a 21 de Janeiro, na segunda grande concentração organizada desde o início deste ano (a primeiro tinha sido uma semana antes).

Os manifestantes reunidos no Propileu (praça monumental no sopé da Acrópole, no centro de Atenas) desfilaram em direcção à Assembleia Nacional (Syntagma) e, em seguida, para a Omonia (praça principal do bairro com mesmo nome do centro de Atenas), desafiando as restrições rigorosas e as proibições por razões sanitárias (!), sob pena de consequências judiciais e de pesadas multas. A mobilização teve lugar na presença de impressionantes forças da Polícia anti-motim (Mat), que utilizaram gás lacrimogéneo, equipas de polícias motorizadas, um canhão de água e a nova força, bem mediatizada (Odos), conhecida como sendo de “gestão suave” dos ajuntamentos.

Em Salónica, as Forças da ordem lançaram um ataque violento contra a concentração dos estudantes, enquanto outras forças policiais os cercavam e tentavam encurralá-los. Os manifestantes conseguiram quebrar o cordão policial, que utilizava gás lacrimogéneo e bastões, mas foi obrigado a recuar. No entanto, a Polícia prendeu três membros de Associações de estudantes, a qual foi transformada depois em prisão preventiva (à espera de julgamento).

Importantes manifestações estudantis também tiveram lugar noutras cidades. Em Patras, cerca de 350 estudantes e militantes de organizações da esquerda extra-parlamentar participaram numa manifestação que teve lugar calmamente, apesar da presença imponente e permanente de agentes da ordem que impediram os grupos de manifestantes de poder conservar as medidas regulamentares de distanciamento físico.

Em Ioannina, o número de manifestantes atingiu quase 150 estudantes e militantes da esquerda revolucionária, bem como trabalhadores da Universidade da cidade. Na Ilha de Creta, nas cidades de Chania e de Heraklion, as manifestações foram bastante massivas, ao mesmo tempo que em Volos, Florina, Xanthi e Komotini também tiveram lugar mobilizações de estudantes combativos.

Os slogans das mobilizações eram: “Não à Polícia! Não às expulsões!”, “Oiçam com atenção os estudantes! A Polícia fora das nossas escolas!”, ou “Avante, povo! Não curves a cabeça, o único caminho é a resistência e a luta!”.

Deve ser salientado que – no âmbito das mobilizações dos estudantes contra a instauração da Polícia universitária – tinha tido lugar, na semana anterior, um bloqueio de dois dias da Universidade Politécnica Nacional de Atenas (NTUA). O Director da instituição tinha ameaçado solicitar a intervenção policial, após a decisão de organizar o bloqueio tomada pelas Associações de estudantes da NTUA, bem como das do pessoal administrativo, do pessoal técnico de laboratório (BEI), do pessoal docente de laboratório e dos estudantes de doutoramento e de mestrado.

Para além da criação de uma Força policial universitária – contida no Projecto de Lei apresentado, conjuntamente, pelo ministro da Educação Nacional, Niki Keraméos, e pelo ministro da Protecção do Cidadão – os estudantes opõem-se à introdução do controlo de entrada nas instalações universitárias, à vigilância electrónica contínua, às disposições disciplinares rigorosas que prevêem mesmo a expulsão definitiva de estudantes, à introdução de um limite de duração dos estudos, à alteração dos moldes de admissão na Faculdade e ao reconhecimento da equivalência de diplomas obtidos em colégios privados. Salientam também o fracasso do Ensino à distância, bem como a necessidade de reabertura das escolas e de recrutamento de mais professores.

Fortemente mobilizados, também, contra a política de confinamento e de encerramento de todos os estabelecimentos escolares, o movimento dos estudantes e dos docentes denunciou a política do Governo que não tomou medidas eficazes para a protecção da saúde da população durante a pandemia, com consequências trágicas.

As assembleias-gerais realizadas a 26 de Janeiro, foram ainda mais massivas do que as da semana passada, havendo a perspectiva de que qualquer resposta dada na rua, a partir de agora, irá recordar-nos os tempos em que o movimento estudante afrontou, com determinação, planos governamentais semelhantes até eles serem anulados!

Nota – Na manhã do dia 26 de Janeiro, o Chefe da Polícia grega decretou a proibição de ajuntamentos de mais de 100 pessoas, até 1 de Fevereiro, “por razões sanitárias”. Na verdade, é uma decisão em ligação directa com a contestação dos estudantes que não cessa de crescer.

Reportagem de Litsa Frydas publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 639, de 27 de Janeiro de 2021, do Partido Operário Independente de França.

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