EUA: “O próximo presidente herdará uma nação – e um mundo – em crise”

A um pouco mais de um mês das eleições, a campanha das Presidenciais nos EUA está a acelerar. O New York Times, apoiante de Biden, publicou a 27 de Setembro um artigo sobre as declarações de rendimentos do Presidente dos EUA, que este sempre se recusou a tornar públicas, ao contrário da tradição norte-americana.

Estas declarações mostram que as suas empresas – cuja gestão ele sempre elogiou como prova da sua capacidade para dirigir bem os assuntos de Estado dos EUA – perdem milhões de dólares todos os anos.

Elas também mostram declarações de despesas comerciais (não tributáveis) cuja legalidade parece questionável: 70.000 dólares em honorários de cabeleireiro, algumas centenas de milhares de dólares pagos à sua filha como consultora,…

Como resultado, ele não pagou nenhum imposto federal sobre o rendimento durante vários anos, e tanto em 2016 (o ano da sua eleição) como em 2017, pagou $750, menos do que um norte-americano médio. Isto é anedótico, mas revela a crise em que está mergulhado o aparelho de Estado dos EUA. Donald Trump foi eleito em 2016 como expressão desta crise e só contribuiu para a aprofundar. Ameaça agora usar a lei de 1807 contra insurreições, para subjugar as manifestações Black Lives Matter.

Esta lei, que permite ao Presidente utilizar os militares para reprimir um movimento insurrecional, foi utilizada amplamente ao longo da década de 1860 durante a luta para impor os direitos civis no Sul e, depois, para reprimir violentamente os movimentos pelos direitos civis quando os cidadãos recusaram ficar satisfeitos com a fachada de igualdade que as leis aprovadas lhes deram.

Trump também ameaça não reconhecer o resultado de 3 de Novembro, se ele não lhe for favorável. Tradicionalmente, o voto por correspondência representa 25% dos votos nas eleições norte-americanas e, com as restrições decorrentes do Covid, espera-se este ano uma subida exponencial desta percentagem: Trump coloca em dúvida, com antecedência, a autenticidade destes resultados, e diz-se pronto a contestá-los.

A sua decisão de nomear, na sequência da morte de Ruth Bader Ginsburg, uma nova juíza reaccionária para o Supremo Tribunal, a meio da campanha presidencial, aparenta-se a um golpe de força, apoiado por senadores republicanos, que há quatro anos recusaram que Obama tivesse feito o mesmo oito meses antes das eleições.

Neste contexto, Biden conseguiu o apoio de centenas de diplomatas e de oficiais superiores das Forças Armadas dos EUA, os quais, segundo o New York Times, “teriam apoiado qualquer membro do Partido Republicano, desde que não se chamasse Trump”.

Na sua carta de apoio, eles declaram: “O próximo presidente herdará uma nação – e um mundo – em crise (…). Apenas FDR (1) e Abraham Lincoln (2) ocuparam os seus postos face a crises mais monumentais do que o próximo Presidente.”

E é um facto. O Covid fez explodir a crise económica, latente desde 2008, com o seu cortejo de desempregados e despejos (os quais – proibidos desde 4 de Setembro, na sua maioria – serão retomados de novo a 1 de Janeiro). As manifestações Black Lives Matter continuam, e até recuperaram intensidade, depois de ter sido anunciado que os agentes da Polícia que mataram Breonna Taylor não seriam incomodados.

Por outro lado, as contra-manifestações de grupos violentos de Brancos radicais estão a multiplicar-se. A nível internacional, a guerra comercial com a China está ao rubro, enquanto a situação no Médio-Oriente continua a agravar-se. As sondagens prevêem uma vitória de Biden – mesmo se a experiência de 2016, quando a vitória de Clinton parecia garantida, incita à máxima cautela. Uma reeleição de Trump aprofundaria imediatamente a crise, tanto ao nível interno como internacional. Mas uma vitória de Biden não resolveria, de modo nenhum, os problemas com que o imperialismo norte-americano está confrontado.

A luta da classe operária pela igualdade real entre Negros e Brancos, por um Sistema universal de cuidados de Saúde, em prol de empregos reais com salários adequados está a ter lugar e continuará a seguir a estas eleições, independentemente do seu resultado.

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(1) Franklin Delano Roosevelt, eleito em 1932, em plena crise económica, foi Presidente durante toda a Segunda Guerra Mundial.

(2) Lincoln, eleito em 1860, foi Presidente dos EUA durante a Guerra Civil de Secessão.

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Análise de Devan Sohier publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 624, de 31 de Setembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

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