Espanha: O que significam as fusões de bancos?

Isidre Fainé (Caixabank) e José Ignacio Goirigolzarri (Bankia),
e ao centro, Nadia Calviño, vice-presidente do Governo para os assuntos económicos

Os Conselhos de administração do Caixabank e do Bankia vão reunir-se esta semana para dar luz verde à integração do Bankia no Caixabank e estabelecer as mo­dalidades dessa fusão – que alguns tinham proposto há vários anos, e à qual, se­gundo o Governo, se podem seguir outras.

Tudo isto é anunciado para “surpresa” de muita gente, que inclusive está no Governo, e que, até ao dia anterior, vinha falando de uma “Banca pública” a partir do Bankia.

Unanimemente, a Confederação patronal, o Banco Central Europeu, o PP, o Vox, o Ciudadanos e o Presidente do Governo declararam que era uma medida positiva para Espanha.

Alguns disseram que não estavam ao co­rrente e os dirigentes máximos das Confederações sindicais (UGT e CCOO) limitaram-se a avisar que era necessário impedir despedimentos “traumáticos” (ou seja, que há que resignar-se a despedimentos que não o sejam).

Pelo seu lado, Pablo Iglesias declarou à cadeia televisiva Ser que – durante a negociação do Acordo de governo para a coligação – pediu a Pedro Sánchez que “o Bankia fosse mantido como banco público, mas perdi a discussão” e que tinham acordado “converter o ICO (Instituto de Crédito Oficial) num banco público”.

Não é difícil constatar que esta unani­midade e esta resignação se chocam com os direitos e necessidades mais elementares dos trabalhadores e da imensa maioria da população.

Os dados

Durante a crise de 2008, o Estado resgatou a Banca com dinheiro público, com um custo de mais de 60 mil milhões de euros, dos quais o Bankia em particular ficou com 24 mil milhões. Dinheiro que não foi recu­perado e que Pedro Sánchez reconhece que dificilmente irá sê-lo. Um presente para a Banca, que foi retirado dos gastos sociais, quer dizer, financiado com os cortes na Saúde e Educação… com as consequências dramáticas que estamos a sofrer agora.

Em segundo lugar, esta fusão contempla de entrada a passagem à pré-reforma de 7.500 bancários e, em seguida, pres­cindir de muitos mais; falamos de aposentações aos 52 anos…, a cargo, uma vez mais, da Caixa da Segurança Social.

A fusão vai significar o fecho de centenas de agências. O BNP Paribas estima que 50% das agências do Bankia poderão encerrar. O Barclays afirma que serão 1.400 das 2.300 sucursais. Actualmente, metade das povoações de Espanha, as mais pequenas, já não tem agência bancária (daí falar-se de de­fender a “Espanha esvaziada”). O mesmo su­cede com um grande número de bairros das cidades, em particular os bairros operários, com as consequentes dificuldades para receber o sa­lário e a pensão, ou pedir crédito.

Esta concentração bancária é um novo golpe contra a população e o seu nível de vida.

Quem beneficia com a fusão?

Certamente os grandes accionistas, que viram o seu valor aumentar na Bolsa, bem como as grandes empresas que têm acesso ao cré­dito, agora de uma instituição maior. Esta fusão obedece, sem dúvida, a uma necessidade do capital que, perante a crise, não hesita em sacri­ficar sectores inteiros da economia. Isto em contradição com a mensagem que nos transmitiram, no começo da pandemia, de que “as coisas iam mudar”.

Desde 2009, foram destruídas as Caixas de Aforro, que – com a participação dos municípios e dos sindicatos – realizavam algumas funções sociais. Neste período foram suprimidos 100 mil postos de trabalho no sector financeiro.

Havia quem esperasse que a participação maioritária do Estado no Bankia – cerca de 61% – levasse à cria­ção de uma Banco público. Mas a realidade é dura, o sonho de um Banco público concorrendo na selva financeira desva­neceu-se, transformando-se no sonho de uma noite de Verão (como o reconhece agora Pablo Iglesias).

O que coloca aos trabalhadores, à população e às organizações operárias uma pre­gunta premente: Que saída?

A isto temos de responder que – se se quer defender os postos de trabalho sem nenhum despedimento, bem como a manutenção de to­das as agências bancárias como um serviço público imprescindível, se se quer responder às exigências da maioria, dos trabalhadores autónomos (por conta própria) e das pequenas empresas que necessitam de cré­ditos acessíveis – é necessário avançar para uma Banca Pública única, que só pode ser construída a partir da nacionalização sem indemnização de todos os bancos, com controlo dos sindicatos, para colocar a Banca ao serviço da população, do emprego e do investimento produtivo.

O que exige, de imediato, a devolu­ção dos 60 mil milhões, e nenhum des­pedimento.

Artigo publicado no periódico Información Obrera – Tribuna livre da luta de classes em Espanha – Suplemento especial nº 18, de 15 de Setembro de 2020.

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