EUA: o caos…

As duas faces da mesma moeda

Quando faltam oito semanas para as eleições presidenciais, é uma estranha campanha eleitoral que tem lugar nos EUA, entre um presidente candidato à reeleição que fala demais, e o seu principal oponente que procura dizer o mínimo possível.

Esta situação é o resultado da fuga para a frente desenvolvida tanto pelos Republicanos como pelos Democratas, que procuram uns e outros trazer de volta estabilidade a um sistema político profundamente abalado pela crise económica que o Covid-19 veio agravar.

Por um lado, Trump apoia-se nos instintos mais abjectos de uma camada de Brancos marginalizados pelo Sistema para lançar a culpa de todos os problemas sobre os imigrantes. Por outro lado, Biden está a tentar tirar partido deste posicionamento de Trump para se apresentar como a encarnação do progressismo.

Mas, no final, Trump propõe um programa que, em quatro anos como presidente, ainda não conseguiu margem de manobra para aplicar, enquanto Biden se inscreve na continuidade da política norte-americana dos últimos vinte anos.

Trump tinha prometido construir um Muro na fronteira com o México. Em quatro anos, dois dos quais com uma maioria tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, foram construídos 25 km de muro (o número de 300 km – já irrisórios para uma fronteira de mais de 3.000 km – que ele propagandeia é constituído

no essencial pela substituição de segmentos de muros já existentes). É cinco vezes menos do que o que foi construído na Presidência de Obama, o qual, no entanto, se apresentou como um oponente à construção do Muro.

Ele prometeu trazer de volta emprego industrial. No entanto, este tem continuado a regredir. O próprio Trump elogia regularmente a construção de novas fábricas, que não existem pura e simplesmente, enquanto os

fabricantes de automóveis estão a aumentar o número de planos de reestruturação.

Os Republicanos nem sequer fingem que acreditam nas suas promessas: Trump anunciou o direito das empresas a adiar o pagamento dos seus impostos sobre os salários, prometendo que aqueles que utilizassem esse direito veriam esses impostos ser cancelados após as eleições; poucas empresas utilizaram este direito, e Estados republicanos – como o do Arizona e o de Indiana – nem sequer implementaram essa suspensão (Washington Post, de 11 de Setembro).

A oposição entre Trump e Biden é ao mesmo tempo real e exagerada. A orientação de Trump é de uma oposição frontal ao movimento operário organizado, aos sindicatos é claro, mas também o movimento dos Negros. Biden, por outro lado, está a procurar envolvê-los na implementação dos planos do imperialismo.

Mas as leis apresentadas pela maioria democrata na Câmara dos Representantes e rejeitadas pela maioria republicana no Senado, nos últimos meses, mostram a incapacidade dos Democratas em abordar a urgência da situação: para responder à crise económica, uma extensão limitada do sistema de seguros de saúde e dos subsídios de desemprego, e um cheque para todos os norte-americanos; para responder aos assassínios de Negros pela Polícia, uma reforma da Polícia retirando subsídios federais aos serviços policiais mais manifestamente racistas… É muito longe do que é necessário.

Os aparelhos sindicais utilizam todo o seu peso para salvar o Regime em crise: a maior parte deles apelou à responsabilidade individual durante a crise da Covid, publicando manuais de boa conduta onde atribui a culpa da situação actual e das dezenas de milhares de mortos ao comportamento de cada indivíduo. Desde a paragem da campanha de Sanders, esses aparelhos sindicais alinharam-se abertamente com Biden.

Entretanto, o desemprego subiu oficialmente para mais de 8%, e os despejos de inquilinos incapazes de pagar a sua renda ou de reembolsar os seus empréstimos multiplicam-se. O jornal Guardian, de 25 de Agosto, estima em cerca de 20 milhões o número de norte-americanos ameaçados de despejo, a curto prazo, como resultado do fim dos programas de ajuda adoptados no auge da crise sanitária.

Neste clima de completa degenerescência das instituições políticas dos EUA, as manifestações contra as brutalidades policiais são um factor organizacional importante da classe operária, e em particular das suas componentes mais afectadas pela crise e pelo desemprego em massa: os Negros em primeiro lugar, mas também uma ampla camada da juventude. Convencidos de que as eleições presidenciais de Novembro não são nenhuma saída, eles consideram que o Sistema político norte-americano e os seus dois partidos são os responsáveis por esta situação de crise.

A 4 de Novembro, terá sido eleito um novo presidente; seja ele Trump ou Biden, os problemas continuarão a ser os mesmos e estas eleições não serão suficientes para acalmar a raiva profunda expressa nas manifestações recentes.

Análise de Devan Sohier, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 622, de 16 de Setembro de 2020, do Partido Operário Independente de França.

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