França: “Altas instâncias do Estado preocupadas com a reacção dos franceses”

Há uma semana, o Governo deu mais um passo nas suas medidas: obrigação de usar máscara, inclusive na rua num número crescente de comunas, apesar da opinião contrária de eminentes cientistas.

E isto é acompanhado de pesadas sanções: multas entre 1500 e 3750 euros, mais seis meses de prisão em caso de reincidência.

As ameaças são executadas de maneira brutal. CRS com capacetes e equipados à Robocop entram num café e matraqueiam as pessoas para impor o uso da máscara. Um empregado de um supermercado dos Alpes Marítimos é interpelado brutalmente e algemado por levar a máscara colocada abaixo nariz… Porquê tanta fúria? O governo Macron-Castex teme a resistência da população, dos assalariados e dos jovens às medidas que pretende impor: destruição de postos de trabalho, de serviços públicos e de todas as conquistas sociais.

Serão sustentáveis as mentiras do Governo?

A indignação popular, desaparecida publicamente por três meses de confinamento, continua a existir. O Governo espera contê-la utilizando a mentira, o medo e a ameaça.

Os grandes meios de Comunicação social alimentam esta campanha: nada de reuniões, nada de manifestações, denunciai-vos uns aos outros. Tenham cuidado: as multas, as algemas e as matracas andam por aí. Contudo, nos últimos dias insinua-se uma dúvida, cautelosamente, nos principais jornais: serão sustentáveis as mentiras e as ameaças governamentais? O jornal Le Figaro publica estranhamente na sua capa de 21 de Agosto: “Questões sobre uma epidemia que progride sem se agravar” com o título: “Covid, o paradoxo de uma epidemia que avança sem piorar”.

O artigo repete em seguida a propaganda do Governo, mas sublinha: “É verdade que os casos positivos aumentam todos os dias, mas o número de hospitalizações, admissões em cuidados intensivos e mortes – que nos dizem, desde o início serem os únicos indicadores válidos – continua estranhamente baixo.”

O jornal financeiro Les Échos, de 21 de Agosto, começa com um título alarmista: “Aumentam em França, na Alemanha e em Espanha os casos de Covid-19”, mas em seguida modera o tom: “A propagação do vírus é confirmada pelo aumento da proporção de seropositivos entre as pessoas testadas. O que nem sempre se traduz, sete semanas depois do início da recuperação, por um aumento notável de mortes, reanimações ou hospitalizações na Europa, salvo em Espanha.”

“A comunicação não consegue tudo” (Le Figaro)

Le Figaro de 24 de Agosto parece dar o sinal de alarme ao Executivo (Macron e Castex): “No barómetro do Journal du Dimanche, a quota de popularidade de Jean Castex baixa 7 pontos para 48%, caindo abaixo da barreira dos 50%. Um primeiro sinal inquietante quando o Primeiro-ministro, desconhecido dos franceses antes da sua nomeação, não parou de se deslocar por toda a França durante o mês de Agosto, prova de que a comunicação não consegue tudo.”

Finalmente, o jornal Le Monde questiona-se, a 25 de Agosto, sobre o atraso da apresentação do plano de recuperação de Macron e Castex, que o Palácio do Eliseu (Sede do Governo) justifica assim: “Pareceu-nos mais oportuno adiar a apresentação uma semana, para que os franceses tenham tempo para assimilar as novas regras sobre o porte de máscaras e preparar serenamente a rentrée.” Este artigo do Le Monde continua: “Nas altas instâncias do Estado estão preocupadas com a reacção dos franceses na sua volta de férias, enquanto as medidas sanitárias endurecem cada vez mais… Os incidentes ligados ao respeito das medidas sanitárias multiplicam-se, com pessoas que se recusam a usar a máscara nas ruas das cidades que a tornaram obrigatória, ou que decidem participar em concentrações, quando estas estão proibidas para mais de dez pessoas.” E conclui: “O Presidente está muito atento a todos estes incidentes que são, para ele, a outra vertente da crise de autoridade que o país atravessa.” (o Eliseu dixit).

Frente ao governo Macron-Castex, que agita ameaças e sanções em todos os domínios, a defesa das reivindicações operárias, das conquistas de 1936 e de 1945, coloca como questão central o combate pela democracia, o combate palmo a palmo em defesa das liberdades de manifestação e de organização.

Nota de Bruno Ricque publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 619, de 26 de Agosto de 2020, do Partido Operário Independente de França.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s