
Há 10 dias em greve nacional, ignorada pela grande imprensa, os trabalhadores dos Correios – que o Governo pretende privatizar – enfrentam a Administração da empresa tomada por militares e o aval dado, à unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para a ECT (Empresa dos Correios e Telégrafos) poder rebaixar os direitos dos seus trabalhadores. Entres eles aquele que diz respeito à licença de maternidade.
Quase que em uníssono, a imprensa burguesa – hipocritamente envergonhada com o facínora que ajudou a tornar presidente – afirma que as nossas instituições, em particular o Judiciário, têm sido garantes da democracia.
Democracia?
Na sua luta de classe os trabalhadores enfrentam o capital, os seus porta-vozes e as instituições que servem os seus interesses. A expressão mais aberrante, porque mais explícita, de como as classes dominantes se servem das instituições para garantir os seus interesses foi dada, em editorial, pelo jornal Estadão (de 27 de Agosto).
Com uma clareza cristalina, ele demonstra como a operação que tornou o ex-presidente Lula “ficha suja” – condição sine qua non para a eleição de Bolsonaro – foi uma farsa montada para lançar o país no pântano em que se encontra agora, farsa que eles precisam de manter.
“LULA, TOTALMENTE LIVRE PARA FAZER POLÍTICA”? ELE NÃO A PODE FAZER!
Esse editorial, sem a contestar, trata da anulação de uma sentença condenatória dada pelo juiz Sérgio Moro contra um cambista ilegal de moeda, e depois alerta: “Não se pode ignorar, no entanto, a existência de outros recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a imparcialidade de Sérgio Moro no julgamento de processos da Operação Lava Jato. Em especial, o próximo recurso a ser analisado pelo STF, que diz respeito à sentença condenatória do sr. Luiz Inácio Lula da Silva (…). Não pode o Supremo, como guardião da Constituição, ser indiferente às muitas consequências da eventual nulidade dessa sentença. (…) É importante ressaltar que a eventual anulação da sentença do caso do triplex do Guarujá teria o efeito imediato de transformar Luiz Inácio Lula da Silva em ficha-limpa (…). Assim ele ficaria, por decisão suprema, totalmente livre para fazer a sua política.” Mais explícito é impossível! Que se lixe o país, que se lixe o seu povo e que se lixe a Justiça!
Condenado sem provas, Lula ficou privado do seu direito de desmontar esta farsa. O Conselho Nacional do Ministério Público, depois de adiar por 41 vezes o julgamento do processo da defesa de Lula contra Dallagnol (Procurador da República, que foi responsável pela Operação Lava Jato) no caso do PowerPoint, na 42ª vez arquivou o processo! Lula não pôde fazer a sua política, o Partido dos Trabalhadores (PT) teria de ser varrido do Poder.
Em nome da democracia e da Justiça? Não! Para prosseguir a política de roubalheira ao serviço do capital financeiro. Os donos dos meios de Comunicação social veem Bolsonaro ameaçar “encher de porrada a boca” de um trabalhador da imprensa e aceitam-no. Afinal, é boa a política que retira direitos, desmantela os serviços públicos e privatiza!
A greve nacional dos Correios, à qual falta mais solidariedade activa das organizações sindicais e populares, será decidida na luta de classes.
A restituição plena dos direitos políticos de Lula, usurpados para quebrar a resistência à escalada predatória, será decidida também na luta. Daí a importância, na campanha eleitoral (para as Municipais) que se avizinha, de todos os candidatos do PT levantarem esta bandeira.
A lição a tirar destes factos é que a democracia – a reconquista dos direitos e o estabelecimento da soberania nacional – passa pela luta pelo fim do governo de Bolsonaro, mas vai passar também por novas instituições – que, por exemplo, façam a regulamentação da Comunicação social e a reforma do poder judicial – instituições que sejam o fruto do exercício da soberania do povo.
Editorial do jornal “O Trabalho” – cuja publicação é da responsabilidade da Secção brasileira da 4ª Internacional (corrente do PT) – na sua edição nº 873, de 27 de Agosto de 2020.