
Desde 9 de Agosto têm-se intensificado as manifestações na República da Bielorrússia, país da Europa oriental (antigamente integrado na URSS) que tem fronteira com a Rússia, Ucrânia e Polónia. O processo foi “detonado” quando os primeiros resultados oficiais das eleições presidenciais apontavam para a vitória de Alexander Lukashenko, no poder desde 1994 e que concorria ao seu sexto mandato.
Houve um levantamento do povo, com a participação activa dos sindicatos, que a 17 de Agosto realizaram uma greve agrupando mais de 40 empresas de todo o país. No dia anterior (16 de Agosto), numa gigantesca mobilização, os manifestantes gritavam “Fora, fora!”, dirigindo-se a Lukashenko. Apesar da repressão selvagem, as mobilizações prosseguem.
Continuam as manifestações
No decurso das manifestações, as imagens do presidente da República da Bielorrússia a descer do seu helicóptero em pleno coração da capital, Minsk, com uma arma nas mãos, acompanhado pelo seu filho vestido com um colete à prova de balas e também a segurar uma arma, foram amplamente divulgadas. O presidente aproximou-se do cordão de forças especiais e agradeceu-lhes, dizendo: “Vocês são excepcionais! Nós vamos ocupar-nos da situação!”
Do outro lado do cordão estavam dezenas de milhares de pessoas, com crianças e famílias…
É preciso ter em conta esses milhões de pessoas, que protestam sem líderes proclamados e que agem de forma espontânea. O povo não está a seguir um programa político comum. A única coisa que o une é a palavra de ordem “Lukashenko, vai-te embora!”.
A classe operária no centro do processo
Largas camadas da população colocaram-se em movimento. A manifestação foi apoiada até por trabalhadores da televisão pública, que foram rapidamente substituídos (temporariamente?) por trabalhadores convidados da Rússia. Os educadores, que tinham sido advertidos com a possibilidade de serem despedidos por falta de patriotismo, também receberam ameaças.
Tudo isto está a acontecer numa República liderada por um presidente colado à sua poltrona há vinte e seis anos. É claro que, para um país da ex-URSS, isso não tem nada de original. Em todas as ex-repúblicas soviéticas, os regimes autocráticos são governados por antigos e inamovíveis funcionários do Partido Comunista. Na maioria desses países da ex-URSS, os presidentes não representam o povo e governam ameaçando-o.
As manifestações na Bielorrússia começaram bem antes das eleições presidenciais. As autoridades usaram a retórica da ameaça de ingerências externas vindas do Oriente e depois do Ocidente. Este é o destino dos pequenos países: eles são joguetes dos “imperialismos”.
Lukashenko continua a oferecer garantias a Putin, sendo a última delas a possibilidade de este testar na Bielorrússia a vacina russa contra Covid-19. Tudo isto é feito para convencer o aliado russo da sua lealdade e evitar a ocupação directa, como foi o caso noutras repúblicas pós-URSS. Lukashenko não está satisfeito com o Kremlin. E o Kremlin vem travando uma guerra de desinformação contra ele desde há muito tempo.
De qualquer forma, a classe operária bielorrussa colocou-se em movimento e está no centro do processo político que está em curso.
Repressão contra os representantes eleitos dos grevistas
Já antes em marcha, o movimento dos trabalhadores fora dos sindicatos do Estado está a ganhar força e eles estão a ingressar em sindicato independentes. Comités de greve foram criados em todo o país para liderar manifestações locais. Eles reagrupam militantes de sindicatos independentes e trabalhadores não sindicalizados. Nos dias 23 e 24 de Agosto, ocorreram prisões de alguns destes representantes da classe operária: foram presos os dirigentes dos comités de greve da fábrica de automóveis de Minsk e da fábrica de tractores de Minsk. Mas isso não “cortou a cabeça” aos comités de greve. A 24 de Agosto, num dos maiores parques industriais do país, Belaruskali, começou uma “greve à italiana” [braços cruzados em frente das máquinas, NdT]. Na prática, isso desacelera e paralisa a produção.
Os trabalhadores em greve têm uma reivindicação principal e crucial contra as normas do Código do Trabalho, que os tornam semi-escravos, sem garantia de emprego: todos os empregados são exclusivamente contratados a prazo.
As greves massivas assustam o poder autocrático. É por isso que o presidente se deslocou recentemente junto dos trabalhadores em greve, falando em possíveis concessões e numa saída da Presidência sob condições. Enquanto a 22 de Agosto, tinha ameaçado fazer um lock-out das empresas em greve e despedir os grevistas. E, em simultâneo, lançou um apelo aos trabalhadores do estrangeiro para quebrarem a greve, por exemplo aos mineiros ucranianos, mas até agora nenhum Director de mina respondeu…
Não há dúvida de que o despertar da classe operária da Bielorrússia terá repercussões para além das fronteiras do país, na Rússia, na China,…
Correspondência de Minsk, publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 619, de 26 de Agosto de 2020, do Partido Operário Independente de França