Nas legendas é dito: “Olha, eles alongaram o distanciamento para as Municipais”; “Não, foi a abstenção social que aumentou!”.
Nunca houve uma tal situação na Quinta República: 60% dos eleitores recenseados não foram votar na segunda volta das eleições municipais que, tradicionalmente, são ainda eleições muito “participadas”. Nas cidades e bairros operários a abstenção excedeu os 70%!
Uma abstenção sem precedentes, que exprime uma rejeição atingindo todos os partidos e os líderes de todas as cores políticas, que incarnam o Sistema, confundindo-se com as políticas anti-operárias postas em prática pelos sucessivos governos, no quadro das instituições antidemocráticas da Quinta República.
Em muitas das grandes cidades, houve um poderoso movimento de rejeição. De facto, houve “Vencedores” que representam pouco mais de 15% do eleitorado inscrito nos Cadernos eleitorais… Todos foram afectados.
Quanto a Macron, o seu Governo e os membros da sua maioria parlamentar, eles sofreram um verdadeiro colapso. Os candidatos da LREM (“A República Em Marcha”) foram varridos. Trata-se de uma derrota para este poder ao serviço exclusivo do capital, que decidiu não proteger e não tratar a população, que encobriu a sua política criminosa através de mentiras sistemáticas, que utilizou a pandemia para colocar uma população inteira em prisão preventiva, para declarar o estado de emergência, para decidir um golpe contra as liberdades civis e contra as conquistas dos trabalhadores – postas em causa por decretos presidenciais apresentados com grande pompa.
Em Paris, Agnès Buzyn, ministra da Saúde do governo de Macron, desde há apenas alguns meses, sofreu uma derrota humilhante. Aquela que sabia tudo sobre o Covid – mas não fez mais nada senão continuar o trabalho de destruição do Sistema de cuidados de saúde, aquela que, no seguimento dos ministros da saúde tanto de esquerda como da direita que a precederam, é uma das principais responsáveis pela catástrofe nos hospitais – nem sequer fará parte do Conselho de Paris. Esta figura do governo Macron-Philippe obteve apenas o voto de 6,5% dos eleitores recenseados…
Em Lyon, Gérard Collomb, ministro do Interior do governo de Macron durante um ano, elemento-chave da LREM para a eleição de Macron, “imparável” em Lyon desde 2001, foi engolido.
Em Marselha, o candidato da LREM obteve somente 1,9% dos votos.
NUNCA, UM PRESIDENTE DA REPÚBLICA, UM GOVERNO, OU MAIORIA PARLAMENTAR FORAM TÃO REPUDIADOS, ODIADOS, ILEGÍTIMOS…
Um Presidente abaixo dos 15% das intenções de voto, eleitos oficiais que representam apenas 20% dos eleitores inscritos… E eles querem continuar a tomar medidas contra os trabalhadores?
No entanto, confiando no carácter antidemocrático das instituições da Quinta República, Macron pretende continuar. Pressentindo um naufrágio, ele tinha avisado mesmo antes destas eleições: independentemente dos resultados, não haverá qualquer mudança no rumo que tem estado a ser seguido.
Às exigências dos trabalhadores do sector da Saúde, Macron opõe um arquivamento do processo negocial e organiza uma Conferência com o objectivo de ir mais longe na destruição do Sistema de cuidados de saúde. Impostura contra a qual se manifestaram, a 16 de Junho do ano passado, dezenas e dezenas de milhares de trabalhadores dos hospitais.
Assustado com a raiva de milhões de trabalhadores e de jovens, Macron mantém o estado de emergência limitador das liberdades e a proibição de manifestações.
Para satisfazer as necessidades de capital financeiro, Macron oferece milhares de milhões de euros aos patrões para poderem despedir (5 mil milhões de euros concedidos à Renault para suprimir 5 mil postos de trabalho). Em algumas semanas, um milhão de trabalhadores foram despedidos, centenas de milhares de empregos estão em risco, e o Governo – utilizando a chantagem do emprego – pretende generalizar com os patrões os acordos que permitem salários mais baixos e férias reduzidas, questionando todas as conquistas colectivas.
Porque teme uma explosão, Macron apela à união nacional e procura o apoio das direcções sindicais. Algumas, como a da CFDT, estão a viabilizar abertamente as suas manobras. Outras, olham para outro lado ou falam sobre outra coisa.
UMA MOVIMENTAÇÃO VINDA DE BAIXO LEVANTA-SE CONTRA ESTE GOVERNO E A SUA POLÍTICA, CONTRA ESTE SISTEMA… PARA QUE TODOS SE VÃO EMBORA!
Mas, por outro lado, há a rejeição que se exprimiu nas eleições a uma escala nunca dantes vista. É há, enfrentando as proibições, os 10 mil trabalhadores de Maubeuge que se manifestaram, no passado dia 30 de Maio, para a manutenção da fábrica da Renault e de todos os seus postos de trabalho. Submergindo o estado de emergência, dezenas de milhares de jovens de todo o país exigiram “Justiça para Adama”, e ao mesmo tempo que seja posto fim à repressão e à violência do Estado. Há, também, a mobilização histórica dos prestadores de cuidados de saúde, a 16 de Junho, que passou para além do quadro desejado pelas federações e as confederações.
Trata-se de um movimento de fundo que se inscreve na continuidade dos coletes amarelos e da greve contra a reforma das pensões de aposentação que este Governo pretende, agora, voltar a pôr em cima da mesa. Este movimento – vindo de baixo, que atravessa todas as camadas da população – levanta-se contra este Governo de mentirosos e assassinos, contra a sua política ao serviço do capital, contra este Sistema e todos os seus defensores, tanto da direita como da esquerda, para que todos se ponham a andar daqui para fora!
Ajudando a alimentar estes processos, organizando a recusa e a resistência, no sentido de reunir uma força ampla, é para isso que o jornal Informations ouvrières pretende contribuir, bem como os Comités de Resistência e para a Retoma das Conquistas de 1936 e de 1945 (em que estão integrados os militantes do POI).
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Comunicado publicado no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 611, de 1 de Julho de 2020, do Partido Operário Independente (POI) de França.