Manifestações defendem liberdades democráticas, contra a Lei de segurança nacional.
Milhares de habitantes de Hong Kong manifestaram-se novamente, nos dias 10 e 12 de Junho, para comemorar as manifestações do ano passado pela retirada da Lei de extradição. Apesar da proibição da Polícia, eles voltaram às ruas para denunciar a Lei de segurança nacional imposta pelo governo da China, a qual visa sufocar as liberdades democráticas constitucionais, vigentes desde o fim da tutela britânica sobre Hong Kong, em 1997, e o seu retorno à China.
No final da manifestação do dia 10, foram detidas 53 pessoas, entre as quais três Conselheiros de distrito “pró-democracia”, por participação numa “reunião não autorizada”. No mesmo dia, o Serviço público de rádio e televisão de Hong Kong (RTHK) informou que Kevin Yeung (secretário para a Educação de Hong Kong) se dirigiu a todos os directores de escola da região, declarando que os estudantes não deveriam cantar slogans ou canções políticas, nem formar cadeias humanas para protestar. Numa carta dirigida a todas as escolas primárias e secundárias, ele ameaçou aplicar a Lei de segurança nacional.
Contudo, o jornal South China Morning Post (de 12 de Junho), salientou: “Alunos rebeldes de Hong Kong ignoram a advertência do chefe da Educação a respeito das manifestações.”
Centenas de pessoas ocuparam as ruas à noite, e novas detenções ocorreram.
Praça Tiananmen
No dia 4 de Junho, milhares de pessoas já haviam ocupado o Parque Victoria para participar numa vigília anual à luz de velas, a fim de assinalar os 31 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen). A concentração fora proibida pela Polícia, e os participantes tiveram de saltar barreiras para se manifestarem.
O evento remete para factos decorrentes da reforma económica de 1988, com a qual foram aplicadas medidas de economia de mercado, recomendadas por Deng Xiaoping (principal dirigente da burocracia chinesa nessa época). Delas decorreram inflação e corrupção.
As manifestações de estudantes e operários para exigir a democracia, em 1989, ocorreram na praça Tiananmen, em Pequim, e em 180 cidades da China. Nessa altura, surgiram sindicatos independentes, formulando as suas reivindicações. A burocracia sentiu-se ameaçada e a 4 de Junho de 1989, a repressão – desencadeada por sua ordem – provocou mais de mil mortes e milhares de prisões.
No mês passado, o Parlamento da China aprovou legislação que criminaliza a subversão, a secessão, a ingerência externa e o terrorismo. A agência oficial chinesa Xinhua mencionou, no dia 12 de Junho, a decisão de várias organizações sindicais e grupos estudantis de organizar um plebiscito – inicialmente marcado para o dia 14 e depois adiado para 20 de Junho – sobre a realização de uma greve contra a Lei de segurança nacional.
Coligação discute plebiscito
A emissora de rádio RTHK informou que uma coligação de mais de vinte sindicatos e um grupo de estudantes anunciou, a 6 de Junho, a organização de um plebiscito, entre os seus militantes e filiados, sobre a oportunidade de convocar uma greve geral contra a Lei de segurança nacional, decidida pelo governo chinês para Hong Kong, que restringe as liberdades democráticas.
A aliança sindical conta com 23 organizações, dos sectores dos transportes, informática, restaurantes, contabilidade e saúde. A porta-voz da coligação, Cat Hou, qualificou a votação prevista como o “primeiro referendo sobre a greve geral” em Hong Kong.
A presidente da Confederação dos Sindicatos de Hong Kong (HKCTU), Carol Ng, deu apoio à proposta. Paralelamente, está planeada a organização de uma consulta similar entre os estudantes do Ensino secundário sobre uma possível greve das escolas.
A 14 de Junho, os Conselheiros “pró-democracia” – que controlam 17 Conselhos de distrito de Hong Kong – votaram, por unanimidade, uma moção pedindo a retirada da Lei de segurança nacional, aquando da próxima legislatura.
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Notícia construída a partir das crónicas de Albert Tarp, publicadas no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 608 e 609, de 10 e 17 de Junho de 2020 (respectivamente), do Partido Operário Independente de França.